Friday, 29 June 2012

Cristãos não são estrangeiros na Síria, nem querem "outro Iraque"


Com votos de um bom dia de
São Pedro e de São Paulo!
Continuamos a tentar trazer-vos notícias da Síria, país que continua a ferro e fogo, num conflito com muitos aspectos religiosos. Esta semana falei com um Arcebispo Melquita que nos ajuda a compreender o que se passa. Como habitualmente, podem ler a transcrição completa da entrevista aqui.

Atenção para quem vive nos arredores do Porto, decorre no Domingo um evento solidário que para além de ajudar crianças institucionalizadas, promete ser um bom passeio.

Ainda na onda solidária, a Igreja Lusitana, ramo português da Igreja Anglicana, organiza uma festa na sua sede em Vila Nova de Gaia, amanhã a partir das 18h. Os fundos revertem para o trabalho social.


Esta semana começamos a trazer-vos sugestões de cinema, da autoria de Margarida Ataíde, que faz crítica para a agência Ecclesia. Esta semana temos “O Moínho e a Cruz”.

Não queremos um Iraque em todas as regiões


Transcrição integral da entrevista feita a Dom Farès Maakaroun, arcebispo do greco-melquitas no Brasil. A notícia está aqui. Para esta entrevista contei com a ajuda inestimável de Philippe Gebara, a quem agradeço.

Quando falámos, D. Farès estava ainda no Líbano, onde esteve a participar no sínodo da Igreja Melquita.

Foi discutida a questão da Síria durante o Sínodo?
O Sínodo aconteceu no Líbano, na sede Patriarcal, a 50 quilómetros de Beirute. Participaram todos os bispos do Oriente e da Diáspora também, da América, Canadá, Austrália e América do Sul. Todos participaram menos os que estavam bem doentes.

Foi uma semana de encontros, de reflexão e, visto a situação um pouco crítica no Oriente, especialmente na Síria, e como de greco-melquitas já morreram pelo menos 200 a 300 pessoas, e há bastantes pessoas que já saíram das suas aldeias, estudámos a possibilidade de como fazer para poder lançar uma chamada ao mundo inteiro, pela paz, pela fraternidade, pela ajuda mútua, porque todo o mundo está a precisar de amor, de carinho, de amor, de comida e de bebida, de padres para cuidar deles. Há padres que precisam de ajuda, porque a maioria, em algumas regiões, não têm possibilidades de ter sequer um salário mínimo para viver.

Estudámos um pouco esta situação complicada e pedimos muitas orações aos responsáveis de todo o lado, de permitir um pouco mais à região, de trabalhar a humanidade, aos homens de boa-fé, de boa vontade, de trabalhar bem, para que a paz possa reinar em todo o lugar, porque perder tudo seria algo prejudicial para todos.

Discutimos essa situação e também estamos tentando colocar bispos onde faltam, mesmo dentro da Síria, porque em muitas regiões a paz reina completamente, não têm nada de especial, mas há regiões que são um pouco críticas e faltam dois* bispos na Síria. Enviámos os nomes para o Vaticano e estamos à espera de confirmação.

No início das revoltas a Igreja Melquita teve uma posição muito cautelosa e parecia estar com algum medo do que poderia acontecer se de facto fosse derrubado o regime.
Somos cristãos do Oriente. Somos árabes. Somos sírios, libaneses, iraquianos, egípcios, jordanianos, palestinianos. Não somos estrangeiros aqui, é nossa terra. Sempre os cristãos tentaram ser cidadãos exemplares em todos os lugares. Mas com esta situação complicada ninguém sabe o que está a acontecer. Pedimos às forças mundiais para nos deixarem em paz ou para nos ajudarem para permitir a paz. Ninguém sabe o que o amanhã pode trazer, nem o que uma troca de regime pode dar. Tome-se o exemplo do Iraque, que é muito triste. Não queremos um Iraque em todas as regiões. Hoje, depois de anos e anos, centenas de pessoas morrem todos os dias. Queremos a paz, o amor e o perdão. Vamos continuar a rezar, a amar e a perdoar a todos.

Tem havido relatos de perseguição aos cristãos por parte dos opositores ao regime. Confirma isso?
Não tem casos muito especiais, mas quando há pessoas a morrer, um tipo de guerra aqui ou ali, todos perdem, sejam cristãos ou não. Mas como os cristãos não participam, não andam armados, eles ficam na situação de perder tudo. Nós olhamos ao exemplo de Nosso Senhor Jesus Cristo, levado à cruz, sim, mas sabemos que na final a religião vai vencer, a fé vai vencer, o bem vai vencer o mal. Com a graça de Deus, a graça da Virgem Maria nossa mãe, mãe de todos nós, respeitada também pelo mundo muçulmano, temos muita esperança que apesar dos feridos e dos mortos, vamos ter no final uma cura.

Acredita que essa paz que tanto deseja é possível ainda com o regime actual no poder?
Não entendo bem a política, mas entendo bem as coisas do céu. E com a ajuda do Senhor ninguém sabe. Nosso Senhor venceu a morte pela morte. Tudo é possível com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo.

*Por erro do entrevistador, numa versão anterior lia-se que faltavam dez bispos na Síria. O som da entrevista não estava totalmente perceptível, mas a Igreja Melquita teve a bondade de me enviar uma correcção a esse respeito. É de realçar que dos dois que faltavam, o novo bispo de Homs já viu a sua nomeação confirmada pelo Vaticano.

Thursday, 28 June 2012

Pino Puglisi, padroeiro dos anti-mafiosos


O Egipto poderá ter um vice-presidente cristão muito em breve. É o que diz o recém-eleito presidente, que vem da irmandade islâmica… seria uma evolução interessante!


Um tribunal alemão distrital está a colocar em causa o direito dos pais de circuncidarem os seus filhos. Judeus e muçulmanos não estão contentes.



Paz em Moçambique, Monty Python no Blogue




Wednesday, 27 June 2012

A Igreja no processo de paz em Moçambique

Transcrição completa da entrevista a D. Jaime Gonçalves, a propósito do prémio Fé e Liberdade. Ver notícia aqui.

