Wednesday, 25 February 2015

Sem-abrigo, bispo e príncipes - todos iguais diante de Deus

Um sem-abrigo nas ruas de Roma
Um homem sem-abrigo de Roma, que morreu no Vaticano, vai ser sepultado num importante cemitério da Santa Sé. É a primeira vez que tal acontece e a autorização foi dada directamente pelo Papa Francisco.

Por falar em Papa Francisco, um grupo de estudantes de Viseu foi conhecer o Papa, depois de terem angariado dinheiro através da venda de rifas. E tudo começou com uma conversa com Aura Miguel…

Uma distinção para a Ordem Hospitaleira, que trabalha sobretudo com doentes mentais, e que recebeu o prémio “Cidadão Europeu” pela sua obra.

Piora a situação para os cristãos raptados pelo Estado Islâmico na Síria. Inicialmente falava-se em 2000 pessoas. O número entretanto foi revisto em baixa para 90 mas agora já subiu para 150. Seja como for, o grupo terrorista ameaça matá-los a todos. Oremos.

Recentemente queixei-me que Obama estava armado em teólogo. O padre Mark Pilon concorda comigo mas leva o assunto mais longe ainda no artigo desta semana do The Catholic Thing em português. Não deixem de ler!

O nosso Presidente-Teólogo

Pe. Mark A. Pilon
Diga-se o que se disser sobre os terroristas que estão a massacrar cristãos, muçulmanos e pessoas de outras religiões, parece-me extremamente arrogante que o presidente dos EUA se reserve ao direito de declarar quem é, ou não é, um verdadeiro muçulmano, ou quem é, ou não é, um verdadeiro líder muçulmano. No seu discurso no encontro na Casa Branca na semana passada, o presidente, declarou “ex-cathedra” que os líderes do Estado Islâmico não são líderes religiosos mas simplesmente terroristas que interpretaram falsamente a religião muçulmana: “Não são líderes religiosos”, afirmou, dizendo ainda: “estamos em guerra contra pessoas que perverteram o Islão”.

Essa afirmação poderá ser verdade, ou não, mas depende sobretudo de como se interpreta os textos sagrados do Islão. Por exemplo, que peso atribuímos aos escritos iniciais, por oposição aos mais tardios? Por isso, que um não muçulmano, que certamente não é um especialista em religiões e que não é capaz de ler os livros sagrados nas suas línguas originais (algo muito importante para os estudiosos do Islão) se coloque na posição de juiz de quem é, ou não é, um verdadeiro muçulmano, revela extrema arrogância e ignorância. Como se interpreta estes textos antigos de forma precisa – com base no qual se determina quem é ou não um muçulmano fiel –, é algo que, no fim de contas, só pode ser resolvido no seio desta antiga religião.

Se eu fosse muçulmano, de que confissão fosse, (sabendo que existem várias seitas, dependendo da forma como se lê os textos sagrados, por exemplo), ficaria muito ofendido se um infiel decidisse determinar se eu, ou qualquer outro muçulmano, era um verdadeiro crente ou um verdadeiro  líder religioso. A verdade é que não existe uma autoridade suprema no Islão que tenha o direito de determinar quem é um imã válido ou um verdadeiro líder religioso. Como é que um infiel se arroga ao direito de o fazer? Se isso não constitui uma ameaça ao Islão vinda do mundo infiel, então é o quê?

O que se está a passar na mente do presidente ou nas mentes dos seus conselheiros é muito perturbador. Estas declarações não se explicam pela sua tendência de improvisar, são demasiado consistentes e repetidas. A sua defesa persistente do Islão, quando confrontado por actos terroristas de homens que se identificam como muçulmanos fiéis é bastante bizarra e está em desacordo com a sua obsessão com coisas como a “identidade de género”. Neste campo, a sua administração acredita claramente que se deve dar total crédito ao que as pessoas dizem ser o seu género, mesmo quando esta identificação choca com a sua constituição biológica.

No passado mês de Dezembro, por exemplo, o Departamento da Educação publicou um memorando que afirma que o artigo IX das Emendas da Educação de 1972 é para ser interpretado como abrangendo a identificação de género dos estudantes e obrigando todos os outros aspectos de planeamento e implementação da educação a corresponder a essa auto-identificação.

Por isso, mesmo as crianças mais novas que se possam identificar biologicamente como sendo de um sexo devem ser respeitados se escolherem declarar que pertencem ao sexo oposto, independentemente dos factos biológicos. Mas os adultos que se identificam como muçulmanos ou como líderes muçulmanos não devem ser respeitados ou receber qualquer crédito se não preencherem os critérios do presidente e dos seus conselheiros em assuntos de religião. Há algo tão bizarro sobre tudo isto que me parece estarmos perante um problema muito mais profundo.

Obama a receber inspiração divina para
melhor cumprir o seu papel de supremo teólogo

Parece que chegámos ao mundo representado nos livros de Huxley e Orwell sobre líderes totalitários que abandonaram a verdade em troca do poder da propaganda, novalíngua, manipulação e duplipensar. As palavras já não têm qualquer ligação directa com a realidade. São puros instrumentos de manipulação política. Ambos os autores compreenderam bem o poder que a linguagem tem para manipular, mas foi Orwell quem explicou melhor a metodologia usada pelo ironicamente denominado Ministério da Verdade.

Um dos propósitos do Ministério é desenvolver e promover a Novalíngua, que é descrita como:

“Uma vontade leal de dizer que o preto é branco quando tal for exigido pela disciplina partidária. Mas significa também a capacidade de ACREDITAR que preto é branco e, mais, de SABER que preto é branco e esquecer-se de que alguma vez se acreditou no contrário. Isto exige uma modificação contínua do passado, tornada possível pelo sistema de pensamento que na verdade abarca tudo o resto e que é conhecida, em Novalíngua, como DUPLIPENSAR.”

A história e o passado têm de ser totalmente alterados para acomodar a grande mentira, por exemplo, e os seus efeitos, precisamente da mesma maneira que os nossos líderes políticos falam tão levianamente das Cruzadas e da Inquisição sem verdadeiramente compreender uma coisa ou outra.

Se repetirmos a mentira vezes suficientes as pessoas começarão a acreditar nela. Os totalitários do século passado compreendiam bem isso. A descrição de Orwell mantém-se válida:

Dizer mentiras de forma deliberada, enquanto se acredita genuinamente nelas, esquecer qualquer facto que se tenha tornado inconveniente, e depois, quando se torna necessário novamente, trazê-lo de volta do esquecimento pelo tempo estritamente suficiente, negar a existência de uma realidade objectiva e, todavia, tomar em conta a realidade que negamos – tudo isto é indispensavelmente necessário.

Tudo isto está a acontecer no mundo da política Novalíngua de hoje, apesar de termos acesso a mais informação do que em qualquer outra época. Podemos fazer juízos absurdos sobre a identificação religiosa de alguém, porque a verdade é tudo aquilo que serve a agenda política. Verdade histórica objectiva? Esquece isso! O que é a verdade?

Essa pergunta cínica foi colocada por outra figura política, e conduziu à morte da encarnação da Verdade. Hoje está a conduzir ao caos social.


