Para quantos estão feridos por antigas divisões, resulta difícil
aceitar que os exortemos ao perdão e à reconciliação, porque pensam que
ignoramos a sua dor ou pretendemos fazer-lhes perder a memória e os ideais.
Mas, se virem o testemunho de comunidades autenticamente fraternas e
reconciliadas, isso é sempre uma luz que atrai. Por isso me dói muito comprovar
como nalgumas comunidades cristãs, e mesmo entre pessoas consagradas, se dá
espaço a várias formas de ódio, divisão, calúnia, difamação, vingança, ciúme, a
desejos de impor as próprias ideias a todo o custo, e até perseguições que
parecem uma implacável caça às bruxas. Quem queremos evangelizar com estes
comportamentos? (#100)
Este é um tema que me é particularmente caro e à volta do
qual elaborei a minha tese de mestrado, por isso interessa-me particularmente.
Quanto mais experiência tenho, mais acredito que o conceito cristão de perdão
(que é diferente do judaico e do muçulmano), é uma das coisas mais
“revolucionárias” que Cristo trouxe ao mundo. Hoje em dia partimos do princípio
que devemos perdoar, mesmo que não o façamos, mas isso nem sempre foi assim e
não é assim noutras culturas.
O Papa faz bem em ir directamente à ferida. Falar de perdão
é fácil e bonito, mas custa quando somos a parte ofendida e todos esperam de
nós essa atitude, quando nós nos sentimos merecedores de uma boa dose de
vingança, ou pelo menos ressentimento.
O que Francisco nos está a dizer é que esse ressentimento
não só nos mata por dentro, como é antievangélico. Uma comunidade de pessoas
que se perdoam uns aos outros é muito mais “sedutora” que uma comunidade em que
todos guardam ódiozinhos de estimação uns pelos outros.
A receita, diz o Papa, está em ser humilde até nas nossas
orações. Não esperemos logo um coração capaz de amar como Cristo amou...
sejamos mais modestos, basta rezar assim:
Pelo menos digamos ao Senhor: «Senhor, estou chateado com este, com
aquela. Peço-Vos por ele e por ela». Rezar pela pessoa com quem estamos
irritados é um belo passo rumo ao amor, e é um acto de evangelização. Façamo-lo
hoje mesmo. (#101)
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