Ficou surpreendido com este prémio?
Foi uma surpresa na medida em que nunca esperei que eu pudesse merecer ou ser considerado merecedor de um prémio como este. Agora que estou em Lisboa verifico que é um prémio muito bem considerado, nos meios da Universidade Católica e no IEP. Mesmo em Moçambique, a notícia que foi dada surpreendeu muita gente e causou muita admiração. Pode ser que as pessoas comecem a apreciar este gesto da UCP em conceder-me tal prémio por estas circunstâncias.

Circunstâncias essas que têm a ver com o processo de paz. Qual foi o seu envolvimento?
O processo de paz em começou, por iniciativa da Conferência Episcopal de Moçambique em 1987, quando a conferência, desafiando as pessoas e até mesmo o Governo, que propunha uma solução militar para a guerra civil que sofríamos no país, propôs o diálogo. Muitos não acreditavam que isso pudesse ser a solução, mas nós víamos que isso era a solução e decidimos fazer alguma coisa para provar que o caminho era o diálogo. Decidimos secretamente contactar a Renamo, que então estava nas matas, era preciso ir falar com ela secretamente, porque era proibido contactar os “bandidos armados” como eram conhecidos os guerrilheiros da Renamo. Por isso decidimos contactar a Renamo secretamente. Fui escolhido eu, juntamente com o Sr. D. Alexandre José Maria Santos, Arcebispo de Maputo.

Empenhámo-nos e fomos procurar a Renamo. Ele descobriu a via de Nairobi, descobriu que era possível pelo Governo do Quénia. Eu acabei por ter a possibilidade de ir mesmo ao QG da Renamo e lá encontrei o próprio presidente, Afonso Dhlakama. Lá foi proposta a ideia de diálogo para resolver o conflito armado no país.

Acabámos por contactar a Renamo e tivemos algumas reuniões, favorecidas pelo Governo do Quénia, em Nairobi.

O processo de Nairobi foi-se desenvolvendo a ponto de, no encontro com o presidente da Renamo em Nairobi, já foi com uma delegação do Conselho Cristão de Moçambique. Então o Presidente da República interrompeu a negociação com a Renamo através dos Bispos e preferiu nomear os presidentes do Zimbabué e do Quénia como negociadores, e nós ficámos fora.

Qual foi a reacção do Governo quando soube que já tinha havido contacto dos bispos com a Renamo?
Por parte dos bispos havia muito receio de dizer que tínhamos tido contacto com os rebeldes, porque naquela altura havia a lei da traição. Quem falasse com a Renamo era traidor, e os traidores eram punidos com a morte. Portanto havia receio de comunicar isso, mas acabámos por fazê-lo, comunicámos ao presidente, e ficámos surpreendidos porque o Governo aceitou que tivéssemos falado com a Renamo, com vista à reconciliação. Mas também o próprio presidente ficou surpreendido quando lhe comunicámos que a Renamo acreditava mais numa solução negociada do que numa solução militar da situação. De modo que ambas as partes ficaram surpreendidas com o bom aspecto da iniciativa dos bispos. Foi deste modo que continuámos o trabalho de pôr as duas partes na mesa das conversações.

Estava a dizer que houve a decisão de afastar os bispos do processo. Como é que isso correu?
Os dois negociadores que começaram a trabalhar em Setembro de 89, chegaram á conclusão que o diálogo não podia ser indirecto. Era melhor que a Renamo e a Frelimo negociassem directamente. Foi então que voltámos a um trabalho diplomático para convencer as duas partes a encontrarem-se. Foi difícil porque eles não confiavam uns nos outros. Usámos a diplomacia possível para ver se o Presidente dos EUA podia influenciar o presidente de Moçambique a aceitar um diálogo directo. No dia 9 de Março de 1990 o nosso presidente anunciou em Washington que aceitava negociar directamente com a Renamo. Podemos considerar o bom fruto da diplomacia então feita. Ficámos aliviados, porque assim podiam negociar directamente. Ficou a questão do lugar, mas acabámos por propor Roma para conversações, porque todos os outros lugares que cada um propunha não eram aceites pela outra parte.

Acabámos por propor Roma naquela esperança para a Renamo que tinha um grande problema de confiança no Governo de Moçambique, porque temia ser traído pelo Governo. A Renamo aceitou as conversações em Roma naquela confiança de que em Roma está o Vaticano e o Vaticano pode influenciar as partes a fazer as negociações como deve ser.

A Santa Sé nomeou-me a mim para as negociações, uma vez que estava já dentro do processo. Foi assim que começámos as negociações no Vaticano em Julho de 1990.

Daí até à paz foi quanto tempo?
Foram quase dois anos até 1992. Foi um trabalho delicado, porque tratava-se de convencer as partes a confiar uns nos outros. Foi um dos grandes temas difíceis de resolver. O grande trunfo foi saber que o Vaticano estava a seguir as conversações. João Paulo II nomeou um secretário para seguir as conversações.

Segundo era preciso convencer as partes a aceitar o que estava escrito no acordo. Por exemplo, para o quadro das conversações era preciso dizer que a Renamo reconhecia o Governo e que o Governo reconhecia a Renamo, mas ambos rejeitaram. Foi preciso muito trabalho para os convencer a aceitarem-se mutuamente.

Tudo isto só terá sido possível porque a Igreja era considerada equidistante, politicamente, foi difícil manter essa independência durante os anos da guerra?
Para a Igreja, de facto, estava numa situação difícil na medida em que quando o país ficou independente o novo Governo escolheu o Marxismo como filosofia da sociedade. E as teses do Marxismo em relação à religião e à liberdade religiosa eram muito complicadas. Recusava-se o direito à liberdade religiosa, e a Igreja defendia essa liberdade. Tendo experimentado estar ao lado do Governo no tempo colonial, por imperativo da sociedade de então, o acordo missionário, a concordata, devido a essas circunstâncias históricas, considerámos que não era a melhor via estarmos ligados a um regime político, por isso a Igreja decidiu distanciar-se da revolução moçambicana. Do lado da Renamo, a Igreja de facto não podia pactuar com a violência, sobretudo com a forma de terrorismo que destruía bens e a vida das pessoas para justificar as suas teses políticas. Por isso a Igreja não esteve aliada nem ao regime nem à Renamo. Por isso conseguimos, com uma certa diplomacia, ficar o meio para podermos trabalhar na pacificação do país.

