|
George J. Marlin |
Em 2015 houve mais cristãos perseguidos do que membros de
qualquer outra religião no mundo. A perseguição religiosa tem sido também a
principal causa do grande aumento de migração forçada a nível global. De acordo
com as Nações Unidas, o número de deslocados internos e refugiados atingiu um
pico, no ano passado, de 60 milhões de pessoas.
Este ciclo persecutório cada vez maior criou também o
mais significativo êxodo de cristãos na história do Médio Oriente.
Com populações inteiras a fugir das suas casas, os
cristãos estão rapidamente a desaparecer de regiões inteiras – e não é só no
Médio Oriente, mas também em África, onde várias dioceses se esvaziaram.
Em grande parte, esta migração é causada pela limpeza
étnica motivada por ódio religioso. Os responsáveis por esta violência e
intimidação sistemática são principalmente grupos terroristas islâmicos, em
particular o Estado Islâmico.
A perseguição levada a cabo pelo Estado Islâmico encaixa
perfeitamente na definição de genocídio das Nações Unidas:
quaisquer dos
seguintes actos cometidos com a intenção de destruir, em todo ou em parte, um
grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como por exemplo: matar membros do
grupo e causar danos sérios corporais ou mentais aos membros do grupo…
Os actos de genocídio do Estado Islâmico são dirigidos em
primeiro lugar contra os cristãos. Na sua revista online “Dabiq”, os militantes
afirmam que vão “conquistar a vossa Roma, quebrar as vossas cruzes e escravizar
as vossas mulheres, se Allah o permitir.”
O Estado Islâmico é liderado por fanáticos ideológicos
que aderem a uma forma extremista de Islão salafita, que afirma que apenas eles
são verdadeiros muçulmanos. Esta seita requer a criação de um califado para
purificar o Islão do xiismo e da presença de infiéis. De acordo com Abu Bake
Naji, um conhecido intelectual do Estado Islâmico, isto significa que os
terroristas devem recorrer à jihad, definida como “nada se não violência,
brutalidade, terrorismo, o aterrorizar de pessoas e massacres”.
Na Síria, esta política do Estado Islâmico e a guerra
civil são responsáveis pela morte de mais de 250 mil pessoas e a deslocação de
11,6 milhões – metade da população do país. Pelo menos 3,9 milhões destas
pessoas estão retidas no Líbano, na Jordânia, no Iraque e na Turquia. Incrivelmente,
25% da população do Líbano é agora composta por refugiados sírios. Porém, a
maioria dos cristãos exilados recusam-se a ir para campos de refugiados ou a
registarem-se com as agências de ajuda humanitária, com medo de serem raptados
ou hostilizados por muçulmanos. Em vez disso dependem da ajuda de agências de
auxílio internacional católicas, como a Ajuda à Igreja que Sofre, ou outros
cristãos que os alimentem, vistam e ajudem a educar os seus filhos.
O Estado Islâmico espera apagar o passado, presente e
futuro do Cristianismo. Em 2015 foram destruídas igrejas, locais de interesse
histórico e manuscritos antigos. Um rico património está em perigo – uma
herança que é séculos mais antiga que o próprio Islão.
Mais de 150 igrejas, centros pastorais e mosteiros foram
danificados ou destruídos na Síria, incluindo a histórica igreja de São Jorge,
em Qaber Shamiya, que foi pilhada antes de ser incendiada. A Igreja Apostólica
Arménia dos Quarenta Mártires, em Alepo, foi destruída em resposta a eventos
dos cristãos para comemorar o 100º aniversário do genocídio arménio.
As 45 igrejas cristãs em Mosul, no Iraque, ou foram
destruídas ou transformadas em instalações militares ou então convertidas em
mesquitas. Em Janeiro de 2016, imagens de satélite confirmaram que o mais
antigo mosteiro do Iraque, Santo Eliseu, localizado no topo de um monte nos
arredores de Mossul desde o ano 590 tinha sido reduzido a um monte de entulho
pelo Estado Islâmico.
|
Estado Islâmico e cristãos coptas |
Outros países do Médio Oriente também têm assistido a uma
intensa perseguição, como podemos ver:
Irão: Os cristãos têm sido atingidos por
rusgas e detenções em cada vez maior número. O número de cristãos atrás das
grades duplicou em 2015, apesar de promessas do Governo para promover a
tolerância religiosa.
Arábia Saudita: Esta nação, que não permite
a construção de qualquer igreja cristã e continua a ter o pior registo de
abusos em relação à liberdade religiosa. O novo rei já augurou uma abordagem
ainda mais severa.
Sudão: O Presidente Omar al-Bashir elevou a
intensidade da sua promoção do Islão de ala dura. O número de cristãos no país
continua a diminuir a um ritmo acelerado.
Turquia: Apesar de promessas de reformas
por parte do Governo, os cristãos ainda são tratados como cidadãos de segunda.
Os cristãos temem ainda o aumento do Islão radical na Turquia.
Egipto: Os ataques a igrejas diminuíram
desde que o Presidente Morsi abandonou o cargo, mas os cristãos continuam a ser
alvo de ataques ao nível individual. A 7 de Janeiro de 2015 o Presidente
el-Sisi deu um forte sinal de apoio quando participou numa celebração de Natal
ao lado do Papa copta Tawadros II, na Igreja de São Marcos. Também condenou a
violência do Estado Islâmico e de outros grupos radicais numa celebração do
nascimento de Maomé. “É inconcebível que a ideologia que nos é mais cara
transforme todo o mundo islâmico numa fonte de ansiedade, perigo, morte e
destruição para o resto do mundo”. Foram palavras e gestos de importância
monumental. Infelizmente, têm tido pouco eco no resto do Governo egípcio, em
termos de garantir direitos básicos aos cristãos.
Em relação aos governos ocidentais, enquanto muitos
condenaram os crimes contra a humanidade dos radicais islâmicos, não
implementaram quaisquer planos efectivos para pôr termo à violência ou para
assegurar que os cristãos e outras minorias recebam protecção ou um espaço
seguro onde viver. Contudo, ainda o outro dia o
Parlamento Europeu declarou que
o Estado Islâmico está a levar a cabo um genocídio e pediu aos estados-membro
que façam chegar a todos os grupos que são alvo desta crime “protecção e ajuda,
incluindo ajuda militar e humanitária” em conformidade com o direito
internacional.
Mas enquanto grande parte do Ocidente continua a olhar,
muitos cristãos do Médio Oriente continuam a manter-se firmes,
independentemente das dificuldades. A posição dos cristãos em dificuldade foi
bem descrita pelo Arcebispo Melquita de Alepo, Jean-Clement Jeanbart:
Estamos a confrontar
um dos desafios mais importantes da nossa história bi-milenar. Lutaremos com
todas as nossas forças e agiremos com todos os meios possíveis para dar ao
nosso povo razões para ficar e não abandonar; sabemos que o caminho que temos
pela frente será muito difícil; não obstante, estamos convencidos que o nosso
amado Senhor Jesus está presente na Sua Igreja e que jamais nos abandonará.
Sabemos que nada pode intrometer-se entre nós e o amor de Jesus Cristo – e que
através de todos estes desafios triunfaremos através do poder daquele que nos
ama.
© 2016
The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de
reprodução contacte:
info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica
inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus
autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o
consentimento de The Catholic Thing.