O padre Mark A. Pilon, sacerdote da Diocese de Arlington, Virginia, é doutorado em Teologia Sagrada pela Universidade de Santa Croce, em Roma. Foi professor de Teologia Sistemática no Seminário de Mount St. Mary e colaborou com a revista Triumph. É ainda professor aposentado e convidado no Notre Dame Graduate School of Christendom College. Escreve regularmente em littlemoretracts.wordpress.com

(Publicado pela primeira vez na quarta-feira, 25 de Fevereiro de 2015 em The Catholic Thing)

© 2015 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Tuesday, 24 February 2015

200 cristãos raptados na Síria num só dia

Zak Ebrahim, filho de terrorista, escolheu a paz
O dia de segunda-feira começou da pior maneira, com notícia de ataques do Estado Islâmico a aldeias cristãs no Nordeste da Síria, que resultaram no rapto de cerca de 200 homens, que são agora reféns dos islamitas.

Como que para nos recordar que isto não tem sempre de ser assim, temos uma entrevista com o filho de um dos terroristas que ajudou a planear o 11 de Setembro. Zak foi educado no fundamentalismo, mas escolheu o caminho da paz.

A Conferência Episcopal portuguesa saudou D. Manuel Clemente por ter sido elevado ao cardinalato e traçou objectivos para o próximo encontro plenário dos bispos.

O mesmo D. Manuel Clemente já começou as suas catequeses quaresmais e ontem aproveitou para elogiar a preparação do sínodo sobre a família, que decorre em Outubro.

Estreou a semana passada um documentário sobre a vida de um capelão prisional. Saiba mais, aqui, sobre este filme das irmãs Leitão.

Termino com um apelo. Os organizadores da iniciativa de 40 dias de oração pela vida lamentam a falta de voluntários. Só se pede que vão rezar. Não é preciso abordar ninguém, falar com ninguém, apenas rezar. Quantos o podem fazer mas estão em casa por preguiça? Penso em mim também.

Thursday, 19 February 2015

Barack o Teólogo e Lutero o Playmobil

A cristandade continua a tentar perceber como reagir ao terrível martírio dos 21 cristãos coptas às mãos do Estado Islâmico. Mas se a notícia nos chocou a todos, que dizer da aldeia egípcia de onde eram naturais 13 dos homens? Segundo o pároco, “houve gritos em todas as casas, em todas as ruas”.

Ontem Barack Obama falou do Estado Islâmico. Não contente com o facto de ser líder político e comandante supremo das Forças Armadas, Obama agora também é teólogo e decide o que é o verdadeiro Islão e o que são deturpações…

Já escrevi sobre este assunto antes, aqui, mas escusado será dizer que sou da opinião de que não cabe aos líderes políticos fazer este tipo de juízos. E não estou sozinho! Não deixem de ler este excelente e autoritário artigo que explica, bem explicado, o que é o Estado Islâmico e em que é que acreditam.

Mudando de tom, porque bem falta nos faz rir, os responsáveis da empresa alemã Playmobil estão estupefactos com o maior fenómeno de vendas de sempre daquele brinquedo… Nada mais nada menos que Martinho Lutero! Bom, neste caso um bocadinho menos, porque afinal de contas é só um boneco…

Wednesday, 18 February 2015

Quarta-feira de cinzas e de lágrimas, se Deus quiser!

Jesus ressuscita Lázaro, depois de ter chorado
É Quarta-feira de Cinzas e por isso começa a Quaresma.

O Papa Francisco apelou ao Dom das Lágrimas como medida contra a hipocrisia. Neste artigo explicamos o que é esse conceito que data dos padres do deserto. Também hoje o Papa recebeu alguns dos responsáveis pelo resgate de imigrantes ilegais no Mediterrâneo, a quem agradeceu e disse sentir-se pequeno na sua presença.

Neste primeiro dia da Quaresma pedimos a três personalidades católicas, e um não-crente, que comentassem a mensagem do Papa. Não perca as interessantes reflexões.


Um homem judeu filmou-se a si mesmo a passear por Paris a divulgou as ofensas a que foi sujeito durante o dia.

Na segunda-feira disse que estava prestes a começar os 40 dias de oração pela vida, em Lisboa. Hoje foi o primeiro dia e percebeu-se que há, de facto, muito que rezar. Não deixem de participar e de se inscrever caso possam.

Porque é quarta-feira, temos artigo novo do The Catholic Thing. O padre Bevil Bramwell diz que liberdade religiosa e liberdade de expressão são conceitos bonitos, mas para serem úteis têm de significar alguma coisa de concreto.

Redescobrindo a nossa verdadeira natureza humana

Pe. Bevil Bramwell
Estas últimas semanas têm sido terrivelmente tristes. Primeiro, houve os eventos horríveis em Paris, depois a destruição de igrejas no Níger, a morte de 2000 pessoas na Nigéria e comunidades religiosas atacadas no Médio Oriente. E isso foi só o início. Esta semana 21 cristãos coptas, trabalhadores egípcios na Líbia, foram decapitados por o que parece ser um novo ramo do Estado Islâmico e ainda ontem mais de 40 pessoas foram queimadas vivas pelo Estado Islâmico propriamente dito no Norte do Iraque.

Temos dificuldade em saber onde procurar respostas sobre o que fazer em relação a esta matança. Parte do problema é o facto de, no Ocidente, estarmos confusos sobre aquilo em que realmente acreditamos. Mas talvez as aberrações a que estamos a assistir nos forcem a pensar mais claramente sobre aquilo que defendemos, e porquê.

Numa entrevista com a “Meet the Press”, por exemplo, o editor sobrevivente da “Charlie Hebdo”, Gerard Biard, descreveu da seguinte forma a mais recente caricatura de Maomé naquela revista: “É o símbolo da liberdade de expressão, da liberdade religiosa, de democracia e secularismo”.

Com todo o respeito pela sua tristeza e pelo seu sofrimento, é incrível como aquilo que ele diz – e que muitos dos nossos conterrâneos dizem também – está dependente de definições idiossincráticas de liberdade, expressão, religião, democracia e secularismo. Tudo abstracções desenraizadas. Estamos a falar de liberdade jurídica, ou liberdade moral? Liberdade em relação a pessoas concretas? O que é que Biard entende por religião? E nós?

Mas existe uma referência autoritária. O documento Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, diz o seguinte: “Mas é só na liberdade que o homem se pode converter ao bem. Os homens de hoje apreciam grandemente e procuram com ardor esta liberdade; e com toda a razão. Muitas vezes, porém, fomentam-na dum modo condenável, como se ela consistisse na licença de fazer seja o que for, mesmo o mal, contanto que agrade. A liberdade verdadeira é um sinal privilegiado da imagem divina no homem.”

Bastam estas frases para que as palavras de Biard se dissolvam. Por exemplo, que “liberdade” é esta que humilha a religião de outra pessoa, não de uma maneira útil que possa servir para remediar aberrações, mas em termos ordinários e sexuais? Em tantos contextos, hoje, há certamente um bem maior a procurar. Quão baixo temos de descer para arranjar emprego, encontrar clientes, divertirmo-nos ou fazer programas de televisão?

Depois, temos a própria natureza da expressão. A Carta aos Efésios diz claramente: “Nenhuma palavra desagradável saia da vossa boca, mas apenas a que for boa, que edifique, sempre que necessário, para que seja uma graça para aqueles que a escutam.”