Sabemos que se estabeleceu a paz. 20 anos mais tarde, como é que está o país?
A Paz social em Moçambique está segura. São já 20 anos de paz, e criaram-se condições para planear o desenvolvimento do país. Os governos que sucederam ao acordo de paz estão preocupados com o desenvolvimento do país, com a educação, multiplicou-se o ensino superior. De pequenos projectos de desenvolvimento fala-se hoje de megaprojectos. O regime toma o risco de explorar a riqueza do país, não com as próprias mãos, mas com as mãos dos investidores, o que faz com que a riqueza do país passe para as mãos dos estrangeiros. O que por um lado pode ser bom, na medida em que a riqueza não fica improdutiva, mas começa a melhorar a vida da população, mas por outro lado, o país fica demasiado dependente dos donos dos megaprojectos.

Portanto estamos numa situação de paz que nos permite tudo isto. Contudo há uma pequena ferida, no corpo da paz em Moçambique, uma ferida que veio por não cumprimento de um ponto que tínhamos posto no acordo geral de paz. Creio que já se ouviu pelo mundo fora a questão dos homens armados da Renamo. Essa ferida que ainda continua até hoje consistem em que no acordo geral de paz, previu-se que a segurança da Renamo seria feita por homens da Renamo, por razões de confiança. Assim como os homens do Governo teriam a segurança dos homens do Governo. Mas como um país não pode ter duas seguranças, depois das eleições o novo Governo havia de pedir os nomes dos homens da segurança da Renamo para integrar na polícia nacional, depois devia preparar os homens da Renamo para serem seguranças na cidade, porque eles eram seguranças na Mata, o que significava que depois de algum tempo teríamos só uma segurança no país.

A ferida surge quando o Governo, no momento próprio de integrar os homens da Renamo na segurança, diz que não aceita misturas, não aceita os homens da Renamo. Para complicar a situação também tinha ficado estipulado que o novo exército seria composto por um número igual de homens da Renamo e do Governo. Mas no momento de unir as forças o Governo disse que só aceitava uma parte dos homens da Renamo. De modo que a Renamo ficou com esses homens e ficou com os seus antigos homens de segurança, e não sabia o que fazer com eles. Esses homens estão lá no seu antigo quartel militar. Que fazer deles? Ao longo destes 20 anos temos tentado a nível nacional resolver o problema, porque eles estão armados. Têm as suas antigas armas. É nesse sentido que temos uma ferida no processo de paz. Eles estão parados, não são aceites pelo Governo, também a Renamo não os pode manter, porque é muito custoso. Por isso há tentativas de pensar voltar à violência, o que não é aconselhável, porque a violência não é aconselhável. Temos de pensar nessa situação dos homens que estão aí sem um futuro claro de integração.

Estamos a falar de quantos homens?
Eles não nos dizem quantos são, mas devem ser pelo menos 1000.

O vosso modelo foi aplicado na África Austral?
De facto na África Austral os bispos comungaram do mesmo plano sobretudo em 1988 quando se reuniram para fazer a Assembleia e receberam o Papa. Nessa altura fizeram um plano comum de intervenção na solução dos conflitos da Zona. Nessa altura já sabiam que caminhos Moçambique tinha assumido. Que tínhamos ido à procura da Renamo. Então, sabendo-se que havia iniciativas nesta linha os bispos de África Austral seguiram o mesmo caminho. O que Moçambique começou a fazer e que comunicou aos outros passou de facto a ser programa para os bispos da zona. Portanto a África Austral está hoje pacífica e reconciliada com a intervenção significativa dos bispos da zona.

Como está Moçambique em termos de religião?
A conferência Episcopal, com a sua intervenção neste processo de pacificação, ganhou muita aceitação junto da população. A Igreja tomou iniciativas consequentes no sentido de consolidar a paz para a qual tinha cooperado. Depois do acordo de paz a Igreja intensificou a evangelização na medida em que tratou de recuperar as missões que tinham sido nacionalizadas e impedidas de comunicação. Com a recuperação das missões são recuperadas as escolas das missões, que não são poucas, os centros de saúde e são recuperadas as actividades agro-pecuárias que no tempo bom da colónia serviam de apoio ao trabalho da missão. Na obra da evangelização a Igreja assume esse aspecto que alegra ao povo, ver a missão de novo nas suas mãos.

Outro trabalho que a Igreja assumiu foi de preparar cidadãos para o novo Moçambique, que precisa de desenvolvimento, que precisa de superar desafios vindos do acordo de paz. Criou-se a Universidade Católica de Moçambique, criando faculdades que possam responder às necessidades do povo. Era preciso criar no país um Estado de direito, e daí a Faculdade de Direito. A Guerra empobreceu o país, então criámos a faculdade de Economia. Criámos a Faculdade de agricultura para a alimentação. Havia muita doença e por isso criámos a faculdade de ciências de saúde. Depois do acordo tivemos esta possibilidade de trabalho de responder aos desafios novos, com a Universidade Católica de Moçambique, que entretanto se multiplicou e está expandida em todo o país. A conferência episcopal também tratou de assegurar um diálogo positivo com o regime depois do acordo de paz. Continua a conferência a ensinar às pessoas a doutrina social da Igreja, temos semanas teológicas, semanas sociais, que ajudam a educar o povo nas grandes teses da sociedade, como a democracia, as lutas contra a pobreza, os desafios da convivência, da solidariedade, da fraternidade, da igualdade de todos.

Assim, depois do acordo de paz a Igreja encontra-se num ambiente que favorece a evangelização do país.

Tem havido aumento de vocações?
Há muitas vocações, sobretudo para o clero. Já como resultado de um trabalho que a conferência assumiu, de fazer a pastoral vocacional. Criámos seminários e organizámos a vida dos seminários. Criou-se em todas as dioceses uma simpatia pela vida sacerdotal. Os jovens não estranham ouvir falar da vida religiosa, o que é muito positivo para as vocações. Neste momento o ambiente das vocações é muito bom. Estamos a ter muitas vocações.

Alguns São Mais “Outro” que Outros


Randall Smith
Recentemente em Inglaterra tive uma conversa com uma simpática senhora britânica que é anglicana, mas cujo marido é católico, e que tinha decidido não educar a filha na Igreja Católica porque, segundo ela: “Seria incapaz de educar a minha filha numa religião que proíbe a contracepção”.

