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João Paulo II |
1. “Na ressurreição de Cristo, ressurgiu a vida do género
humano”
Que o anúncio pascal chegue a todos os povos da terra
e toda a pessoa de boa vontade se sinta protagonista
neste dia que o Senhor fez,
dia da sua Páscoa,
no qual a Igreja, com sentimentos de júbilo,
proclama que o Senhor ressuscitou verdadeiramente.
Este grito, saído do coração dos discípulos
no primeiro dia depois do sábado,
atravessou os séculos e agora,
neste preciso momento da história,
volta a alentar as esperanças da humanidade
com a certeza imutável da ressurreição de Cristo
Redentor do homem.
2. “Na ressurreição de Cristo, ressurgiu a vida do género
humano”.
O espanto incrédulo dos apóstolos e das mulheres,
que tinham ido ao sepulcro ao nascer do sol,
hoje torna-se experiência comum de todo o Povo de Deus.
Enquanto o novo milénio dá os primeiros passos,
desejamos confiar às jovens gerações
a certeza fundamental da nossa existência:
Cristo ressuscitou e n'Ele ressurge a vida do género
humano.
“Cristo ontem, Cristo hoje
Cristo sempre, meu Salvador”.
Volta à memória este cântico de fé,
que tantas vezes, ao longo da recente caminhada jubilar,
repetimos, aclamando Aquele
que é “o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último,
o Princípio e o Fim” (Ap 22, 13).
A Ele permanece fiel a Igreja peregrina
“entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus”
(S. Agostinho).
Levanta o olhar para Ele e não teme.
Caminha fixando o seu rosto,
e repete aos homens do nosso tempo
que Ele, o Ressuscitado,
é “o mesmo ontem, hoje e sempre” (Heb 13, 8).
3. Naquela dramática Sexta-feira da Paixão,
que viu o Filho do Homem
feito “obediente até à morte
e morte de cruz” (Fil 2, 8),
encerrava-se a existência terrena do Redentor.
Já morto, foi Ele depositado à pressa no sepulcro,
ao ocaso do sol. Ocaso singular aquele!
Aquela hora obscurecida pelas trevas ameaçadoras
marcava o fim do “primeiro acto” da obra da criação,
transtornada pelo pecado.
Parecia o êxito da morte, o triunfo do mal.
Mas não, na hora do gélido silêncio do túmulo,
era levado ao seu pleno cumprimento o desígnio salvífico,
tinha início a “nova criação”.
Feito obediente por amor até ao sacrifício extremo,
Jesus Cristo é agora “exaltado” por Deus
que “Lhe deu um nome que está acima de todo o nome” (Fil
2, 9).
Por este nome, retoma esperança toda a existência humana.
Por este nome, o ser humano
é arrebatado ao poder do pecado e da morte
e devolvido à Vida e ao Amor.
4. Neste dia, o céu e a terra cantam
“o nome” inefável e sublime do Crucificado que
ressuscitou,
d'Aquele que realizou o prodígio mais desconcertante da
história.
Tudo parece como antes, mas na realidade já nada é como
antes.
Ele, Vida que não morre, redimiu
e reabriu à esperança toda a existência humana.
“Passou o que era velho,
eis que tudo se fez novo” (2 Cor 5, 17).
Todo projecto e desígnio do ser humano,
desta nobre e frágil criatura,
tem hoje um “nome” novo em Cristo ressuscitado dos
mortos,
porque, n'Ele, “ressurgiu a vida do género humano”.
Realiza-se plenamente, nesta nova criação,
a palavra do Génesis: “E Deus disse:
‘Façamos o homem à nossa imagem,
à nossa semelhança’” (Gen 1, 26).
Na Páscoa, Cristo,
novo Adão que Se tornou “espírito vivificante” (1 Cor 15,
45),
resgata o velho Adão da derrota da morte.
5. Homens e mulheres do terceiro milénio,
a todos se destina o dom pascal da luz,
que põe em fuga as trevas do medo e da tristeza;
a todos se destina o dom da paz de Cristo ressuscitado,
que quebra as cadeias da violência e do ódio.
Redescobri hoje, com alegria e admiração,
que o mundo deixou de ser escravo de acontecimentos
inelutáveis.
Este nosso mundo pode mudar:
a paz é possível mesmo em lugares onde há demasiado tempo
se combate e morre, como na Terra Santa e Jerusalém;
é possível nos Balcãs, já não condenados
a uma aflitiva incerteza com o risco
de tornar vã qualquer proposta de acordo.
E tu, África, terra martirizada
por conflitos sempre na espreita,
levanta esperançada a cabeça
confiando na força de Cristo ressuscitado.
Graças à ajuda d'Ele, também tu, Ásia,
berço de seculares tradições espirituais,
podes vencer o desafio da tolerância e da solidariedade.
E tu, América Latina, depósito de jovens promessas,
só em Cristo encontrarás capacidade e coragem
para um desenvolvimento respeitador de todo o ser humano.
Vós, homens e mulheres dos vários Continentes,
extraí do seu túmulo, já vazio para sempre,
o vigor necessário para derrotar
as forças do mal e da morte,
e colocar toda a pesquisa e avanço técnico e social
ao serviço dum futuro melhor para todos.
6. “Na ressurreição de Cristo, ressurgiu a vida do género
humano”.
Desde que o vosso túmulo, ó Cristo, foi encontrado vazio
e Cefas, os discípulos, as mulheres,
e “mais de quinhentos irmãos” (1 Cor 15, 6)
Vos viram ressuscitado,
começou o tempo em que a criação inteira
canta o vosso nome ”que está acima de todo o nome”
e espera o vosso regresso definitivo, na glória.
Neste tempo, entre a Páscoa
e a chegada do vosso Reino sem fim,
tempo que se assemelha às dores de um parto (cf. Rom 8,
22),
amparai-nos no compromisso de construir um mundo mais
humano,
onde as chagas do sofrimento humano se vão cicatrizando,
graças ao bálsamo do vosso Amor que venceu a morte.
Vítima pascal oferecida pela salvação do mundo,
fazei que não desfaleçamos neste nosso compromisso,
mesmo quando o cansaço tornar pesados os nossos passos.
Vós, ó Rei vitorioso, concedei-nos a nós e ao mundo
a salvação eterna!
O Papa João Paulo II nasceu no dia 18 de Maio de 1920 em
Wadowice, na Polónia, e foi eleito Papa no dia 16 de Outubro de 1978. Foi
declarado Santo pelo Papa Francisco no dia 27 de Abril, 2014
Publicado pela primeira vez em The
Catholic Thing no Domingo, 17 de Abril de 2022)
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