Eis a chave que explica porque é que precisamos de liberdade de expressão: Boa expressão. A expressão que procura o bem é composta por palavras edificantes. Isto é liberdade enquanto espaço para procurar o bem, que é Deus. Esta liberdade expressa a imagem divina em nós mesmos e reconhece a imagem divina nos outros.

Adão e Eva exercem a sua liberdade...
Para além disto, não são só os indivíduos que têm direitos, as comunidades humanas também têm. As comunidades precisam de pessoas que procurem activamente o bem – e não apenas o seu bem. Precisam de pessoas que vejam os outros como imagem de Deus e, por isso, como merecedores de um respeito que ultrapassa todas as outras considerações. Não é esta a verdadeira base da democracia? Os pais fundadores da América, todos eles, pensavam que sim.

O principal problema com a maioria das versões actuais de liberdade é o facto de assentarem numa visão do homem como não-relacional. Isto é, não têm respeito pelo facto de que cada pessoa humana existe em relação a outras. (E, no fim de contas, em relação a Deus, não como uma opção extra para aqueles que escolhem não ser “progressistas”, mas como parte essencial daquilo que somos.) A consideração subjacente para muitos dos nossos contemporâneos é de que o homem é uma entidade fechada, auto-sustentável e não um sujeito de relações.

O respeito pela “Liberdade de expressão, liberdade religiosa, de democracia e secularismo”, devia significar o respeito por todas as relações envolvidas nesses assuntos. Não o fazer é uma forma de violência. Não é, claramente, a violência brutal dos jihadistas, mas é uma violência à qual nos habituámos, por causa da nossa cegueira. A expressão – seja falada, escrita ou desenhada – pode ser uma forma de violência na medida em que viola a integridade e dignidade de outra pessoa enquanto imagem do divino.

A essência de uma sociedade individualista passa por evitar, deliberadamente, os valores comuns e altivos, garantindo que estes nunca se desenvolvam. Na melhor das hipóteses, as palavras abstractas tornam-se caixas vazias nas quais as elites podem enfiar os seus próprios significados. Podem ser arbitrários e contraditórios porque não precisam de respeitar os direitos e os deveres das relações.

Hoje existem muitas formas de ofender as relações humanas. Pascal disse que, tendo perdido a nossa natureza humana através do pecado, qualquer coisa se pode tornar nossa natureza. Mas será que o individualismo, sem qualquer restrição de natureza relacional, é o tipo de natureza que queremos promover actualmente?


(Publicado pela primeira vez no quarta-feira, 18 de Fevereiro 2015 em The Catholic Thing)

Bevil Brawwell é sacerdote dos Oblatos de Maria Imaculada e professor de Teologia na Catholic Distance University. Recebeu um doutoramento de Boston College e trabalha no campo da Eclesiologia.

© 2015 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Monday, 16 February 2015

Novos mártires do Egipto, rogai por nós

"Se os mártires de todo o mundo fossem colocados
num prato da balança, e os mártires do Egipto no outro,
a balança pendia para o lado do Egipto"
São Tertuliano, Séc. III
Foi com enorme tristeza que soubemos ontem da morte de pelo menos 21 cristãos coptas à mão dos terroristas do Estado Islâmico.

Estes cristãos estavam desaparecidos há várias semanas e já se sabia serem reféns do grupo islamita. O seu rapto seguiu-se ao assassinato, também na Líbia, de outros sete cristãos coptas.

O Papa condenou, hoje falou com o Patriarca dos Coptas e já disse que vai celebrar missa amanhã por estes novos mártires. Leiam também esta declaração do bispo copta no Reino Unido, para verem o que é uma resposta verdadeiramente cristã perante uma tragédia desta dimensão.

Portugal também já condenou este atentado. É um gesto bonito, que fica bem ao MNE, mas teria sido assim tão complicado referir que os homens que foram mortos eram cristãos? Eles não foram assassinados por serem “cidadãos egípcios”, embora o fossem, claro. Foram assassinados por serem cristãos. Os próprios assassinos disseram-no.

Para quem não está a par, aqui está um curto artigo que explica, muito rapidamente, quem são os coptas. Foi escrito há uns anos, mas no essencial mantém-se actual.

O Egipto já respondeu. Utilizou as suas forças armadas para atacar o Estado Islâmico na Líbia. Não deixa de ser irónico que sejam as mesmas forças armadas que há poucos anos massacraram pelo menos 23 cristãos… Mas pode ser que esta tragédia sirva para unir o povo egípcio, que bem precisa.

Claro que tudo isto se seguiu a mais um ataque ao estilo “Charlie Hebdo”, na Dinamarca, no sábado. Um homem foi morto quando participava num debate sobre a liberdade de imprensa e mais tarde um judeu foi assassinado pelo mesmo terrorista à porta de uma sinagoga.

                                                      
São notícias tristes que ensombram aquela que teria sido a principal novidade do fim-de-semana, da elevação de D. Manuel Clemente ao cardinalato.

O agora Cardeal Patriarca (e não Cardeal-Patriarca) não perdeu tempo a enviar uma mensagem para os católicos do seu patriarcado, e elogiou o Papa Francisco. A Aura Miguel esteve em Roma a cobrir o evento e fez várias reportagens, mas destaco esta, com um novo Cardeal que não tem Cartão de Cidadão, mas tem coração português.

Termino este mail, que já vai longo, com um aviso. Recomeça esta quarta-feira o projecto “40 Dias Pela Vida”, que pretende reunir pessoas para rezar, durante 40 dias seguidos, pelas vítimas do aborto: bebés, mães, pais, famílias… Todos são convidados a participar, independentemente de credo ou confissão, mas pede-se que se inscrevam através do site, para que a organização saiba com quem contar.

Friday, 13 February 2015

Paróquias, Patriarca e Passarinhos

D. Manuel Clemente está na
primeira carteira, à direita na foto
A notícia da semana é a elevação de D. Manuel Clemente a Cardeal, amanhã em Roma.

Temos várias notícias interessantes à volta disto, mas o destaque vai para a grande reportagem da minha colega Matilde Torres Pereira sobre a vida do Patriarca.

“O menino que fazia funerais para os passarinhos” é uma excelente maneira de ficar a conhecer melhor aquele que, a partir de agora, passa a ser o único cardeal eleitor de nacionalidade portuguesa no Colégio dos Cardeais. (E vejam mesmo a reportagem da Matilde, porque para além das histórias ficam a ver várias fotografias de D. Manuel quando era criança).

À imagem do ano passado, o Papa Bento XVI estará presente no consistório de amanhã de manhã.

Já sabem que no site da Renascença terão acesso a toda a informação sobre este dia histórico para a Igreja portuguesa.

Também hoje temos uma reportagem da minha autoria sobre a transformação do conceito de paróquia. Sobretudo nas grandes cidades, há cada vez mais pessoas a ir a outras paróquias que não as da sua zona de residência. Será isto uma coisa má? Ou é a evolução natural da Igreja?

Wednesday, 11 February 2015

Os direitos dos doentes à assistência religiosa

O Papa Francisco expressou esta quarta-feira a sua solidariedade por mais uma tragédia no Mediterrâneo, que resultou na morte de centenas de pessoas que procuravam chegar à Europa.

No dia mundial do doente, falámos com um capelão hospitalar, que explica que nem todos os doentes estão conscientes dos seus direitos no que diz respeito à assistência religiosa.

