Persistência... e paciência! |
Recapitulando, Roma e a Sociedade têm estado em diálogo há
alguns anos. Finda a fase de discussão, Roma propôs um “preâmbulo doutrinal”
aos tradicionalistas, que estes deviam subscrever para serem reintegrados. Depois
de uma primeira finta, acabaram por enviar o documento assinado, mas com
algumas alterações.
As alterações foram vistas pela Congregação para a Doutrina
da Fé, que submeteu a opinião ao Papa. Corre o rumor que o Papa já estaria a
par do documento antes e que teria dado o seu beneplácito, indicando que a CDF
não deveria levantar problemas. Tudo parecia muito bem encaminhado, mesmo nas
entrevistas concedidas pelo bispo Bernard Fellay, superior-geral da SSPX, era
isso que se entendia. Até já se falava da estrutura que iria ser proposta, uma
prelatura pessoal do género que tem o Opus Dei.
Esta semana que passou, Bernard Fellay foi a Roma
encontrar-se com a CDF; estaria iminente a assinatura final do acordo? Especulou-se
que sim, mas algo se passou. Fellay saiu de Roma sem acordo assinado e com um
documento alterado que deve agora ser novamente estudado pelos tradicionalistas
antes de poderem assinar de vez. É verdade, todavia, que também saiu de Roma com
uma proposta já detalhada de estrutura de prelatura pessoal, o que começa a dar
consistência ao cenário pós-reentrada. Mas só há pós-reentrada se houver
reentrada... haverá?
O que se passou na reunião? Que alterações foram feitas e a
mando de quem? Claro que já correm muitos boatos e teorias, desde pressões da
ala liberal da curia romana à omnipresente e conspirativa maçonaria, fala-se de
tudo. Uma das teorias que parece credível é que Bento XVI terá rejeitado o
termo “erros do concílio” que estava no documento assinado por Fellay, o que se
compreende. Liberdade de interpretação é uma coisa, falar de erros é outra.
Entretanto a oposição a Fellay dentro da SSPX, por parte
daqueles que estão decididamente contra uma reunificação, aumenta de tom. Um
dos outros três bispos já estava colocado de parte à partida. Richard
Williamson, o mesmo que duvida da existência das câmaras de gás no holocausto, é
ferozmente contra uma reunificação. Mas Bernard Tissier de Mallerais também se
colocou definitivamente de fora, chegando a acusar Bento XVI de ser herege. Um
abaixo-assinado posto a circular entre os fiéis também ia nesse sentido,
embora, na última vez que tenha visto, só tivesse umas 200 assinaturas.
Tissier de Mallerais "não gosta" disto |
Por outro lado, não tem havido falta de golpes de teatro e
de bluff em todo este processo. Será este prolongamento uma forma de dar a
entender, tanto de um lado como do outro, que se espremeram as negociações ao máximo,
para que no fim ambos possam dizer que conseguiram o melhor acordo possível? Talvez,
é possível, era bom.
Agora, segundo algumas fontes, Fellay apenas tomará uma
decisão depois do capítulo geral da SSPX, que tem lugar em meados de Julho. A
decisão cabe-lhe sempre a ele, mas é verdade que essa reunião, que
evidentemente será dominada por esta questão, poderá servir para colocar pressão
sobre ele, tanto num sentido como no outro. Não sou de maneira nenhuma
especialista quanto às dinâmicas internas da SSPX, mas pelo que vou
depreendendo, apesar dos outros três bispos serem contra (dois de certeza, um
parece tender para aí), uma grande parte dos superiores distritais, que são
sacerdotes, estão com Fellay. Ou seja, o capítulo tanto pode dar força a Fellay
como pode esvaziar a sua autoridade moral. Claro que seria melhor chegar lá com
o facto consumado, mas não deve ser possível.
O que resta? Rezar! Convém a ambos os lados compreender que
esta reunificação beneficia da boa-vontade de Bento XVI e de Fellay, mas só terá
hipóteses se Deus assim quiser. Rezar, rezar, rezar, para que seja feita a Sua
vontade, seja ela qual for...
Nós por cá iremos acompanhando.
Filipe d’Avillez
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