Pedro Strecht, da comissão independente |
Muitos casos novos, muitas
acusações, muitas investigações. Penso que vale a pena fazer agora um pequeno
apanhado do que sabemos e do que aprendemos até agora.
A comissão independente fazia
falta
Esta é a primeira grande
conclusão. Repare-se que o ano passado já existiam comissões em todas as
dioceses de Portugal. Contudo, e segundo o que transparecia, só tinham sido
reportados poucos casos. A criação da comissão independente, liderada por Pedro
Strecht mudou tudo. Segundo a última conferência de imprensa da comissão já
foram validados mais de 400 testemunhos. Isto só pode querer dizer uma coisa.
As pessoas – bem ou mal – não confiam nas comissões diocesanas. Não acho que
isto tenha a ver com a personalidade dos bispos ou dos membros particulares destas
comissões, tem a ver com a sua própria natureza. Uma comissão liderada por um
bispo, como acontece em algumas dioceses, ou por um padre, não pode ser
considerada independente e para o comum dos mortais isso será sempre visto como
a Igreja a investigar-se a si mesma.
O resultado é que quando foi criada a comissão independente as acusações surgiram em muito maior número. E
atenção que, segundo ouvi dizer, a esmagadora maioria dos testemunhos recebidos
pela comissão são do litoral e das cidades, o que significa que o número real
até pode ser bem maior.
Não sei se o fizeram
contrariados, ou se houve divisões internas, nem isso interessa agora. O que é
facto é que os bispos portugueses optaram por criar a comissão e em boa hora o
fizeram. O próprio Pedro Strecht diz que as dioceses estão a colaborar e que
não existe qualquer pressão sobre a comissão. Ainda bem! É bom sinal.
Endémico
Na mesma conferência de
imprensa Pedro Strecht usou uma palavra muito importante. Não vi a maioria dos
órgãos de comunicação social a fazer grande caso, mas a mim parece ser
fundamental. O número de casos permite concluir que o problema dos abusos, em
alguns locais, se tornou “endémico”.
Esta é a palavra fatal. Abusos
sempre terá havido, em todos os quadrantes da sociedade, todas as classes, todas
as profissões. E por mais que o desejemos, dificilmente conseguiremos um mundo
em que deixe de haver. Isso não é nada de novo. A questão sempre foi saber se o
que tínhamos em Portugal eram casos pontuais, que foram tratados de forma melhor,
pior, ou de todo, ou se tínhamos um problema em maior escala, um problema de
cultura de abusos e de encobrimento. O termo usado por Strecht é por isso da
maior importância porque permite concluir que em Portugal, em muitos lugares, o
problema chegou mesmo a ser de uma cultura de abusos, que não se podem resumir às
más acções de um homem desequilibrado.
Apenas o relatório final nos
permitirá saber o verdadeiro grau deste problema endémico, e em que lugares
isso acontecia. Mas quebra-se o mito, de facto, de Portugal ser uma exceção ao
que se passou em vários outros países.
A Igreja está a aprender
Isto é fundamental. Há meses
que escrevo, digo, e insisto que um dos grandes problemas da parte da Igreja
tem sido falhas de comunicação. Sei agora que isso está a mudar. Os bispos já
se estão a aconselhar junto de quem sabe. Nos últimos tempos pelo menos três dioceses
que têm sido mais faladas a este respeito contrataram, ou pediram ajuda a,
especialistas em comunicação.
Não se trata certamente de
arranjar formas de iludir o público, ou disfarçar problemas, mas antes de não
agravar problemas sérios, como são os abusos, com respostas mal pensadas,
coisas ditas sob pressão e falta de linhas de conduta no que diz respeito à
informação prestada.
Dou um exemplo prático, para
que isto não fique só no abstrato. Critiquei comalguma dureza a falta de uma linha orientadora do Patriarcado de Lisboa na
comunicação de casos. Em Agosto anunciaram um caso, no dia em que ia ser
publicada uma reportagem sobre esse mesmo padre. Dias depois soube-se, de fonte
da comissão diocesana, que havia também outro caso em investigação. Porque é
que um foi alvo de comunicado e outro não? Obviamente tinha sido porque o
primeiro caso ia sair na imprensa e o Patriarcado quis antecipar-se. Mais tarde
foi dito que de facto havia um segundo caso, mas que este seria comunicado publicamente
quando chegasse uma decisão de Roma. Entretanto, há dias, o Patriarcado chegou
mesmo a publicar uma nota sobre esse caso, que
envolvia o pároco de Massamá. Obviamente eu, e outros, suspeitámos que o
faziam mais uma vez porque estava prestes a sair uma reportagem, mas, entretanto,
soube que não. Fizeram-no, por sua livre iniciativa, cumprindo assim o desígnio
da transparência que tanto se exige, e assumindo assim o controlo da narrativa,
evitando ter de estar sempre a reagir à agenda mediática.
Esta é a melhor estratégia e a
mudança revela humildade, vontade de aprender e de adoptar melhores práticas.
Ainda há muito para saber, e há
muito para aprendermos todos. Que todos – bispos, clero, leigos, jornalistas e
especialistas em comunicação – o saibamos fazer com amor à verdade e em vista
do melhor para a Igreja e para as vítimas, sejam elas pessoas que foram
abusadas, sejam elas pessoas que foram falsamente acusadas.
Mais sobre este assunto dos abusos na Igreja
Conversa com Pedro Gil no Hospital de Campanha - Parte 1
Conversa com Pedro Gil no Hospital de Campanha - Parte 2
Hospital de Campanha - Os casos de D. Ximenes Belo e de D. José Ornelas
Cronologia de casos de abusos na Igreja em Portugal
Contributos para uma reflexão sobre casos de abusos na Igreja
Esta comissão é tão vergonhosa quanto os abusos, pois é um tribunal que permite à opinião pública e aos detractores da própria Igreja julgá-La. É infame que, publicamente, isto tenha sido feito. É (aparentemente) um acto de autodestruição levado a cabo pelos marxistas infiltrados na Igreja e por alguns clérigos desejosos de agradar e serem politicamente correctos. Tudo isto devia ser tratado sim, rigorosamente mas em segredo total, porque não é a Igreja que comete este crime, mas as pessoas más que lá estão dentro, nomeadamente homossexuais!
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