Wednesday 4 December 2013

A Igreja Perseguida na Índia

George J. Marlin
Depois de romper com os seus laços coloniais com o Reino Unido, em 1947, a Índia, uma nação de 1,2 mil milhões de pessoas, organizou-se como uma república secular que assegura a liberdade de culto e de propagação da fé.

O Cristianismo na Índia data dos Actos dos Apóstolos, mas apenas 2,5% da população actual professa esta fé. O número total de católicos ascende aos 19,5 milhões.

Infelizmente, durante o século XXI a cláusula da liberdade religiosa na constituição indiana tem sido ignorada por fundamentalistas hindus que têm planeado, coordenado e levado a cabo perseguições anticristãs. No dia de Natal de 2008, por exemplo, mais de 100 igrejas e edifícios cristãos foram pilhados, danificados ou destruídos e mais de 400 casas de cristãos foram arrasadas.

Desde 2008 o centro dos terroristas hindus tem sido na aldeia de Kandhamal, situada junto à selva, no Estado de Orissa. Mais de 56 mil dos 117 mil cristãos que lá vivem foram expulsos das suas casas, com seis mil destas casas a serem incendiadas. Trezentas igrejas ou locais de culto foram profanadas ou destruídas.

Os cristãos estão a ser perseguidos não só por causa da sua fé, como acontece no Egipto e na Síria, mas porque se recusam a renunciá-la e a abraçar o Hinduísmo. O resultado e que milhares de indianos, incluindo padres, freiras e pastores, têm sido torturados de forma sádica. Muitos ficaram sem membros, outros foram queimados vivos. Mais de 100 perderam a vida pela fé.

Perante estes crimes hediondos, o arcebispo de Bombaím, Oswald Gracias, afirmou: “O sangue dos mártires sempre foi semente de cristãos. Este é o mistério da Cruz! Não tenho dúvidas de que Deus enviará muitas bênçãos sobre as pessoas de Orissa e da Índia em consequência do sofrimento dos cristãos de Kandhamal.”

Mas o preço é pesado. Na sua obra “Early Christians of the Twenty-first Century”, o jornalista premiado Anto Akkara, que visitou Kandhamal 16 vezes, relata a forma como a violência anticristã foi orquestrada e os testemunhos de vítimas e as suas famílias. O livro contém “uma colecção de mais de 100 verdadeiros testemunhos cristãos encharcados em sangue, testados e purificados através de um sofrimento inaudito”.

Akkara explica que a polícia limitou-se a observar enquanto as igrejas eram destruídas e como, em muitos casos, as autoridades se recusaram a registar a causa da morte como homicídio. Para evitar processos judiciais os terroristas hindus esconderam as provas. Os corpos dos mártires foram cremados ou lançados aos pântanos ou ribanceiras no meio da selva. Nos poucos casos que chegaram a tribunal, os fundamentalistas hindus foram rapidamente absolvidos por falta de provas.

Depois de meia dúzia de líderes cristãos, chefiados pelo Arcebispo Raphael Cheenath, de Cuttack-Bhubaneswar, ter confrontado o primeiro-ministro Manmohan Singh sobre a violência, Singh reconheceu publicamente que o que se passava era uma “vergonha nacional”, mas tomou poucas medidas no sentido de restaurar a confiança da comunidade cristã.

Cristãos em Kandhamal

Para os fiéis, a garantia constitucional de liberdade religiosa e igualdade perante a lei continua a ser um “slogan” vazio.

Há muitas histórias dramáticas no livro de Akkara, mas aquela que mais me marcou é a de um padre de 56 anos e uma freira de 28.

O padre Thomas Chellan, director do Centro Pastoral Divyajyoti e a sua assistente, a irmã Meena, conseguiram fugir por cima do muro do centro enquanto os terroristas hindus destruíam o complexo, que incluía uma igreja, um dormitório e outros serviços.

Mas no dia seguinte foram capturados. A cabeça de Chellan foi regada com petróleo mas no instante antes de lhe pegarem fogo decidiu-se não avançar. Em vez de o matarem, um grupo de 50 hindus espancou o padre e a freira. “Parecia uma via-sacra”, afirmou mais tarde o sacerdote.

Os seus carrascos despiram-nos e começaram a violar a irmã Meena. Depois conduziram os seus prisioneiros pelas ruas antes de tentarem obrigar o padre Chellan a violar a freira: “Quando recusei, continuaram a espancar-me e levaram-me até um gabinete governamental. Infelizmente, um grupo de cerca de 12 polícias estava a observar tudo sem fazer nada”.

Finalmente, um oficial da polícia levou-os para outra esquadra, a 12 quilómetros, onde acabou o seu suplício. No dia seguinte foram libertados e levados para Bombaím para serem tratados.

A irmã Meena, depois de recuperada da sua experiência traumática, recusou-se a permanecer em silêncio. Convocou uma conferência de imprensa em Nova Deli e, diante de 200 câmaras de televisão, exigiu que a sua violação fosse investigada. Descreveu tudo, cada detalhe grotesco, incluindo a forma como a polícia a tentou dissuadi-la de apresentar queixa depois dos exames médicos terem confirmado a violação.

“Talvez Deus quisesse que eu sofresse com o meu povo, tornando-me um instrumento para falar em nome das pessoas sem voz de Kandhamal”, afirmou à imprensa. Concluiu a conferência agradecendo publicamente a Deus “por me ter escolhido para sofrer esta humilhação, dando-me a oportunidade de sofrer pelas pessoas de Kandhamal. Tive a oportunidade de viver a experiência da crucifixão”.

A fé sólida da irmã Meena e de milhares de outros foi o que inspirou Anto Akkara a escrever o seu livro. Ele acredita que estas pessoas merecem ser conhecidas como “Cristãos Primitivos do Século XXI” porque se mantiveram fiéis “no meio da crueldade diabólica, da impunidade e da apatia do Estado”.


George J. Marlin é editor de “The Quotable Fulton Sheen” e autor de “The American Catholic Voter”. O seu mais recente livro chama-se “Narcissist Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na quarta-feira, 30 de Outubro de 2013)

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