Fez-me lembrar aquela cena de “O Sentido da Vida”, dos Monty Python, em que um marido protestante comenta para a sua mulher, enquanto vê as hordas de crianças católicas na casa do outro lado da rua:

“Olha-me só aqueles Católicos nojentos. A encher o mundo com pessoas que não têm dinheiro para alimentar.”

 “Nós somos o quê querido?”

“Protestantes, com muito orgulho.”

 “Porque é que eles têm tantos filhos?”

“Porque cada vez que têm relações sexuais, têm de ter um bebé.”

“Mas é o mesmo connosco, Harry.”

“O que é que queres dizer com isso?”

“Quero dizer, temos dois filhos e só tivemos relações sexuais duas vezes.”

“Essa não é a questão… Podemos ter relações sempre que quisermos.”

“A sério?”, pergunta a mulher, algo confusa.

 “Sim”, responde o marido, empertigado mas desafiador, enquanto continua a insistir com os benefícios da contracepção: “Ser protestante é isso mesmo. É por isso que é a Igreja certa para mim. É por isso que é a Igreja certa para todo aquele que respeita o indivíduo e a seu direito de escolher livremente por si. Quando Martinho Lutero pregou o seu protesto na porta da igreja em 1517, poderá não ter percebido a significância do que estava a fazer, mas passados quatrocentos anos, graças a ele querida, eu posso colocar o que bem entender no meu Zé Tomás.”

Passados 400 anos, às vezes parece que de facto é a isso que se resume o Protestantismo – aliás, o ser americano: Contracepção. Não sei se Lutero ficaria muito satisfeito.

Seja como for, não pude deixar de pensar que se tratava de um pensamento estranho para uma mãe. Enquanto contemplava a sua filhota, a brincar no berço, a olhar para ela com aqueles olhos grandes e redondos, a mãe disse para si mesma exactamente o quê?:

“Não posso educar esta criança como católica, porque quero garantir que possa ter relações sexuais com homens que não sentem qualquer compromisso duradouro com ela?”

“Quero que a minha filha cresça para ser um objecto de prazer sexual para homens sem ter de os maçar com preocupações sobre a sua fertilidade?”

“Não suporto a ideia de que sejam negadas à minha filha os prazeres da fornicação?”



Suponho que não foi nada disto, pelo menos não de forma explícita, embora esses sejam os objectivos que estava a desejar para a sua filha, independentemente das intenções.

Não, suponho que estava a pensar sobre “respeitar o indivíduo e o seu direito a escolher”. Mas quem é que escolhe de facto? A contracepção não é, tantas vezes, mais um argumento para levar as mulheres para a cama? Não é por isso que os maiores defensores da contracepção são homens entre os 14 e os 35?

Mas o que foi verdadeiramente interessante sobre esta inglesa foi a sua reacção quando se falou do Islão. “Não, o Islão é uma religião fantástica”, insistiu. “Tantas pessoas compreendem mal o Islão. Não me importava nada que a minha filha se tornasse muçulmana”.

A sério? Véus? Burqas? Noivas menores? Divórcio para os homens mas não para as mulheres? Não queria estragar as coisas, informando-a de que os muçulmanos também não têm uma grande opinião sobre a contracepção. Ou que os muçulmanos têm sido os principais aliados do Vaticano em tentar impedir as Nações Unidas de importar contraceptivos e serviços abortivos em massa para África.

Como esta simpática mãe inglesa, eu tenho um grande respeito pelo Islão. Mas a sua visão do Islão pareceu estranha vinda de alguém que não quer que a filha seja católica por causa da posição “restritiva” da Igreja no que diz respeito ao sexo.

George Orwell, em O Triunfo dos Porcos, inventou a expressão: “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros”. Na nossa era de respeito ostensivamente pluralista pelo “outro”, parece que alguns “outros” são mais “outro” que outros.

Quando um “outro” é suficientemente distante e diferente de nós que parece exótico e estranho – veja-se o exemplo do Islão, mas poderia ser o comunismo, o Hinduísmo ou o canibalismo – congratulamo-nos por termos a mente suficientemente aberta para o acolher.

O outro tipo de “outro”, porém, está demasiado próximo, é demasiado parecido connosco, para sentirmos a sua “alteridade”. É o mesmo tipo de miopia que nos leva a considerar “adoráveis” e “coloridas” as disfunções das famílias dos outros, enquanto os pequenos pecados das nossas parecem tão irritantes. A familiaridade leva ao desprezo.

Tinha sido bom se a actual adoração multicultural do “outro” tivesse entrado na moda uma geração mais cedo, quando os católicos estavam a ser perseguidos na Inglaterra e na Irlanda. Se o timing tivesse sido melhor, os Católicos dessa geração poderiam ter reclamado, orgulhosamente, o estatuto de “outro” vitimizado. Talvez o Catolicismo fosse considerado “fixe”, em vez de ser simplesmente discriminado.

Por outro lado, provavelmente não. O Catolicismo é difícil – traz exigências sérias – e isso nunca é popular. Ainda assim, talvez haja aqui uma abertura para a Igreja hoje. Em vez de tentar convencer toda a gente de que o Catolicismo não é de todo “estranho” ou “diferente” ou contracultura, talvez devêssemos caminhar na direcção contrária e tentar convencer toda a gente de que o Catolicismo é a coisa mais estranha, completamente “diferente” que existe – que é, na verdade, a única forma de ser verdadeiramente “contracultura”, verdadeiramente “outro” em relação ao que o mundo nos tenta obrigar a ser.

Esta abordagem não só teria melhor hipótese de sucesso que a abordagem de “não-se-preocupem-connosco-somos-iguais-a-toda-a-gente”, teria também, pelo menos, a virtude de ser honesta.


(Publicado pela primeira vez no Domingo, 24 de Junho 2012 em http://www.thecatholicthing.org)

Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

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Monday, 25 June 2012

Relações públicas, barbas e condenação histórica

Greg Burke bem tentou esconder-se,
mas o Vaticano contratou-o à mesma
Como tinha avisado, na sexta-feira não houve mail porque estive em Fátima para participar na interessantíssima Jornada da Pastoral da Cultura.
Algumas das notícias desse evento: 



O cardeal responsável pelo diálogo ecuménico insiste que o aniversário dos 500 anos da reforma protestante não é uma ocasião para festejos, porque “não se festeja o pecado”


E por fim, para os melómanos entre nós, um convite a não perder. Três dos maiores teólogos do passado recente, incluindo Bento XVI, discorrem sobre… Mozart! É depois de amanhã, às 18h30 na Livraria Ferin, em Lisboa.

