Recentemente
escrevi
sobre os Thomistic Institutes, uma iniciativa da Dominican House of Studies
em Washington D.C., que organiza palestras e conferências proferidas por
católicos ortodoxos de primeira categoria em quase cinquenta (e cada vez mais)
das mais prestigiosas universidades e faculdades da América. E a organização
está em expansão. Muitos leitores escreveram-me para expressar a sua apreciação
por esta rede tão valiosa, mas também para perguntar o que podem fazer se não
houver nada do género na sua zona.
Agora
temos uma resposta.
No
dia 26 de Agosto foi para o ar o Aquinas 101 – um site
criado pelos mesmos dominicanos. Cliquem e preparem-se para uma experiência
fascinante. Quando estiver completa, esta série terá oitenta e seis breves
palestras, cuidadosamente preparadas e dirigidas a qualquer pessoa com um nível
de capacidade e de interesse comum.
Este
curso é aberto a todos, e é gratuito!
Estamos
a falar de uma introdução bem construída e acessível a um dos maiores de todos
os pensadores dominicanos, São Tomás de Aquino, que não só nos coloca em
contacto com o homem que mais fez para formar o pensamento católico ao longo
dos séculos, mas também nos ajuda a ver como essa enorme obra de pensamento tem
grande relevância para algumas das questões nevrálgicas que hoje enfrentamos.
Por
exemplo, muitas pessoas hoje, incluindo cristãos e até católicos, caíram em
algumas confusões básicas sobre a natureza da Fé e da Razão. Conforme explica
uma das primeiras palestras desta série, isto leva, por um lado, ao cepticismo –
não podemos saber verdadeiramente nada sobre Deus – mas também, por outro, ao
que tem sido apelidado de “fideísmo”, a ideia de que cremos sem saber em quê.
Ambas
são reações naturais numa era de pós-verdade, mas um católico curioso não
quererá deixar que o seu pensamento se mantenha preso neste lamaçal actual. Há
ideias melhores e mais “verdadeiras” sobre a verdade, que Aquino e outros nos
podem fornecer.
Talvez
já tenham visto a sondagem recente que mostra quão poucas pessoas, até entre
católicos praticantes, acreditam na Presença Real de Cristo na Eucaristia.
Muitos acham que não passa de um mero símbolo. No final de contas, a Eucaristia
é um profundo mistério, mas homens santos e dotados como Aquino recorreram às
várias ferramentas da tradição e da razão humana para fornecer abordagens
racionais e sérias àquilo que no fundo nos transcende a nós e a toda a Criação.
Recentemente
o jesuíta Thomas Reese comentou essa sondagem dizendo que não acredita em
termos como “substância”, “acidente”, “matéria” e “forma” que Aquino utilizou
para explicar a Eucaristia. Mas sem uma qualquer forma de explicação e
descrição sólida, não admira que a Eucaristia pareça simplesmente simbólica e
que a crença na mesma se torne “fideísta”.
Muitos
rejeitam estes conceitos porque acham que as ciências modernas as desacreditaram.
Na verdade a ciência não o fez, nem o pode fazer, precisamente porque os pensadores
escolásticos usaram esses termos de forma filosófica. Não pode contradizer a
ciência – nem antiga, nem moderna, nem pós-moderna, nem nada que ainda aí venha.
Mas seria necessário estudar e perceber como os termos Fé e Razão se relacionam
para o compreender.
A
principal razão pela qual os jovens de hoje abandonam a verdadeira religião e
adoptam a descrição “espiritual e não religioso” é porque acreditam que a
ciência tornou a religião tradicional inviável.
Podemos
simplesmente cruzar os braços e lamentar que tantos tenham caído nesta falácia
simplista. (“Ex-católicos” são o segundo maior grupo religioso na América e os “Nenhuns”,
i.e., pessoas que dizem que não têm qualquer forma de filiação religiosa, são
provavelmente a categoria religiosa que mais cresce na nossa sociedade.) Ou
então podemos decidir fazer alguma coisa sobre o assunto, a começar por nós
mesmos.
Estudar
São Tomás não é pera doce e o próprio admite, em vários pontos da sua vasta
obra, que nem toda a gente tem capacidade para estudar filosofia e teologia.
Mas esta série foi montada por pessoas perfeitamente cientes destas
dificuldades. Como o próprio site explica: “Não é tão difícil como pensa. Na
verdade, quando nos habituamos, o pensamento de Aquino ilumina algumas das
questões mais importantes. Perceberá até que ele se tornou seu amigo e guia nos
caminhos da sabedoria”.
São Tomás de Aquino |
Imagine
poder falar de sabedoria nos nossos dias e afirmar que “o que pensamos importa”,
tal como a Igreja sempre ensinou.
Católicos
e protestantes, por exemplo, diferem sobre muitas coisas. Mas, classicamente,
podemos dizer que tudo se resume à fórmula central de Lutero: Sola Scriptura –
Só a Escritura é que constitui a fé, por oposição à Tradição e à Escritura, ou
à Bíblia e a Igreja, ou à Fé e a Razão.
Neste
último departamento tem havido filósofos protestantes sérios, claro, e teólogos
protestantes como João Calvino ou Karl Barth, que empreenderam reflexões
racionais profundas. Ainda assim não seria um exagero dizer que de todas as
formas de Cristianismo, a que cultivou quer a fé quer a razão de forma mais
consistente ao longo dos séculos é o Catolicismo.
E
entre os Católicos o grupo intelectualmente mais fértil, ao longo de quase mil
anos, tem sido a Ordem Dominicana. A lista de santos intelectuais e místicos é
longa: O próprio São Domingos, Mateus de Paris, Raimundo de Peñafort, Alberto
Magno, Tomás Aquino, Mestre Eckhart, Catarina de Sena, Fra Angelico, Bartolomeu
de las Casas, Francisco de Vitória, Cardeal Cajetan, Rosa de Lima, Martim de
Porres, Pio V (cujo longo pontificado legou aos Papas o seu traje branco), Louis
de Montfort, Lacordaire, A. G. Sertillanges, Reginald Garrigou-Lagrange,
Vincent McNabb, Aidan Nichols e muitos outros nos tempos modernos.
Claro
que há outras escolas de pensamento católico para além do Tomista e do
Dominicano. Mas ao familiarizar-se com qualquer uma das figuras citadas acima,
já ficará com uma formação valiosa em pensamento e prática católicos – bem como
uma perspectiva poderosa sobre muitas questões perenes e controvérsias actuais.
Mas
a Dominican House tornou mais fácil para todos estudar Aquino, agora. Vá até ao
site e inscreva-se. É grátis; pode estudar ao seu próprio ritmo, a partir de
casa; não há notas. O que é que tem a perder? E pense só no que tem a ganhar.
Robert Royal é editor de The
Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute em Washington D.C. O
seu mais recente livro é A Deeper Vision: The Catholic
Intellectual Tradition in the Twentieth Century, da Ignatius Press. The God That Did Not Fail: How
Religion Built and Sustains the West está também disponível pela Encounter Books.
(Publicado
pela primeira vez em The Catholic Thing na Segunda-feira, 26 de Agosto de
2019)
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