Transcrição integral da entrevista feita a Dom Farès Maakaroun,
arcebispo do greco-melquitas no Brasil. A notícia está aqui. Para esta
entrevista contei com a ajuda inestimável de Philippe Gebara, a quem agradeço.
Quando falámos, D. Farès estava ainda no Líbano, onde esteve a participar no sínodo da Igreja Melquita.
Foi discutida a questão da Síria durante o Sínodo?
O Sínodo aconteceu no Líbano, na sede Patriarcal, a 50
quilómetros de Beirute. Participaram todos os bispos do Oriente e da Diáspora
também, da América, Canadá, Austrália e América
do Sul. Todos participaram menos os que estavam bem doentes.
Foi uma semana de encontros, de reflexão e, visto a situação
um pouco crítica no Oriente, especialmente na Síria, e como de greco-melquitas
já morreram pelo menos 200 a 300 pessoas, e há bastantes pessoas que já saíram
das suas aldeias, estudámos a possibilidade de como fazer para poder lançar uma
chamada ao mundo inteiro, pela paz, pela fraternidade, pela ajuda mútua, porque
todo o mundo está a precisar de amor, de carinho, de amor, de comida e de
bebida, de padres para cuidar deles. Há padres que precisam de ajuda, porque a
maioria, em algumas regiões, não têm possibilidades de ter sequer um salário
mínimo para viver.
Estudámos um pouco esta situação complicada e pedimos muitas
orações aos responsáveis de todo o lado, de permitir um pouco mais à região, de
trabalhar a humanidade, aos homens de boa-fé, de boa vontade, de trabalhar bem,
para que a paz possa reinar em todo o lugar, porque perder tudo seria algo
prejudicial para todos.
Discutimos essa situação e também estamos tentando colocar
bispos onde faltam, mesmo dentro da Síria, porque em muitas regiões a paz reina
completamente, não têm nada de especial, mas há regiões que são um pouco
críticas e faltam dois* bispos na Síria. Enviámos os nomes para o Vaticano e
estamos à espera de confirmação.
No início das revoltas a Igreja Melquita teve uma posição
muito cautelosa e parecia estar com algum medo do que poderia acontecer se de
facto fosse derrubado o regime.
Somos cristãos do Oriente. Somos árabes. Somos sírios,
libaneses, iraquianos, egípcios, jordanianos, palestinianos. Não somos
estrangeiros aqui, é nossa terra. Sempre os cristãos tentaram ser cidadãos
exemplares em todos os lugares. Mas com esta situação complicada ninguém sabe o
que está a acontecer. Pedimos às forças mundiais para nos deixarem em paz ou
para nos ajudarem para permitir a paz. Ninguém sabe o que o amanhã pode trazer,
nem o que uma troca de regime pode dar. Tome-se o exemplo do Iraque, que é
muito triste. Não queremos um Iraque em todas as regiões. Hoje, depois de anos
e anos, centenas de pessoas morrem todos os dias. Queremos a paz, o amor e o
perdão. Vamos continuar a rezar, a amar e a perdoar a todos.
Tem havido relatos de perseguição aos cristãos por parte
dos opositores ao regime. Confirma isso?
Não tem casos muito especiais, mas quando há pessoas a
morrer, um tipo de guerra aqui ou ali, todos perdem, sejam cristãos ou não. Mas
como os cristãos não participam, não andam armados, eles ficam na situação de
perder tudo. Nós olhamos ao exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, levado à
cruz, sim, mas sabemos que na final a religião vai vencer, a fé vai vencer, o
bem vai vencer o mal. Com a graça de Deus, a graça da Virgem Maria nossa mãe,
mãe de todos nós, respeitada também pelo mundo muçulmano, temos muita esperança
que apesar dos feridos e dos mortos, vamos ter no final uma cura.
Acredita que essa paz que tanto deseja é possível ainda
com o regime actual no poder?
Não entendo bem a política, mas entendo bem as coisas do
céu. E com a ajuda do Senhor ninguém sabe. Nosso Senhor venceu a morte pela
morte. Tudo é possível com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo.
*Por erro do entrevistador, numa versão anterior lia-se que faltavam dez bispos na Síria. O som da entrevista não estava totalmente perceptível, mas a Igreja Melquita teve a bondade de me enviar uma correcção a esse respeito. É de realçar que dos dois que faltavam, o novo bispo de Homs já viu a sua nomeação confirmada pelo Vaticano.
*Por erro do entrevistador, numa versão anterior lia-se que faltavam dez bispos na Síria. O som da entrevista não estava totalmente perceptível, mas a Igreja Melquita teve a bondade de me enviar uma correcção a esse respeito. É de realçar que dos dois que faltavam, o novo bispo de Homs já viu a sua nomeação confirmada pelo Vaticano.
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