Foi publicado um estudo que parece comprovar que, ao contrário do que todos os activistas gostam de dizer, ser educado por dois “pais” do mesmo sexo pode ter efeitos negativos sobre o desenvolvimento das crianças.O autor do estudo é o padre Paul Sullins, que é também sociólogo. (Na foto)

Estes dias tem-se falado muito sobre Oscar Romero, o arcebispo salvadorenho que vai ser beatificado. No artigo desta semana do The Catholic Thing, o autor polaco Filip Mazurczak desmente a ideia de que Romero tinha sido perseguido ou maltratado por João Paulo II.

Ter pais homossexuais duplica risco de instabilidade emocional, diz estudo

O maior estudo do seu género até hoje revela que as crianças educadas por pares de homossexuais revelam duas vezes maior propensão para ter problemas emocionais do que crianças educadas por ambos os seus pais biológicos.

A conclusão é do sociólogo Paul Sullins, cujo estudo acaba de ser publicado na: “British Journal of Education, Society & Behavioural Science”.

Segundo o autor, “já não é correcto dizer que não há qualquer estudo que revela que as crianças de famílias do mesmo sexo estejam em desvantagem relativamente aos de famílias de sexo oposto”.

“Os problemas emocionais são duas vezes mais prevalecentes para crianças com pais do mesmo sexo do que para crianças com pais do sexo oposto”, conclui Sullins, em declarações feitas ao site "Mercatornet".

Estes problemas incluem mau comportamento, preocupação, depressão, fraca capacidade de relacionamento com pares e dificuldades de concentração.

Uma das características importantes deste estudo é o facto de ter acompanhado mais de 500 crianças a serem criadas por pares do mesmo sexo. Até agora a média dos estudos sobre este assunto analisavam uma média de 39 crianças nesta situação, o que torna a amostra de Sullins muito mais representativa.

Um dos principais argumentos dos defensores da adopção ou co-adopção por pessoas do mesmo sexo é de que os estudos até agora mostram que este modelo não afecta negativamente as crianças. As conclusões do estudo de Paul Sullins parecem, contudo, contradizer essa teoria.

João Paulo II e Oscar Romero

Filip Mazurczak
Acaba de ser anunciado que o Papa Francisco irá beatificar o arcebispo Oscar Romero. E faz bem, uma vez que Romero era um santo pastor que foi morto, enquanto celebrava missa, por defender as vítimas da repressão no El Salvador, em 1980. Muitos meios de comunicação social, porém, vão utilizar a decisão do Papa Francisco como uma arma para atacar os seus antecessores. Os comentadores irão certamente ressuscitar um mito antigo: Que João Paulo II, cegado por um anticomunismo polaco e obscurantista, maltratou Romero. Deixem-me já desmontar esta fantasia antes que ganhe terreno.

No obituário publicado após a morte de João Paulo II, em 2005, John Allen Jr., uma das maiores vozes do catolicismo progressista americano, escreveu que o Papa “disciplinou pessoas que tinham arriscado as suas vidas para conquistar na América Latina as liberdades que ele queria para a Polónia. A forma como maltratou o arcebispo-mártir de El Salvador, Oscar Romero, é apenas um dos exemplos mais bem conhecidos.”

No seu livro “History of the Popes”, o jesuíta John W, O’Malley afirma que João Paulo II ficou “descontente” com Romero e só postumamente lhe prestou o devido respeito, abrindo a sua causa de beatificação.

Entretanto, no filme “Have no Fear: The Life of Pope John Paul II”, da ABC, o pontífice, representado pelo actor alemão Thomas Kretschmann, desanca Romero fanaticamente e diz-lhe para ser obediente a Roma. Só após o assassinato do bispo é que sente remorsos e vai rezar junto ao seu túmulo, em São Salvador.

Estes são apenas alguns exemplos de um mito duradouro de que João Paulo II maltratou Romero. Mas o que é que aconteceu de facto?

No diário de Romero há referência a duas audiências que João Paulo II lhe concedeu, em 1979 e 1980. Na primeira destas reuniões, Romero fala das dificuldades do seu ministério num país dilacerado pela violência política. João Paulo II ouve atentamente e compara estas experiências com as suas, da Polónia, mas aconselha “prudência”. Romero fica com a impressão de que o Papa o ouviu, mas mostra-se preocupado com a ideia de que os seus assessores lhe tenham dito coisas críticas sobre ele: “Embora a minha primeira impressão não tenha sido muito satisfatória, creio que a visita e a conversa foram muito úteis, uma vez que ele foi muito franco.”

Contudo, antes da segunda reunião, o Cardeal Eduardo Pironio, um colaborador argentino do Papa, fez um relatório muito elogioso sobre Romero. O Santo Padre encorajou o arcebispo a lutar com coragem, abraçou-o e disse-lhe que rezava por El Salvador todos os dias.

O futuro mártir ficou muito contente. No seu diário escreveu que sentia total aprovação do Papa e “confirmação e a força de Deus para o [seu] pobre ministério”. Disse ainda que esse dia tinha sido cheio de “grande satisfação e muitos sucessos pastorais”. Pouco tempo depois, Romero citou João Paulo II nas suas homilias quaresmais.

Após a morte de Romero, João Paulo II contrariou os prelados que o queriam representar como um comunista disfarçado. Aquando do seu assassinato, em 1980, enviou um telegrama a condenar o acto e mandou um seu representante pessoal, o cardeal mexicano Ernesto Carripio para presidir à missa do funeral.

Em 1983 visitou El Salvador. Os bispos latino-americanos suplicaram-lhe para não visitar o túmulo de Romero, mas durante o cortejo ele mandou desviar o papamóvel em direcção à catedral. Estava fechada, mas esperou teimosamente que alguém fosse buscar a chave. Depois, rezou junto ao túmulo de Romero, elogiando-o como um “pastor zeloso que tentou impedir a violência”.

João Paulo II com Oscar Romero
Repetiu o gesto em 1996. Durante uma cerimónia no Coliseu de Roma, em 2000, alguns cardeais da América Latina sugeriram que o Papa não invocasse Romero como um mártir das américas, mas Wojtila fê-lo à mesma.

Então porque é que temos esta imagem popular do fariseu João Paulo II a criticar Romero?

Quem promove esta narrativa quer usar Romero como um instrumento para criticar João Paulo II, a quem pintam como um anticomunista reaccionário, insensível ao sofrimento das pessoas que viviam debaixo de ditaduras de direita. Querem ainda criticá-lo por condenar as heresias, incluindo as interpretações marxistas da teologia da libertação.

Naturalmente, esta não passa de uma caricatura. Sim, João Paulo II era anticomunista. Até os historiadores que não gostam da Igreja admitem que a sua visita à Polónia em 1979 inspirou a ascensão da Solidariedade, que desempenhou um papel central no colapso do império soviético.

Mas João Paulo II não era um Henry Kissinger vestido de branco. Ele visitou muitos países governados por ditaduras onde o anticomunismo servia de desculpa para a tirania, como o Brasil, Chile, Haiti e Paraguai, onde condenou a opressão. Estas visitas foram muitas vezes cruciais para a restauração da democracia.

