Friday, 7 October 2022

Nova denúncia de abusos em Lisboa - Massamá

Soube-se esta sexta-feira que um padre pediu a suspensão do seu ministério no Patriarcado de Lisboa no seguimento de ter sido acusado de abuso sexual de menores, numa denúncia feita à Comissão Diocesana de Lisboa. 

Algumas reflexões sobre este caso.

O timing. Já antes critiquei o Patriarcado de Lisboa por falhas na comunicação destas situações, por muitas vezes o fazer em reacção quando sabe que estão prestes a sair notícias ou reportagens sobre os casos que até então eram mantidos em segredo. Argumentei que esta não me parece uma boa política de comunicação, primeiro porque deixa a narrativa nas mãos da imprensa e, segundo, porque não favorece a transparência e pode, eventualmente, facilitar o encobrimento. 

Esperemos para ver se foi o caso agora, mas pelo menos até ao momento não saiu nenhuma reportagem de que eu saiba. Resta perceber porque é que o Patriarcado decidiu divulgar os detalhes deste caso, incluindo o nome do suspeito, hoje, se o caso, como veremos, já tem pelo menos alguns meses.

O nome. Também já critiquei o facto de o Patriarcado não seguir uma linha no que diz respeito à divulgação do nome dos suspeitos. Alguns defendem que é melhor mesmo divulgar sempre o nome, assim evitando lançar uma suspeita sobre todos os outros sacerdotes, mas outros acham que não. Eu próprio não tenho a certeza, vejo vantagens e desvantagens em ambas as abordagens. Mas pelo menos deve haver uma linha. Nos mais recentes casos, nos primeiros dois não se revelou o nome do suspeito (o caso das mensagens impróprias enviadas num grupo de Whatsapp e na suspeita de violação de uma mulher adulta) mas agora revelou-se. [Na primeira versão deste artigo escrevi, por engano, que no caso das mensagens tinha-se revelado o nome. Não foi o caso]. 

O tal "segundo caso"? Quem me tem acompanhado, e a cronologia que mantenho sobre este assunto, sabe que em meados de julho o ex-procurador Souto Moura, que faz parte da comissão diocesana, falou em duas denúncias recebidas pela comissão desde a última vez que tinham sido revelados números, que tinha sido em maio. Uma dessas denúncias, sabia-se já na altura, dizia respeito ao tal caso das mensagens no grupo do Whatsapp, mas não se sabia qual era a segunda. Eu tentei saber alguns dados sobre esse tal segundo caso, sem sucesso. Não obtive sequer resposta ao email que enviei. Mais tarde D. Manuel Clemente, numa carta aberta, confirmou que havia um segundo caso que tinha sido enviado para Roma e que quando viesse uma decisão seriam revelados mais detalhes, tudo bem. 

Será este, então, o segundo caso? Tudo indica que sim. Mas isso levanta uma questão, que se prende com a primeira, do timing. Se os dados só iam ser revelados quando viesse resposta de Roma, então essa resposta já chegou? Se sim, qual foi? Se sim, porque continua em segredo de justiça no foro canónico? Não estou a fazer acusações, simplesmente a levantar questões que padecem de resposta. 

A data da suspensão. Por fim, um dado que pode ser apenas um mal-entendido, mas também pode ser importante, e eu não tenho a informação toda. Souto Moura deu a tal entrevista em meados de julho. Se este é o segundo caso, então isso significa que a Comissão Diocesana recebeu a denúncia pelo menos até ao dia 15 de julho, provavelmente antes. 

Mas a notícia da Renascença diz que o padre pediu a sua própria suspensão da paróquia, onde não comparece "desde agosto". Repito, isto pode ser um mal-entendido. Se calhar o padre deixou de aparecer mal se soube da denúncia, em julho, e a pessoa que falou com a Renascença enganou-se nas datas. É perfeitamente possível. Mas se não foi esse o caso, então como se explica que só se suspendeu em agosto?

Porque é que eu faço estas perguntas? Porque é precisamente nestes detalhes que se joga a transparência na resposta à crise dos abusos na Igreja e como estamos cansados de saber, sem essa transparência o problema apenas tenderá a eternizar-se. 

E já que estamos a falar de transparência... Aqui está a nota do Patriarcado sobre este assunto. Para a encontrar é preciso ir ao separador "Documentos" e depois "Outros Documentos", que é o décimo ítem da lista. Na homepage, só aparece muito lá para baixo, a seguir aos cânticos, aos mais recentes tweets e à agenda.

É possível que surjam respostas a estas questões nos próximos dias. Estarei atento, mas se alguém tiver mais informação, ou se virem noutros órgãos de imprensa mais dados, agradeço que me os façam chegar. 


 Ouça os dois episódios do Hospital de Campanha sobre os abusos em Portugal

Conversa com Pedro Gil - Parte 1

Conversa com Pedro Gil - Parte 2

5 comments:

  1. Mas na nota do patriarcado vem o nome escarrapachado....

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    1. Certo, eu digo isso no post. "Nos mais recentes casos, num revelou-se o nome do suspeito (o caso das mensagens impróprias enviadas num grupo de Whatsapp), noutro não se revelou (suspeita de violação de uma mulher adulta) e agora volta a revelar-se."

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    2. Bom, está certo. Desculpe

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  2. Consta que um jornal ia publicar algo que acabou por não sair, talvez por agora. Daí talvez a revelação do nome…
    Outro ponto: Com esta nota a reportagem terá ficado queimada? Sairá ainda?
    Vai-se percebendo que a imprensa desperta comunicados. Terá saído furada esta política de comunicação com o avanço de uma notícia pela própria entidade Igreja?
    Aguarda-se pelas cenas dos próximos capítulos. Mas continua-se a não saber fazer comunicação.

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  3. É vergonhoso que portais católicos como este, anunciem estes casos que têm acima de tudo, como objectivo final, a destruição da Igreja...

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