Wednesday, 20 June 2012

Budistas zangados e bispos felizes

"Não está aqui ninguém do Tibete, pois não?"
A maior parte das pessoas não percebem sequer as leituras na missa, considera o Patriarca de Lisboa, que considera que a Igreja tem de melhorar a comunicação da sua mensagem.

O Papa condenou hoje a violência inter-religiosa na Nigéria. Ao fim de meses a matar cristãos os terroristas do Boko Haram terão conseguido a sua maior vitória até agora, levar os cristãos a retaliar, provocando assim um conflito em larga escala.

Apesar do clima de guerra entre os bispos americanos e Barack Obama ainda há algumas áreas de consenso. A legalização de imigrantes é um exemplo.


E a última coisa que se espera de um encontro de monges budistas é discórdia e acusações, mas foi o que se passou em Yeosu, pela delegação chinesa ter mandado expulsar os três delegados do Tibete.

Expondo o mito Zach Wahls

Austin Ruse
Os caniches de guerra foram soltos sobre um cientista social que se atreveu a analisar os dados das ciências sociais para determinar algo que antigamente nos parecia evidente: que crianças criadas em casas irregulares, sobretudo em casas onde existe perversão sexual, não se adaptam tão bem à vida como aquelas que são criadas como a natureza indica.

Não tenham dúvidas, os caniches podem ser agressivos. Arrancam a carne dos ossos. Podem matar.

Tem-se tornado banal dizer, nos últimos anos de debate sobre a homossexualidade, que as crianças criadas por homossexuais se safam tão bem como as que são criadas por mães e pais. De facto, há quem afirme que as crianças criadas por lésbicas se safam ainda melhor. Isto contraria a sabedoria de Woody Allen, que no filme Manhattan afirma: “Ena, criado por duas mães... a maioria mal consegue sobreviver a uma”.

Umas dúzias de estudos dizem comprovar que as crianças criadas por homens ou mulheres homossexuais se dão lindamente na vida. Estes estudos são citados em artigos de opinião, como testemunhos em processos legislativos e por fazedores de opinião na televisão. Os defensores dos homossexuais nunca, mas nunca, questionam a sua credibilidade. A maior parte até são “revistos por pares”, como se um estudo mal feito ficasse melhor depois de ter sido aprovado por pessoas ideologicamente idênticas aos seus autores.

O problema da maioria desses estudos é que não podem ser considerados autoritativos, por um sem número de razões. As amostras são demasiado reduzidas para extrapolar para uma população inteira. Alguns dos estudos olham apenas para uma mão cheia de “famílias” do mesmo sexo. Os estudos tendem a fixar-se apenas num momento isolado, isto é, não analisam as crianças ao longo dos anos. A amostra de inquiridos é auto-seleccionada, enquanto que para um estudo poder ser extrapolável (isto é, ser verdadeiramente científico), o universo de inquiridos deve ser seleccionado aleatoriamente.

Logo, nenhum dos estudos, ou estudos de estudos, pode ser usado para determinar com rigor se os filhos de homens ou mulheres homossexuais estão “mesmo bem”, ou até melhor que aquelas que são criadas naturalmente. Mas isto nunca impediu os defensores dos homossexuais de os citar interminavelmente durante os debates sobre o casamento homossexual.

Alguma vez estas dúvidas estatísticas foram levantadas por aqueles que defendem esse estilo de vida? A pergunta é pertinente precisamente porque um novo estudo que questiona todas as conclusões previamente referidas, tem sido analisado até ao tutano pelos activistas homossexuais. Tudo isto numa questão de dias desde que foi publicado na passada Segunda-feira [dia 11 de Junho].

O novo estudo é interessante porque o Dr. Mark Regnerus conseguiu analisar os dados já existentes de uma forma nova e muito cara. Este pobre cientista social da Universidade de Texas conseguiu gastar quase um milhão de dólares, na maior parte do Witherspoon Institute, a analisar os dados do inquérito nacional de probabilidade da Knowledge Networks.

Zach Walls entrevistado por Ellen DeGeneres
Nas palavras do activista pró-homossexual Jim Burroway:

“Este estudo tem uma vantagem, que a coloca à parte dos demais. Ao contrário de estudos prévios, o New Family Structures Study (NFSS) baseia-se numa população amostra de probabilidade nacional. Isto é o padrão mais elevado para os estudos de ciências sociais, é extremamente raro um estudo atingir esse nível. Tanto quanto sei, todos os estudos até à data sobre a parentalidade homossexual utilizam amostras de conveniência que não são representativas. Amostras de probabilidade nacional, ao contrário das amostras de conveniência, são importantes porque só elas é que podem ser extrapoladas para populações mais alargadas, uma vez que as características chave da amostra de probabilidade (em termos demográficos, etc.) correspondem aos da população em geral. As amostras de conveniência não servem para isso.”

De facto, o estudo de Regnerus examina perto de 3000 jovens adultos de oito estruturas familiares e avalia-os segundo quarenta categorias sociais e emocionais diferentes, concluindo que crianças que vivem, mesmo que em regime part-time, em casas sexualmente irregulares têm piores resultados em termos de educação, saúde física e mental, experiências com drogas, actividade criminal e felicidade em geral.

Surpreendentemente, os resultados mais negativos deram-se, já Woody Allen tinha avisado, entre os filhos de mães lésbicas. O estudo de Regnerus mostra resultados negativos para estes jovens adultos em 25 das 40 categorias, incluindo níveis muito mais altos de assédio sexual (23% das crianças de mães lésbicas foram tocadas sexualmente por um progenitor ou adulto, comparado com apenas 2% de crianças criadas por pais casados), piores índices de saúde física, depressão, utilização de marijuana e desemprego (69% dos filhos de lésbicas recebiam subsídios da segurança social, comparado com 17% de pais casados).