De igual forma, a ideia de Romero como um Camilo Torres salvadorenho é ridícula. Como escrevi noutro local, para além de condenar a desigualdade de rendimentos e os abusos da junta militar do El Salvador, Romero também rejeito uma solução cubana para os problemas do seu país e criticou o imperialismo soviético e o terrorismo de esquerda. 

Não existem quaisquer provas de que Romero tenha lido teologia da libertação (quanto muito terá sido indirectamente influenciado através da sua amizade com muitos jesuítas que tinham estas tendências). As suas homilias citam as Escrituras, encíclicas papais, documentos do Vaticano II e textos da Conferência Episcopal da América Latina, mas nunca teologia marxista ou da libertação, que ele evitava cuidadosamente.

Algumas pessoas próximas de João Paulo II tentaram impedir a beatificação de Romero. O já falecido cardeal colombiano Alfonso López Trujillo – ex-presidente do Conselho Pontifício para a Família e grande defensor do Direito Natural – opunha-se à beatificação porque acreditava que ele tinha sido morto em resultado de violência política e não por ódio à fé. Pela mesma razão encarava com cepticismo a beatificação de Pino Puglisi, um padre italiano que foi assassinado pela Mafia em 1993.

Mas o próprio João Paulo II nunca interveio para abrandar o processo de Romero e, pelo contrário, disse ao jornalista Kenneth Woodward que o mero facto de Romero ter sido assassinado enquanto celebrava missa por um amigo falecido era o suficiente para ser reconhecido como mártir.

O Papa João Paulo II e o arcebispo Oscar Romero estão entre os maiores defensores católicos da paz da história moderna. Precisamos de os compreender como eram verdadeiramente, e não permitir que os seus legados sejam caricaturados através da distorção da sua verdadeira relação, que era sobretudo de respeito e apreciação mútua.


Filip Mazurczak contribui regularmente para o  Katolicki Miesięcznik “LIST”. Os seus textos já apareceram também no First ThingsThe European Conservative e Tygodnik Powszechny.

(Publicado pela primeira vez no domingo, 31 de Agosto de 2014 em The Catholic Thing)

© 2014 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org

The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

Portuguese churches share Lenten collections with persecuted Christians

Archbishop of Évora, D. José Alves
At least two Portuguese dioceses will be setting their special Lenten collections aside to help persecuted Christians in the Middle East.

The archdiocese of Évora was the first to accept the proposal made by the Portuguese branch of Aid to the Church in Need, a Catholic charity which does work on the ground to help Christians of all denominations in desperate situations.

The president of ACN – Portugal, Catarina Martins, says that at least one more diocese has shown interest and will almost definitely follow the example of Évora, but she cannot say which, since the bishop has not confirmed officially.

The full amount which will be donated is not known for now, but by way of example, the archdiocese raised 20,000 euros in 2014 to help a congregation of nuns build a new convent, so the amount this year should be similar.

Évora is a large and historically important archdiocese in the South of Portugal, but the Alentejo region, which it serves, has a low proportion of practising Catholics and has also been particularly badly hit by the financial crisis which has affected the whole country for the past several years.

However, this show of solidarity with Middle Eastern Christians is a sign of solidarity with those in an even worse position. Mainstream news outlets highlighted the plight of Christians and Yezidis in the Summer, after the fall of Mosul and the surrounding areas to the hands of the Islamic State. But the persistence of ACN-Portugal, which has brought over important figures from the Middle Eastern Christian community, such as Melkite Patriarch Gregory III, archeparch Issam John Darwish, of the Melkite Archdiocese of Furzol, Zahle and the Bekaa and sister Hanan Youssef, has been instrumental in keeping the subject fresh in the minds of the Portuguese people.

The situation of Christians in the Middle East has also been extensively covered by Renascença, the country Catholic media group, which operates a website and four radio stations which, when taken together, lead the radio market in terms of share.

Filipinos evitam atentado ao Papa e Yezidis vingam-se

Milícias yezidis terão massacrado civis sunitas
O Patriarca de Lisboa deu uma grande entrevista à Renascença, na qual fala de vários assuntos, desde a sua elevação ao cardinalato, dentro de poucos dias, até ao sínodo da família, de Outubro. Vejaaqui o que disse de mais importante.

Em Portugal também existe tráfico humano. Este é, aliás, um assunto a que o Papa tem dado merecido destaque, incluindono domingo passado.

As autoridades filipinas dizem que conseguiram evitarum ataque ao Papa enquanto este esteve no país.

A Igreja de Évora aceitou a sugestão da fundação Ajuda à Igreja que Sofre, e vai encaminhar a renúnciaquaresmal para os cristãos do Médio Oriente.

Muito falámos do sofrimento dos Yezidis, outra religião minoritária do Médio Oriente, perseguida ainda mais ferozmente que os cristãos. Infelizmente, agora que o Estado Islâmico retirou do terreno que ocupava, osyezidis ter-se-ão vingado nas populações sunitas locais. A confirmar-se, é uma pena. Esperemos que os cristãos não caiam na mesma tentação.

Friday, 6 February 2015

Sabe a diferença entre Islão e Islamismo?

Kayla Mueller - RIP
Tragédia ou golpe de “marketing”? O Estado Islâmico alega que os bombardeamentos levados a cabo pela Jordânia, em represália pela grotesca execução do seu piloto, acabaram por matar uma outra refém americana, Kayla Mueller.

Se já se perdeu no meio destas notícias sobre o Estado Islâmico, a Renascença tem um explicador ideal para si. Que grupo é este, que quer, que território controla, contra quem luta e como se financia? Tudo explicadinho em bom português.

Mais difícil é compreender como é que jovens aparentemente normais enveredam por este caminho do radicalismo. Para isso falei com Maajid Nawaz, ex-fundamentalista e autor do livro “Radical”, que agora se dedica a combater o Islamismo. A transcrição completa desta entrevista, no inglês original, encontra-se como de costume no blog.

Já agora aproveito para explicar, porque a distinção não é óbvia, que sempre que falo de “Islamismo” estou a falar de uma ideologia que procura aplicar uma política assente na religião islâmica. Ou seja, Islamismo não é sinónimo de Islão e “Islamita” não é sinónimo de Muçulmano. Gostava que isto ficasse claro para todos e peço desculpa porque de facto é um terreno complicado e não é fácil acompanhar todos os termos e as nuances.

Enquanto há pessoas que sacrificam a vida para ir para a Síria combater ao lado de assassinos, há outras que se dedicam a fazer o bem. É o caso das pessoas por detrás do movimento Fé e Luz, que promove a integração espiritual de pessoas com deficiência mental e suas famílias na comunidade eclesial. Este sábado, em Évora, há festa. Se tem filhos assim ou conhece quem tenha, informe-se sobre o movimento. Não se vai arrepender.

O Papa quer que os bispos de todo o mundo façam tudo o que estiver ao seu alcance para tornar as Igreja um lugar seguro para as crianças. Para isso recomenda que todos colaborem de perto com a Comissão de Protecção de Menores que ele criou no Vaticano.

Por falar em Papa Francisco, parece que vem aí um filme sobre ele.

E termino com a chamada de atenção para o artigo desta semana do The CatholicThing, onde Robert Royal analisa o caso “Charlie Hebdo” e realça as distinções entre o Islão e o Cristianismo na reacção ao incidente.

