Na secção sobre a Evangelização já escrevi sobre a
importância do conceito cristão de um Deus pessoal, de um Deus de relação. Isto
tem uma consequência lógica que revolucionou o mundo. Não é exagero.
Revolucionou mesmo. Nunca mais nada foi igual.
Se Deus nos ama a cada um, individualmente, é porque cada um
é “amável” por Deus. Não há maior dignidade. Todos somos infinitamente dignos
pelo mero facto de sermos. Não é pelo que fazemos, pelo que conquistamos ou
pelo que iremos ser. É por sermos.
Ninguém nos pode tirar
a dignidade que este amor infinito e inabalável nos confere. (#3)
Ninguém significa mesmo ninguém. Nem nós mesmos. Isto é
muito importante.
A crise financeira que
atravessamos faz-nos esquecer que, na sua origem, há uma crise antropológica
profunda: a negação da primazia do ser humano. (#55)
A Igreja deverá
iniciar os seus membros – sacerdotes, religiosos e leigos – nesta «arte do
acompanhamento», para que todos aprendam a descalçar sempre as sandálias diante
da terra sagrada do outro (#169)
Esta é uma passagem lindíssima. A “terra sagrada” do outro. Pensamos
nisto quando estamos no metro? No autocarro? O outro não é opositor e
concorrente. É terra sagrada, diante da qual nos devíamos descalçar...
Confessar que o Filho
de Deus assumiu a nossa carne humana significa que cada pessoa humana foi
elevada até ao próprio coração de Deus. Confessar que Jesus deu o seu sangue
por nós impede-nos de ter qualquer dúvida acerca do amor sem limites que
enobrece todo o ser humano. (#178)
Sempre me angustiou a
situação das pessoas que são objecto das diferentes formas de tráfico. Quem
dera que se ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos nós: «Onde está o teu
irmão?» (Gn 4, 9). Onde está o teu irmão escravo? Onde está o irmão que estás
matando cada dia na pequena fábrica clandestina, na rede da prostituição, nas
crianças usadas para a mendicidade, naquele que tem de trabalhar às escondidas
porque não foi regularizado? Não nos façamos de distraídos! (#211)
Entre estes seres
frágeis, de que a Igreja quer cuidar com predilecção, estão também os
nascituros, os mais inermes e inocentes de todos, a quem hoje se quer negar a
dignidade humana para poder fazer deles o que apetece, tirando-lhes a vida e
promovendo legislações para que ninguém o possa impedir (...) esta defesa da
vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano.
Supõe a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em
qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento. É fim em si mesmo, e
nunca um meio para resolver outras dificuldades. Se cai esta convicção, não
restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos direitos humanos,
que ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes dos poderosos de
turno. Por si só a razão é suficiente para se reconhecer o valor inviolável de
qualquer vida humana, mas, se a olhamos também a partir da fé, «toda a violação
da dignidade pessoal do ser humano clama por vingança junto de Deus e torna-se
ofensa ao Criador do homem». (#213)
Falo desta passagem mais à frente. Aqui não me preocupa
tanto o facto de se falar do aborto ou não, mas sim a justificação. O aborto não
é mau porque o nascituro é um coitadinho inocente. A inocência agrava, mas não é
o dado fulcral. Mais que inocente, o nascituro é dotado de uma dignidade que não
temos o direito de violar. E as consequências do atropelamento disto são terríveis
e de longo alcance. “Se cai esta
convicção, não restam fundamentos sólidos e permanentes para a defesa dos
direitos humanos, que ficariam sempre sujeitos às conveniências contingentes
dos poderosos de turno” Bingo.
Independentemente da
aparência, cada um é imensamente sagrado e merece o nosso afecto e a nossa
dedicação. Por isso, se consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já
justifica o dom da minha vida. É maravilhoso ser povo fiel de Deus. (#274)
Vale a pena dar a vida, esta minha vida que é o resultado de
tanto esforço, de tantos sacrifícios, de tanta gente, por apenas uma outra
pessoa. Porque ela é, e mais uma vez a belíssima linguagem, “imensamente
sagrada”. Imensamente.
Outros temas:
Para
Mim
No comments:
Post a Comment