Peter Laffin |
Os meus amigos também gostaram de me ver no dia. Sobretudo aqueles que não me viam há algum tempo. O que fazes tu com uma mulherona destas?, brincavam, e eu ria-me, cúmplice.
Mas o que mais os surpreendeu
foi a celebração tão marcadamente católica, que decorreu na Catedral de St.
Patrick, em Norwich, no Connecticut. Converti-me do ateísmo ao catolicismo
quando tinha vinte e tal anos (agora tenho 39). Isso não era surpresa para
ninguém, mas poucos esperavam que a minha fé tivesse primazia num dia que era,
ostensivamente, sobre mim e a minha mulher.
Mesmo aqueles com quem tenho
estado mais nos últimos anos ficaram admirados com a falta de subtileza. O meu
círculo social manteve-se bastante secular-liberal depois da minha conversão.
Uma vez que me converti já depois da universidade, nunca fiz parte de grupos de
jovens católicos. E embora tenha vivido a minha fé de forma aberta, nunca a esfreguei na cara dos meus amigos. Acho (espero) que com isso ganhei o
respeito deles ao longo dos anos.
Já ouvi conversas suficientes
em festas para saber o que pensam sobre o Catolicismo. E certamente já vi o que
chegue nas redes sociais.
Mas o amor deles por mim é
superior ao ódio pela religião. Se é bom para mim, está bem para eles. E por
isso foram capazes de apreciar a minha fé enquanto terapia, como se tivesse
começado a praticar ioga ou adoptado uma dieta mais saudável. O catolicismo era
apenas mais um item no meu plano de bem-estar pessoal, por pouco apelativo que
lhes parecesse.
E por isso o nosso casamento
profundamente católico foi um choque para eles, como teria sido caso eu tivesse
casado num estúdio de ioga e tivesse dado graças e todo o louvor ao Mestre
Yogi.
“Eras uma pessoa tão ansiosa”,
disse-me um velho amigo durante a festa. “Acho que a religião te tem feito
bem.”
E é verdade. Eu era uma
desgraça antes, por isso aceitei o elogio.
“Eu sabia que te tinhas
convertido ao catolicismo”, disse outro, “mas não sabia que eras mesmo
católico”
“Nunca o escondi”, respondi. “Mas
não andavas por aí com uma grande cruz à volta do pescoço, nem nada”, disse
ele.
“O terço pendurado do espelho
retrovisor não conta?”
“Seja como for”, disse ele.
“Estás com bom ar. Estou muito contente por ti”, e deu-me um grande abraço.
Desde que entrei para a Igreja
sempre fui a favor da abordagem de mostrar mais e falar menos, no que respeita
a evangelização. “Prega sempre o Evangelho. Se necessário, usa palavras”,
disse, supostamente, São Francisco de Assis, embora tenha dificuldade em
imaginá-lo a usar tais expressões melosas.
É um belo sentimento: devemos
aspirar a viver o Evangelho de tal forma que deixaria de ser necessário
recorrer aos argumentos racionais. Mas é também muito pouco prático (eu não sou
suficientemente santo para o conseguir) e suspeitamente conveniente. Se nunca
dizemos quem somos, a tentação de levar uma vida dupla torna-se demasiado
forte.
O modelo de pregar pelo
exemplo também nos dá uma escapatória para não termos de explicar as partes
mais complexas da nossa fé. Mesmo as premissas mais básicas – que a nossa
existência se deve a um Criador que, qual bom progenitor, respeita a nossa
liberdade na mesma medida em que nos ama, loucamente – requer preparação,
prática e esforço.
São Francisco a pregar, com palavras |
Partem do princípio que quando
usamos a palavra “Deus” nos estamos a referir a um Pai Natal cósmico que só
concede desejos a quem se benze antes das refeições. Ou a uma projecção
freudiana para a realização de desejos (a descrença em Deus encaixa melhor aqui
para uma espécie com inclinação para o pecado). Ou então a um moderno Ódin, um
Ser Muito Grande entre outros Seres Muito Grandes, a batalhar no espaço.
Ainda no mês passado o popular
filósofo Sam Harris tentou provar a inexistência desta versão particular de
Deus, referindo que mesmo os telescópios mais avançados não o revelam.
A sério?
Pessoas como estes meus amigos
também não fazem ideia do que significa “Cristo”. Pensam que Jesus – se é que
existiu – era uma versão primordial do guerreiro de justiça social (e
possivelmente um zombie, o que até consideram bastante fixe). Não sabem o que
diferencia a Igreja Católica dos Presbiterianos ou da Igreja Baptista de
Westboro. Não conseguiriam distinguir o Espírito Santo do Novo Banco.
Porquê? Porque os católicos
não lhes explicaram.
Pois bem, acabou. Chegou a
altura de pregarmos o Evangelho e de usarmos palavras mais vezes, sobretudo
aqueles de nós com amigos e conhecidos no mundo secular.
Para que fique claro, não
estou a sugerir começar cada conversa com as palavras: “Já ouviste a Boa
Nova?”, nem que levemos todas as conversas para uma explicação da Presença Real
de Cristo na Eucaristia.
Só peço que fiquemos atentos a
oportunidades evangélicas que se possam apresentar. Que quando se abre uma
brecha numa conversa, ajudemos a escancarar a porta para que a luz possa
entrar.
Para mim, um bom começo seria
uma resposta à reacção dos meus amigos ao meu "Casamento Muito Católico".
Poderia explicar-lhes que não
é por razões terapêuticas que tenho a minha fé, embora seja saudável. De facto,
não pratico a minha fé por nenhuma razão secundária, mas sempre como um fim em
si mesmo. Porque deixar-me morrer na Luz é o único acto racional. Porque cada
vez que penso que compreendi Cristo ou senti toda a força do seu abraço,
abre-se um novo abismo que me engole. Porque o Catolicismo é verdade e beleza
sem fim.
Mas acima de tudo porque estou
apaixonado. E porque, inexplicavelmente, a Luz também está apaixonada por mim.
Talvez lhes diga isso mesmo.
Talvez tenha acabado de o fazer.
Peter Laffin escreve de New England. O
seu trabalho mais recente encontra-se no The Catholic Thing, The Washington
Examiner, e The National Catholic Register.
(Publicado pela primeira vez
em The
Catholic Thing no Domingo, 9 de Outubro de 2022)
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