“Islamism is rooted in insecurity about relationship with God”

This is a full transcript of my interview with Maajid Nawaz, head of the Quilliam Foundation and author of “Radical”. Mr. Nawaz is a former leading member of Hizb ut-Tahrir, an Islamist organization with a presence all over the world. The news report, in Portuguese, can be found here.

Transcrição integral, no inglês original, da entrevista com Maajid Nawaz, autor do livro “Radical” (Texto Editores) e ex-membro do grupo Hizb ut-Tahrir, um movimento fundamentalista islâmico com presença em todo o mundo. A reportagem encontra-seaqui.


In the course of your life as a fundamentalist, and subsequently through the work you have been doing to track and fight extremism, have Portugal or Portuguese elements ever come up?
Of course they have come up. Almost every country in Europe has come up, over the last seven or eight years that we have been doing this work.

Frankly, the situation in Europe is that wherever there are Muslims, unfortunately a faction of them, today, will subscribe to the sort of ideologies that feed into recruitment into groups such as Al-Qaeda or ISIL or any other type of extremist group.

There will be a faction of these within most communities in Europe. I emphasize it is a minority faction, but our work is an attempt to galvanize the silent majority against them and that is where the real difficulty lies.

For a young Muslim to embrace fundamentalism is one thing, but are you surprised by the amount of Western converts to fundamentalist Islam who have been carrying out attacks or travelling to do Jihad?
That is not really a surprise to me, it has been consistent for a long time, even when I was a member of the Islamist organization. And the way that I explain this is that whereas in the past, 30 or 40 years ago, the Zeitgeist for angry young people who were anti-establishment could have been Stalinist communism, today its Islamism, its islamist extremism. Because it has come to symbolize the peak of anti-establishment ideology, it even attracts people who don't come from a Muslim background.

Diagnosing it this way, our challenge is to make this current Zeitgeist of islamist extremism as unattractive or as unappealing as Soviet Communism has become for many young people across Europe.

How is that done?
If we analyse the make-up of social movements, and what makes them popular, I've narrowed it down to five core factors, and those are what I call the ideas, or the basic ideology.

The Islamists want to enforce a version of Islam over society, that's their idea. Their narratives, or propaganda, that's the second thing they have. The third, after ideas and narratives, they have leaders, charismatic leaders who are able to recruit people through their powers of persuasion. They also have iconography, or symbolism. If we look at ISIL the black flags and other kind of iconography come to mind immediately. The fifth element is that they have a vision, or a dream. And in ISIL's case it is the creation of a Caliphate, with the analogy I drew previously with soviet communism it was the creation of the utopian communist state.

So what we need to be able to do is, through civil society activism, discredit the ideas, narratives, leaders, symbols and dream of Islamist extremism, and we need to be able to capture the imagination of young people with alternative ideas, narratives, symbols, leaders and dreams.

Now that is a very difficult task, and it is actually a task for a couple of generations, it’s not something that is going to happen over ten years.

Governments of Western countries such as Portugal are now discussing ways to try and fight this problem. What pointers would you give them?
I would suggest that they focus on prevention, rather than on de-radicalization, what I mean is that it is a lot easier to try and stop people joining extremist organizations than it is to try and pull them out once they've joined. So the first thing I say is to focus on the prevention element.

The second thing I'd say is that what we mustn't try and do, or States and governments mustn't try and do, is to predefine a correct version of Islam, versus an incorrect one, and then sponsor this predefined correct version.

By doing that the State gets locked into sectarian debates about what real theology is, and the State really has no business interfering in religion in that way, nor vice versa.

A better approach, I feel, and this is the advice I have been giving the British Government and others across the World, is that the State should work within communities to reinforce the core values of the social contract. These would be secularism, respect for human rights and democratic process, a respect for individual autonomy and liberty. And those values, regardless of one's religious affiliation, need to be reinforced and religious communities need to be aware that it is their responsibility to reconcile their respective sects and religious interpretations with the values of the social contract.

It's not the state's problem that they are unable to do that, it's the community's responsibility to do that, and that is where we are very far behind, currently, in this debate, in that the communities across the spectrum, Muslim and non-Muslim, all need to step up to the plate and start reinforcing these core values which make our societies stable and peaceful.

Are you in hiding?
No. I am not in hiding, I am actually running for an election to Parliament, so I am very public. But I take precautions, because as you can imagine some of the things I say are not very popular with extremists.

You abandoned Islamism, but you remain Muslim?
That is correct.

Some people say that these terrorist acts have nothing to do with real Islam. Do you agree?
No I don't. I think it is unhelpful. I was doing an interview with the US media last night and I drew an analogy with the Harry Potter books.

The bad guy in Harry Potter is called Voldemort and the author uses the phrase: "He who must not be named", because people are so scared of this figure, that they are scared of even naming it. That leads to a climate of even more paranoia and more fear. So I think it is unhelpful if we don't name the Islamist ideology. Because what it will do is lead to a climate of even more fear and, invariably, people will start blaming all and every Muslim.

So to avoid all Muslims being blamed, let’s pinpoint exactly what we are talking about, so that we know what it is we need to refute and critique. We are talking about Islamism. Islamism is the desire to impose any version of the religion of Islam over society. That distinction is what makes the difference between a Religious Muslim [and an islamist].

And by the way I am not a religious leader nor do I claim to speak in representation of Muslims, I speak based on my principles and my thoughts.

But however one wants to follow one's own religion: Conservative, liberal, reform, moderate, strict, traditional, however these denominations or differences exist in Catholicism, or any form of religion, that is very different from wanting to impose your view on other people through law, or by infiltrating governments and then enforcing that over society. That is what we refer to as Islamism.

Jihadism is the use of force to spread Islamism. I have a problem with both Islamism in principle and, of course, Jihadism as a method to spread it.

When we talk about jihadism and Islamism, are we talking about mainly a political or a religious problem?
It’s a combination of both, which is why I said earlier that the statement that this has nothing to do with Islam is incorrect, it has something to do with Islam, it may not be what the vast majority of Muslims subscribe to, but it certainly has something to do with Islam, that is undeniable.

And what it has to do with Islam is that you have a bunch of people out there who are so fundamentally insecure in their own relationship with God, that they want to force everyone else to follow the way they think God wants them to follow their religion. That fundamental insecurity is the birth of Islamism.

You suffered terribly at the hands of the military regime in Egypt. How did you feel when Mubarak fell?
It was a cathartic moment for me. Mubarak was eventually held in the same row of prison cells, in the very same prison in which he held me. So in that sense it was very cathartic. I was optimistic at the time about the prospect of a democratic, albeit imperfect future for Egypt. I am slightly less optimistic now, because things moved one step forward but then they moved ten steps backwards, since.

Meanwhile there were elections and the Islamists took charge, only to be ousted by the military one year later. What went wrong? Is this proof that countries like Egypt and Syria are better off without democracy?
I would dispute that, because Tunisia, for example, demonstrated where it can work. Tunisia had a peaceful uprising and a peaceful changeover of government. They went from their post-Islamist "Ennahda" party led by Rashid Ghannouchi to a largely secular government, so Tunisia can demonstrate, or does demonstrate, that Arab countries can handle democracy.

