Wednesday, 13 April 2022

70 Bispos Alertam para “Caminho Sinodal” Alemão

Francis X. Maier

Em tempos de desassossego e confusão, tentativas bem-intencionadas de descentralizar uma comunidade ou uma organização podem ter consequências indesejadas. A Igreja não é imune a este facto, e isso é algo que os católicos na Alemanha parecem determinados a comprovar.

Em declarações feitas à revista “Stern”, em finais de Março, o cardeal Reinhard Marx, de Munique, pareceu incentivar alterações ao ensinamento da Igreja em relação à homossexualidade. Reconhecendo que já abençoou casais homossexuais, Marx notou que “o catecismo não está escrito na pedra” acrescentando que “há anos que me sinto mais livre para dizer aquilo que penso, e quero modernizar o ensinamento da Igreja”.

Os comentários de Marx não nos devem surpreender. Estão em linha com o trabalho desenvolvido, até à data, pelo “Caminho Sinodal” alemão, um processo de consulta plurianual em curso na Alemanha. Embora não sejam vinculativos para os líderes da Igreja alemã, os documentos do Caminho Sinodal já expressaram apoio ao celibato opcional para os padres, para bênçãos para uniões homossexuais, revisão do ensinamento da Igreja sobre homossexualidade e ordenação de mulheres, e um papel maior para os leigos na nomeação de bispos.

Especialmente numa altura em que se está a preparar um “sínodo sobre a sinodalidade”, para 2023, o teor do Caminho Sinodal Alemão tem implicações profundamente perturbadoras e, para alguns, cismáticas. No dia 9 de Março os bispos dos países nórdicos expressaram a sua preocupação com o percurso alemão. Isto seguiu-se a uma carta pública divulgada em finais de Fevereiro pelo presidente da Conferência Episcopal polaca. Agora, numa carta de 11 de Abril tornada pública na passada segunda-feira e divulgada pela Catholic News Agency, mais de 70 bispos, incluindo quatro cardeais, dos Estados Unidos, Canadá e África, juntam as suas vozes ao coro de preocupações.

Na sua “Carta Aberta Fraterna aos Nossos Irmãos Bispos na Alemanha”, os signatários notam que “enquanto irmãos bispos, as nossas preocupações incluem, mas não se limitam ao seguinte”:

1. Ao não escutar o Espírito Santo e o Evangelho, as acções do Caminho Sinodal minam a credibilidade da autoridade da Igreja, incluindo a do Papa Francisco; da antropologia cristã e moralidade sexual; e a fiabilidade das Escrituras.

2. Embora incluam ideias e vocabulário religioso, os documentos do Caminho Sinodal Alemão parecem ser inspirados, em grande medida, não pela Escritura e pela Tradição – que de acordo com o Concílio Vaticano II são “um único depósito da Palavra de Deus” – mas antes por análises sociológicas e ideologias políticas contemporâneas, incluindo de género. Eles vêem a Igreja e a sua missão da perspectiva do mundo, e não pela lente das verdades reveladas na Escritura e pela autoridade da Tradição da Igreja.

3. O conteúdo do Caminho Sinodal também parece reinterpretar, e por isso diminuir, o sentido da liberdade cristã. Para o cristão a liberdade está no conhecimento, na vontade e na capacidade desimpedida de fazer o bem. A liberdade não é “autonomia”. A verdadeira liberdade está, como ensina a Igreja, ligada à verdade e ordenada à bondade e, no final de contas, à beatitude. A consciência não cria a verdade, nem é uma questão de preferência pessoal ou autoafirmação. Uma consciência cristã bem formada mantem-se submissa à verdade sobre a natureza humana e às normas que orientam uma vivência recta, revelada por Deus e ensinada pela Igreja de Cristo. Jesus é a verdade, que nos liberta. (Jo. 8)

4. A alegria do Evangelho – que como o Papa Francisco tantas vezes sublinha é uma parte essencial da vida cristã – parece estar totalmente ausente das discussões e dos textos do Caminho Sinodal, uma falha gritante num esforço que procura a renovação pessoal e eclesial.

Cardeal Marx
5. Em quase todo o seu processo, o Caminho Sinodal é o trabalho de peritos e de comissões: cheia de burocracia, obsessivamente crítica e introspectiva. Assim reflecte uma manifestação alargada de esclerose eclesial e, ironicamente, é marcada por um tom antievangélico. Nos seus efeitos, o Caminho Sinodal revela maior submissão e obediência ao mundo e às ideologias que a Jesus Cristo enquanto Senhor e Salvador.

6. O enfoque do Caminho Sinodal no “poder” dentro da Igreja sugere um espírito absolutamente contrário à verdadeira natureza da vida cristã. No final de contas, a Igreja não é apenas uma “instituição”, mas uma comunidade orgânica; não é igualitária, mas familiar, complementar e hierárquica – um povo consolidado no amor por Jesus Cristo e uns pelos outros, em seu nome. Este encontro com Jesus, como visto no Evangelho e nas vidas dos santos ao longo da história, muda corações e mentes, cura, afasta-nos de uma vida de pecado e infelicidade e revela o poder do Evangelho.

7. O pior problema do Caminho Sinodal alemão, e o mais preocupantemente imediato, é terrivelmente irónico. Através do seu exemplo destrutivo, poderá levar alguns bispos e muitos leigos fiéis, a desconfiar da própria ideia de “sinodalidade”, dificultando assim ainda mais a conversa necessária da Igreja sobre o cumprimento da missão de converter e santificar o mundo.

Num tempo de confusão, a última coisa de que a nossa comunidade de fé precisa é de mais do mesmo. Enquanto discernem a vontade do Senhor para a Igreja na Alemanha, asseguramos-vos das nossas orações por vós.

Embora reconhecendo que “muitos dos que estão envolvidos no Caminho Sinodal são sem dúvida pessoas de carácter excelente”, os bispos signatários notam que “a história do Cristianismo está recheada de esforços bem-intencionados que perderam a âncora da Palavra de Deus, num encontro fiel com Jesus Cristo” e numa “verdadeira escuta do Espírito Santo”. Entre esses esforços podemos incluir até a Reforma, que começou quase precisamente há 500 anos… na Alemanha.

O cerne da carta de 11 de Abril está aqui: “A urgência da nossa carta conjunta está enraizada em Romanos 12 e sobretudo na cautela deixada por Paulo: Não se conformem com o mundo. E a sua seriedade deriva da confusão que o Caminho Sinodal já causou e continua a causar, e o perigo de um cisma na vida da Igreja que inevitavelmente resultará”.

Como outros avisaram antes de nós: O que acontece na Alemanha não se fica pela Alemanha. A história já nos ensinou essa lição uma vez.


Francis X. Maier é conselheiro e assistente especial do arcebispo Charles Chaput há 23 anos. Antes serviu como Chefe de Redação do National Catholic Register, entre 1978-93 e secretário para as comunidades da Arquidiocese de Denver entre 1993-96.

Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na terça-feira, 12 de Abril de 2022)

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