Horas depois de publicado o estudo, soltaram-se os cães. Alguém no New Republic publicou um artigo a pedir que o conceituado Regnerus fosse banido, sim banido, da praça pública.

Will Saletan escreveu no Salon.com que o estudo tinha grandes falhas a nível da caracterização dos inquiridos. Uma vez que a maioria deles vinham de famílias desunidas, o que o estudo mostrava era que as crianças de homossexuais só precisam é de casamentos duradouros e estáveis para se darem bem.

John Corvino, do New Republic, sugeriu que a definição de homosseuxal era tão lata que incluiria reclusos, prostitutas que atendem mulheres e até o pastor evangélico Ted Haggard que ocasionalmente teve relações sexuais com prostitutos sob influência de drogas. Mas como Maggie Gallagher mostrou no National Review, de facto nenhum destes exemplos seria considerado apto para inclusão no estudo.

Algum destes críticos alguma vez se deu ao trabalho de criticar os estudos metodologicamente falhos que alegam demonstrar que a parentalidade homossexual serve tão bem, se não melhor, que a parentalidade natural? Tanto quanto eu sei, não.

Mas podem ter a certeza de que este novo estudo, o mais sólido em termos metedológicos até à data, será atacado pela esquerda e pelos seus aliados nos media. Gallagher chama a isto o efeito Zach Walls, o escuteiro criado por lésbicas que tem sido apresentado por Letterman, Leno e DeGeneres como sendo a norma. O Zach Walls pode bem ser real, mas este novo estudo demonstra que apresentá-lo como sendo a norma é um mito.


(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 15 de Junho de 2012 em www.thecatholicthing.org)

Austin Ruse é presidente do Catholic Family & Human Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque e em Washington D.C., uma instituição de pesquisa que se concentra unicamente nas políticas sociais internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as dele e não reflectem necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.

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Tuesday, 19 June 2012

Agora vou fingir que sou Dan Brown...

D. Orani João Tempesta
A Igreja brasileira está preocupada com a segurança e os direitos dos índios da Amazónia. Para terem ideia, 50 são mortos por ano, outros 500 suicidam-se…

Também no Brasil está prestes a começar Cimeira da Terra. O Arcebispo do Rio de Janeiro (na foto) lidera a delegação da Santa Sé e já fez saber que ou muda o documento final, ou a Igreja não alinha.



Deixo-vos com um vídeo que vale bem a pena ver. Se pensam que as vossas discussões com os pais/filhos são complicadas, imaginem estar na posição deste jovem…

Olá, eu sou o meu tio...

Crises e conflitos geracionais todos tivemos... mas isto é outro nível

Watch My Reincarnation - Trailer on PBS. See more from POV.


Independentemente do que possamos pensar sobre a reencarnação ou sobre o Budismo, parece ser um documentário a não perder.

Monday, 18 June 2012

D. Albino Cleto RIP, São João Baptista idem

São João Baptista


Na Nigéria, mais do mesmo… outro Domingo, outro ataque a igrejas, mais 35 mortos. Esta semana com um agravante, os cristãos retaliaram e mataram cerca de uma dúzia de muçulmanos.

Na Bulgária há quase dois anos foram descobertas umas relíquias, alegadamente de São João Baptista. Muitos torceram o nariz, como se costuma dizer, se todas as relíquias daquele santo fossem verdadeiras, ele teria 6 cabeças e 12 mãos. Mas neste caso a história é mais credível…

Desde a semana passada houve desenvolvimentos no diálogo entre Roma e os tradicionalistas da Sociedade de São Pio X. Leia aqui um resumo do ponto da situação…

Roma e SSPX, em que pé estamos?


Persistência... e paciência!
Ao que parece enganaram-se todos os que esperavam uma solução para breve, e incluo-me a mim mesmo nesse lote. Só espero é que não se tenham enganado todos os que davam o acordo como certo... pelas últimas indicações as coisas ainda podem correr mal... esperemos que não, nem que seja por Bento XVI, que tanto investiu neste “reencontro” com os tradicionalistas da Sociedade de São Pio X.

Recapitulando, Roma e a Sociedade têm estado em diálogo há alguns anos. Finda a fase de discussão, Roma propôs um “preâmbulo doutrinal” aos tradicionalistas, que estes deviam subscrever para serem reintegrados. Depois de uma primeira finta, acabaram por enviar o documento assinado, mas com algumas alterações.

As alterações foram vistas pela Congregação para a Doutrina da Fé, que submeteu a opinião ao Papa. Corre o rumor que o Papa já estaria a par do documento antes e que teria dado o seu beneplácito, indicando que a CDF não deveria levantar problemas. Tudo parecia muito bem encaminhado, mesmo nas entrevistas concedidas pelo bispo Bernard Fellay, superior-geral da SSPX, era isso que se entendia. Até já se falava da estrutura que iria ser proposta, uma prelatura pessoal do género que tem o Opus Dei.

Esta semana que passou, Bernard Fellay foi a Roma encontrar-se com a CDF; estaria iminente a assinatura final do acordo? Especulou-se que sim, mas algo se passou. Fellay saiu de Roma sem acordo assinado e com um documento alterado que deve agora ser novamente estudado pelos tradicionalistas antes de poderem assinar de vez. É verdade, todavia, que também saiu de Roma com uma proposta já detalhada de estrutura de prelatura pessoal, o que começa a dar consistência ao cenário pós-reentrada. Mas só há pós-reentrada se houver reentrada... haverá?

O que se passou na reunião? Que alterações foram feitas e a mando de quem? Claro que já correm muitos boatos e teorias, desde pressões da ala liberal da curia romana à omnipresente e conspirativa maçonaria, fala-se de tudo. Uma das teorias que parece credível é que Bento XVI terá rejeitado o termo “erros do concílio” que estava no documento assinado por Fellay, o que se compreende. Liberdade de interpretação é uma coisa, falar de erros é outra.

Entretanto a oposição a Fellay dentro da SSPX, por parte daqueles que estão decididamente contra uma reunificação, aumenta de tom. Um dos outros três bispos já estava colocado de parte à partida. Richard Williamson, o mesmo que duvida da existência das câmaras de gás no holocausto, é ferozmente contra uma reunificação. Mas Bernard Tissier de Mallerais também se colocou definitivamente de fora, chegando a acusar Bento XVI de ser herege. Um abaixo-assinado posto a circular entre os fiéis também ia nesse sentido, embora, na última vez que tenha visto, só tivesse umas 200 assinaturas.