What went wrong in Egypt was that the young democratic activists who rose up against Mubarak weren't organized, they fell into infighting and bickering, it left the way open for the most organized faction in society which happened to be the Islamist faction, the Muslim brotherhood. They came to power, made an absolute dogs mess of the situation and that led to Egypt's largest ever protests in the country's history, against the Muslim Brotherhood's government.

It was a popular uprising against Islamism, which again demonstrates that Muslims are not intrinsically or somehow inherently attracted to Islamism. More people protested the Muslim Brotherhood government than they first did against Mubarak's regime. That, unfortunately, precipitated another military coup and Sisi came to power.

What should have happened at that point was a new election, but unfortunately it led to another coup and since then the situation has gone downhill.

Your journey into fundamentalism was through the Hizb ut-Tahrir party. The goal of this party is to create a new Caliphate. When you were active in the movement, would you have embraced a group like ISIS?
No. I think Hizb Ut-Tahrir is still an organization which works across the World, and their stance on groups like Al-Qaeda, which did exist when I was a member, and ISIS, which didn't, has been that they don't condemn them, but they don't agree with their methodology. It is worth pointing out that my former organization was the first group to popularize this idea of creating this Islamic utopia, or the dystopia we now see in the so-called Caliphate that ISIS declared. Hiz ut-Tahrir was founded in 1953 with that sole mission statement, to resurrect the so called caliphate.

I think ISIL's failed experiment should be sufficient, ideally, to demonstrate to every Islamist, exactly what happens when you try to create Heaven on Earth. These theocratic utopian states are inevitably going to fail. 

Did you ever take up arms?
No. Hizb ut-Tahrir's method of power was twofold. One was to prepare public opinion, which was my role, to work with societies in Pakistan, in Egypt, and here in Britain, to prepare public opinion for the return of the Caliphate. The second thing would be to work diligently to recruit army officers with a view to inciting military coups in Muslim majority countries so that they could take power.

The difference between that form of revolutionary Islamism and Jihadism, i.e. the use of force to spread Islamism, is the difference that socialists have between the whole notion of direct action versus what they call dialectical materialism, allowing society to evolve, itself, as means of production change over time, or the evolution of society versus direct action. Socialists had that split, which led to militant socialists taking direct action, likewise Islamists have had that split.

Hizb ut-Tahrir was of the view that terrorist actions would actually hinder progress in the creation of the Caliphate, so I did have a role in attempting to convince army officers, in Pakistan for instance, to join the organization and to plan a coup, and I had a role in preparing public opinion. But up until this day, though the group has certainly contributed to the atmosphere that lends itself to Jihadism, it isn't in itself a Jihadist organization.

In your book you talk about the institutional racism of the police force, when you were growing up. Has that changed?
Racism and the climate of racism in institutions has changed incredibly in the United Kingdom. If you had told me, when I was fifteen years old, that one day the USA would have an African American president, I would have laughed you out of the room.

It’s an indication of a lot of the progress which has been made. That doesn't mean everything is perfect, there are still societies and countries in Europe [with problems]. Like Greece, for example, which doesn't grant citizenship to people who are not ethnically Greek, even though they might have been born and raised for their entire lives, in that country. So there are challenges when it comes to Europe in itself coming to terms with what being European means, in this day and age. So things, though they have improved, still have a lot further to go.

You also talk about the role of the Palestinian problem. How important is this in the radicalization of young Muslims?
I'd say it’s important, but it’s not the be all and end all.

ISIL demonstrate, as do the Taliban, that extremism can have very local contributing factors. In the case of ISIL the failure of the Iraqi government in dealing with the Sunni situation there, post Saddam Hussein, in the case of the Taliban, of course, it is Afghanistan, in the case of Lashkar e-Taiba, in Pakistan, its Kashmir.

So solving the Palestinian problem is important in and of itself, as an issue, though some people present it as the main cause of extremism, which if solved, would end extremism across the world. I would dispute that assumption.

What exactly happened that you should have a change of heart?
Well I'd suggest they read the book, that's what this interview is about.

But in short, I'll give you a sentence, because it was a long five year process, but when I was imprisoned in Egypt, Amnesty International adopted me as a prisoner of conscience and I say in the book: “Where the heart leads, the mind can follow”. And that touched my heart and it allowed me, for the next four years, to spend my time studying in prison.

I re-read George Orwell's Animal Farm and I came to the conclusion, among many other things that I read, including traditional Islamic literature, that if my comrades in prison ever came to power, they would create the Islamist version of Orwell's parody of Communist Utopia.

And I realised that actually these people would be far worse than what we were trying to overthrow. I think ISIL coming to power in Iraq and Syria has demonstrated that. I am happy that I came to that view, and managed to pull out, before I had anything to do with any project related to recreating a theocratic clerical fascist state in the world.

What is the nature of the work you do nowadays?
We primarily work with challenging public perceptions around the subject of Islamism and extremism, in building civil society resilience, in challenging the ideology of Islamism head on, discrediting the five things I mentioned earlier, attempting to promote an alternative to those five.

We advise governments on policy, we work with media, we publish reports that expose, just today wepublished a report on the ISIS issued guidance on how women should behave in their organization, we translated it from Arabic and published it.

So generally our work through civil society is to build resilience and awareness around the Islamist ideology and the understanding of their operational methodologies.

Member of Hizb ut-Tahrir in Pakistan
The conflict in the Middle East is presented at times as being a conflict between Islamism and the West. Is it more useful to see it as a conflict between Sunni and Shiite Islam?
I'd say that even more important than both those, is the conflict, generally, for civilization, within the Islamic faith and within the rest of the world.

I think the world currently is divided between those who stand for liberty, democratic values, pluralism, tolerance, respect, and the rule of law; and those who stand for any form of fascism, whether clerical fascism, in the form of a theocratic state, or totalitarian states, such as North Korea.

Iran and North Korea are allies, and as is the case with fascists, they have infighting, so the Iranian clerical fascists are fighting Sunni clerical fascists in Iraq and Syria, but the rest of the world is united against all forms of clerical fascism. And in both these general camps, in the camps that stand for liberty and democratic values, are Muslims and non-Muslims; and in the camp which stands for Clerical Fascism are also Muslims and non-Muslims.

So I think that is a more accurate way of looking at the world. As I say, this is a clash within Islamic civilization, not between Islam and the West.

Wednesday, 4 February 2015

Jordânia responde na mesma moeda

A Jordânia respondeu à cruel execução do seu piloto por parte do Estado Islâmico na mesma moeda, executando dois presos com ligações aos jihadistas, incluindo uma mulher iraquiana. Não, não os queimaram vivos numa jaula, mas consta que o resultado final é o mesmo. Pessoalmente, considero que foi a pior resposta possível mas (e isto não é uma justificação moral), poderá ter sido uma forma de satisfazer e garantir a lealdade da tribo de Kassasbeh, que é uma das mais importantes de um reino que sobrevive graças a complexos pactos de lealdade.


Se já nos habituámos a ver a Síria e o Iraque dilacerados pela guerra, não posso dizer o mesmo da Ucrânia. Faz a maior confusão ver aquele conflito que continua a fazer mortes diariamente. Ao Papa também custa, pelos vistos.

Nasceu a Federação Europeia Pró-vida, que junta 29 associações de toda a Europa.

Os paulistas têm um novo superior-geral. É lusófono e é o primeiro não-italiano desde a fundação da ordem (na foto).