Tissier de Mallerais "não gosta" disto
Por outro lado, não tem havido falta de golpes de teatro e de bluff em todo este processo. Será este prolongamento uma forma de dar a entender, tanto de um lado como do outro, que se espremeram as negociações ao máximo, para que no fim ambos possam dizer que conseguiram o melhor acordo possível? Talvez, é possível, era bom.

Agora, segundo algumas fontes, Fellay apenas tomará uma decisão depois do capítulo geral da SSPX, que tem lugar em meados de Julho. A decisão cabe-lhe sempre a ele, mas é verdade que essa reunião, que evidentemente será dominada por esta questão, poderá servir para colocar pressão sobre ele, tanto num sentido como no outro. Não sou de maneira nenhuma especialista quanto às dinâmicas internas da SSPX, mas pelo que vou depreendendo, apesar dos outros três bispos serem contra (dois de certeza, um parece tender para aí), uma grande parte dos superiores distritais, que são sacerdotes, estão com Fellay. Ou seja, o capítulo tanto pode dar força a Fellay como pode esvaziar a sua autoridade moral. Claro que seria melhor chegar lá com o facto consumado, mas não deve ser possível.

O que resta? Rezar! Convém a ambos os lados compreender que esta reunificação beneficia da boa-vontade de Bento XVI e de Fellay, mas só terá hipóteses se Deus assim quiser. Rezar, rezar, rezar, para que seja feita a Sua vontade, seja ela qual for...

Nós por cá iremos acompanhando.

Filipe d’Avillez

Tuesday, 12 June 2012

Budistas e muçulmanos em guerra, anglicanos preocupados


You talkin' to me?
Bento XVI teve um dia preenchido ontem, com tempo para falar aos futuros diplomatas da Santa Sé, manifestar-se contra uma cultura em que a mentira se disfarça de verdade, e até da importância de capelas nos aeroportos




Salvo alguma notícia crucial este será o último mail da semana. Aproveito para vos convidar, em nome do autor, para o lançamento do livro: “A Vida Numa Palavra – Uma nova leitura do Evangelho de São João”, do Frei Bernardo Corrêa d’Almeida. Dia 15 em Lisboa, dia 20 no Porto. Cliquem nos convites para aumentar.
Convite Lisboa

Convite Porto

O que significa, e o que não significa, a reconciliação com a SSPX


por David G. Bonagura, Jr. 
Poucas coisas levam os católicos a esqucer o preceito da caridade mais rapidamente do que uma discussão sobre a Sociedade de São Pio X (SSPX), o grupo tradicionalista de padres e bispos que, devido à sua oposição ao Concílio Vaticano II e consequente turbulência, permanecem fora da estrutura canónica da Igreja.

O Papa Bento XVI, tendo tomado o leme no processo de restaurar a comunhão jurídica da SSPX ao longo do último quarto de século, tornou essa reconciliação uma prioridade do seu pontificado. Tudo indica que um anúncio formal de reconhecimento está próximo.

A reconciliação com a SSPX ficará entre as grandes conquistas do pontificado de Bento XVI, com implicações duradouras para a Igreja. Mas na histeria que certamente se seguirá ao anúncio formal, aquilo que é verdadeiramente importante ficará perdido por entre as polítiquices partidárias internas da Igreja.

À direita, alguns católicos tradicionalistas rejubilarão, declarando vitória: Roma modernista voltou a si e apoia o que resta da fé. À esquerda, onde se prefere sentar à mesma mesa que Lutero a partilhar uma Igreja com o líder da SSPX, Bernard Fellay, alguns acusarão Bento XVI de minar, ou desfazer, as reformas do Vaticano II. Ambas as perspectivas são falsas.

Antes de vermos o que significa a reconciliação, vale a pena analisar o que não significa.

Em primeiro lugar, Bento XVI não está a regredir em relação ao Vaticano II. Todo o seu pontificado está dedicado a avançar o Concílio (ver mais abaixo). De facto, como expliquei na altura em que o Papa revogou a excomunhão dos quatro bispos da SSPX, ele está a bater os progressistas no seu próprio terreno: está a fazer gestos concretos no sentido de reunir todos os cristãos, tal como o Vaticano pede no Unitatis Redintegratio (o que é duplamente irónico, pois é um dos documentos que a SSPX contesta). O que está a ser desfeito não é o Concílio em si, mas a ideologia que se agarra a um falso conceito de “espírito do concílio”.

Depois, alguns comentadores mais espertos poderão usar o trunfo do género: o Vaticano retrógrado está a aceitar um grupo de bispos e padres conservadores ao mesmo tempo que ataca as freiras indefesas da Leadership Conference of Women Religious (LCWR). Mas essa dicotomia ou jogo de poder misógeno não existe: Bento XVI está a trabalhar para trazer ambos os grupos afastados – a SSPX de iure, a LCWR de facto – de volta à plena comunhão com a Igreja; a abordagem diferente deve-se à diferença de estatuto de cada grupo.

Por fim, a reconciliação com a SSPX não significa a “vitória da Tradição” no sentido em que a Sociedade e os seus apoiantes a entendem: que o culto e a piedade tradicionais vão ser restaurados como sendo a expressão mais legítima da fé. A teologia e a prática católica tradicional já está a passar por um pequeno renascimento revitalizador um pouco por todo o mundo em comunidades religiosas, paróquias e escolas que se mantém leais ao Papa. Uma SSPX reconciliada trará mais crescimento e vigor a este movimento, mas não o criará de novo nem lhe dará um estatuto mais elevado.

Um jovem Marcel Lefebvre
Então o que significa a reconciliação com a SSPX?

Primeiro, o “Preâmbulo Doutrinário”, a declaração ainda secreta das crenças doutrinárias que a SSPX deve aceitar para ser reconciliada, deverá declarar – na forma mais oficial e autoritária até hoje – que todo o Vaticano II deve ser lido e interpretado à luz da Tradição. Se assim for, então não só moldará os futuros discursos da Sociedade sobre o Vaticano II, mas também o discurso de quem advoga o “espírito do Concílio”.

Os arautos da “hermenêutica de descontinuidade e rupture” não vão simplesmente baixar os braços, mas uma tal declaração retirará a pouca credibilidade que ainda lhes resta entre os leitores e alunos.

Segundo, como já foi referido, uma SSPX em comunhão plena como o Papa trará novo vigor para a prática e culto católico o que, por sua vez, ajudará a restaurar a identidade católica em locais onde já desmoronou. Ao que parece a prática religiosa nas capelas da Sociedade em França tem crescido à medida que as Igrejas regulares se têm esvaziado quase por completo.

Com as graças que decorrem da plena comunhão com Roma – e sem o tom que tem caracterizado muita da retórica contra Roma por parte da Sociedade – a SSPX poderá tornar-se uma peça chave na Nova Evangelização e a Igreja no seu todo deve valorizar o seu contributo.

Terceiro, a reconciliação diz muito sobre a natureza do pontificado de Bento XVI e o carácter dele enquanto homem. Desde o seu almoço em Castel Gandolfo com o bispo Fellay no primeiro Verão do seu pontificado até ao levantamento das excomunhões em 2009, passando pelas discussões formais com os teólogos da SSPX na Congregação para a Doutrina da Fé, e apesar de muitas vozes contrárias na Cúria, Bento XVI está a tornar a reconciliação uma realidade, ao seu ritmo e nas suas condições.

Como escreveu o próprio Fellay, “o Papa disse-nos que a preocupação por remediar a nossa situação, para o bem da Igreja, estava no coração do seu pontificado. Disse também que tinha noção de que tanto para ele como para nós teria sido mais fácil manter o status quo”. Bento XVI, como verdadeiro pastor, está mais que disposto a dar a sua própria vida e a sua reputação pelo bem do seu rebanho.

Permanecem uma série de questões sobre o estatuto da Sociedade; a sua organização futura, a possibilidade de haver uma cisão, com um grupo que rejeita a reconciliação. Mas quando chegar a altura será o próprio Bento XVI, não as facções da Igreja em guerra nem os media seculares, que providenciará a lente interpretativa para este incrível feito.


David G. Bonagura, Jr. é professor assistente de Teologia no Seminário da Imaculada Conceição, em Huntington, Nova Iorque.

(Publicado pela primeira vez no Domingo, 10 de Junho de 2012 em http://www.thecatholicthing.org)

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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Monday, 11 June 2012

Jesuíta na Síria, grafitis anti-sionistas feitos por judeus


Grafitis anti-sionistas em Jerusalém
Antes de mais recomendo vivamente a leitura desta entrevista com um jesuíta italiano que vive na Síria desde 1982 e que fala sem papas na língua sobre o estado do país.

O padre Paolo Dall’Oglio está de saída por falar com demasiada franqueza. Descubra porquê, leia a transcrição completa da entrevista.

Durante o fim-de-semana houve mais dois ataques a Igrejas na Nigéria. Começa a tornar-se um hábito, infelizmente.

Um dos bispos da Sociedade de São Pio X está claramente de fora de qualquer acordo com Roma. Tissier de Mallerais prefere esperar que todos os católicos se “convertam” antes de falar em reunificação.


Jesuit in Syria: "I am leaving the country in the next few days, by decision of the Church"

Paolo Dall'Oglio, jesuíta italiano na Síria
Full transcript of interview with Paolo Dall'Oglio, italian jesuit in Syria. News item can be read here.

Transcrição completa da entrevista com Paolo Dall'Oglio, jesuita italiano na Síria. Leia a notícia aqui.


Are you optimistic about a solution to the crisis?
I was never optimistic! In January 2011 I said to an important ambassador in Damascus that I didn’t expect Syria to change quickly and relatively peacefully like Tunisia and Egypt.

Unfortunately, at that time, I was convinced that the risk of a civil war was a reality for Syria and there was a big need for a large international dialogue to facilitate the democratic transformation of Syria without falling into civil war.

Can a civil war be avoided?
We have been in a civil war since June 2011. I won’t say there is no revolution, there is a revolution and a civil war.

Is it between Sunnis and Alawites?
It is going this way, but this does not mean that all the Alawites are with the state nor that all the Sunnis are against the regime. But in the regions where the ethnic fight is ongoing, we cannot but recognize that there are two sides, one Alawite, one Sunni, sometimes with the help of some Christian villages.

What is the position of the Christians in Syria at the moment?
It is difficult to generalize; it is different from one region to the other. In big cities like Damascus and Aleppo the Christians are substantially neutral.

In the region where the confrontation is more immediate, between Alawites and Sunni, the Christians are in a very difficult situation, that is why they emigrate or they are obliged to side, in this case they usually side with the Alawites, but generally speaking the Christians remain neutral and as long as the civil war progresses, they will leave.

You were threatened to be expelled from Syria, then allowed to stay. You are obviously free to speak, what is your relation with the state?
I started to speak freely and loudly again once the state signed an agreement with the Arab League recognizing the right of opinion and expression. I have allowed myself to speak clearly, loudly, because the Syrian government has agreed that freedom of opinion should be implemented. But at the same time I am obliged to leave the country this week, because in fact this freedom of expression is not recognized. I will leave the country in the next few days, I am obliged by a decision of the church.

Padre Paolo no mosteiro de Deir Mar Musa
What has the position of the Church leaders been?
The church has always been used as an instrument to build the popular opinion upholding the State's priorities.

Is there a future for the current regime?
I am not interested in the future of the regime. I am very interested in the future of syria and the rights of Syrians.

And you believe it would be better for them if the regime would be replaced?
People have passed a point of no return. But I believe in national dialogue, not to keep any regime, but to have the largest consensus possible, because we need a Syria for all the Syrians.

Should the international community intervene?
I believe in international non-violent action. Read my letter to Kofi Annan. In it I asked for 3000 military observers and 30 000 civil society activists to work with the Syrian civil society to implement democracy.

Nevertheless there is sometimes the need for occasional limited operations, I call them police operations. In order to avoid terrorism or violence of whatever kind to spread in a country like ours.

The church believes in the right of self-defence. And so far there is a duty of solidarity with the people who are trying to defend themselves, to protect their rights. I believe in both cases, for those who are trying to defend their rights, and for those who are in solidarity with them, that non-violence is always better, but this does not mean giving up rights or giving up solidarity.

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