Tornar o Islão “Tão banal como o Catolicismo”

Estive em tempos em Istanbul para falar numa conferência sobre “O Diálogo das Civilizações”. Os turcos sabem, ou pelo menos sabiam antes da recente onda de islamização, que se algum dia chegar o “choque” das civilizações previsto por Huntington, serão apanhados no meio.

Tinha outras cidades para visitar e por isso não pude estar numa sessão organizada para os participantes que não falavam turco, em que espectadores enviavam perguntas e comentários por fax. O primeiro comentário surgiu da máquina e dizia: “Vocês são todos infiéis e hão-de morrer esta noite”

Isto foi-me contado por um colega britânico, com muita experiência no Médio Oriente. Nenhum dos participantes ficou surpreendido. Sabiam que este é o tipo de coisa que sabe na região, mesmo na Turquia semi-secular de Ataturk.

Seguindo o exemplo do nosso presidente Obama, não quero culpar “todos os muçulmanos por coisas que membros de outras religiões também fazem” e, para dizer a verdade, já fui ameaçado fisicamente, presumivelmente por um cristão liberal, depois de ter aparecido num programa de televisão. É um dos riscos de ser comentador.

Mas penso muitas vezes naquele episódio da Turquia, quando acontecem coisas como o recente massacre em Paris. Nessas alturas os comentários dividem-se rapidamente em dois grupos. Uma é a facção que diz que os radicais são “uma pequena minoria” e o Islão é uma “religião de paz”. A outra acusa correctamente a primeira de mentir, mas depois tende a adoptar uma condenação vaga e geral do Islão.

A verdade é que há muitos muçulmanos que abominam este tipo de violência. Conheci vários: Em Washington, na Turquia e noutros lados. Alguns falam muito abertamente sobre isto e a imprensa não lhes dá tanta atenção como devia.

Mas não deixa de ser verdade que a “pequena minoria” de que estamos sempre a ouvir falar, para apaziguar os nossos medos e proclamar a nossa própria tolerância, traduz-se em dezenas, ou mesmo centenas de milhões de potenciais terroristas em todo o mundo. Lembram-se das imagens de crianças no Médio Oriente a dançar nas ruas depois do ataque às Torres Gémeas? E em vários países do Ocidente existe uma torrente regular de ameaças e intimidação islâmicas, que raramente são notícia, como aquela minha experiência na Turquia.

As ameaças não surpreendem, uma vez que estudos revelam que grande parte dos muçulmanos apoia o Islão radical, em particular entre os jovens: 42% em França, 35% no Reino Unido e, mesmo na América, 26% acreditam que os atentados suicidas são justificados. Esperemos que com o passar dos anos se tornem mais tolerantes.

Entretanto podemos falar quanto quisermos da “pequena minoria” e da “religião da paz”. (A afirmação de que “Isto não tem nada a ver com o Islão” é uma colossal mentira que nem merece ser levada a sério). A realidade, pelo menos para o futuro próximo, é de que estamos a lidar – ou no caso dos nossos líderes, a não lidar –, com uma realidade que continuará a inspirar violência a um nível global.

Já houve um sem fim de comentários sobre o massacre de Paris, mas também estes não têm sido particularmente iluminadores. O Charlie Hebdo é mais do que uma revista “satírica”, é radicalmente anarquista, com mais do que uma gota do tipo de autoritarismo que frequentemente acompanha a anarquia. 

Tem um particular ódio à religião. Nas palavras de um editor, o seu objectivo era tornar o Islão “tão banal como o Catolicismo”. Na noite escura do anarquismo, toda as religiões são igualmente negras. Mas a verdade é que não são.

Manifestação contra o terrorismo em França
Os muçulmanos radicais não temem ser gozados. Uma prova da falta de seriedade do Charlie Hebdo é a sua crença de que as parvoíces que publicava faziam alguma diferença para o Islão militante. O Charlie Hebdo não é uma voz corajosa da dissidência. No fundo não faz mal a ninguém, nem aos políticos franceses (que, esses sim, temem ser gozados), porque não passa do tipo de coisa que os adolescentes adoram mas que os adultos se limitam a ignorar.

Entre os seus vários vícios e estupidezes, porém, a redacção do Charlie Hebdo tinha uma grande virtude: Não se deixavam intimidar pelo Islão radical. Mesmo depois de serem incendiados em 2011. Ao contrário dos nossos meios de comunicação, eles não cederam à pressão islamita, nem mesmo sob a pretensão da sensibilidade para com a religião.

A França está dividida sobre como lidar com o Islão. Durante anos doutrinou as crianças contra o “racismo”, como se ser seguidor de Maomé nos desse um ADN diferente. Porquê? A única resposta verdadeira é de que era mais fácil para os políticos usar um termo aceite universalmente como negativo do que percorrer o caminho mais complicado de lidar com um problema religioso. Agora estão finalmente a mudar de tom.

Este exemplo é indicativo: O prédio de um amigo parisiense foi apanhado no meio de um motim muçulmano há uns anos. Estes acontecem com mais frequência do que nos chega. Por vezes os supermercados são saqueados, mas a autocensura da imprensa suprime estas notícias para não alimentar a “islamofobia”. O meu amigo, um católico ortodoxo, politicamente liberal, que trabalhou durante algumas décadas para uma caridade católica em Paris, sentiu-se dividido, mas não pôde deixar de condenar o motim. A polícia permitiu que as lojas fossem pilhadas, propriedades destruídas, estradas bloqueadas, etc. Os seus próprios filhos, que tinham frequentado escolas católicas, disseram-lhe que não podia dizer essas coisas dessas, que era “racista”.

Mas ele não está sozinho. A Frente Nacional francesa, normalmente descrita como sendo de “extrema-direita”, teve 25% dos votos (o maior bloco em França), nas últimas eleições europeias. Isto não é, a meu ver, porque as suas posições por vezes ignóbeis se tornaram de repente mais populares. Tal como a Charlie Hebdo, a Frente Nacional diz, por vezes, a verdade, mesmo que de forma pouco apetecível, mas diz abertamente coisas que muitos já concluíram com base na sua experiência diária. Suprimir a “islamofobia”, infelizmente para os franceses, só serviu para tornar os muçulmanos ainda mais temidos e impopulares.

Há outras reacções possíveis, embora pouco praticadas. Uma ex-aluna, que viveu e trabalhou em países muçulmanos, escreveu-me de Paris para dizer que se sente mais vulnerável em França agora do que em qualquer altura antes. Mas também disse isto: “A reacção ao ataque foi interessantíssima. Os padres franceses têm sido objecto de muita da venenosa ridicularização da Charlie Hebdo. Muita desta tem sido de tom pessoal, de mau gosto e brejeiro… Esta noite um grupo de padres com quem estive rezou pelas vítimas e pelas suas famílias. Estas orações foram para os perseguidores, feitas pelos mesmos homens que tinham sido perseguidos. Questiono-me quantas mesquitas pelo mundo fora teriam feito o mesmo.”

Pois, é a banalidade do Catolicismo.


Robert Royal é editor de The Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute em Washington D.C. O seu mais recente livro The God That Did Not Fail: How Religion Built and Sustains the West está agora disponível em capa mole da Encounter Books.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na sexta-feira, 30 de Janeiro de 2015)

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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.

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