Não, não é mesmo uma das freiras... acho eu |
Este ano o Vaticano publicou uma nota em que criticava uma
organização de líderes de ordens religiosas femininas na América, que representa
cerca de 80% das religiosas daquele país.
Entre as críticas está uma forte tendência feminista e
exagerado empenho em causas sociais por oposição a causas que o Vaticano
considera importantes, como a promoção do Cristianismo, a causa da vida, etc.
A Leadership Conference of Women Religious (LCWR) está
sujeita à Santa Sé e o Vaticano nomeou um bispo para supervisionar as suas
actividades de agora em diante.
Hoje começa a conferência anual da LCWR. Entre os assuntos a
discutir estará a resposta a dar ao Vaticano. As freiras já indicaram que não
estão nada satisfeitas e até disseram ao arcebispo Peter Sartain, o tal nomeado
para supervisionar a organização, que a sua presença na conferência não seria
bem-vinda.
As freiras consideram injusto que o Vaticano as critique e
por isso vão concertar uma resposta num encontro subordinado ao seguinte tema: “Mystery
Unfolding: Leading in the Evolutionary Now”.
Sinceramente, nem sei bem como traduzir isto: “Um mistério que
se revela: Liderança no Agora Evolucionário”? Faz tanto sentido para mim assim
como no inglês original.
E quem é a conferencista principal deste encontro de freiras
católicas? A senhora Barbara Marx Hubbard. Certamente uma figura destacada do
mundo católico americano… ou não. Marx Hubbard não é católica nem pertence a
qualquer outra religião.
Então como é que ela se descreve? Segundo a sua página de
Facebook, assim:
“I am an 82
year old Visionary enjoying “Regenopause 2.” Regenopause 1 is from 50 to 80. #
2 is 80 and beyond. I feel I am here to be a voice for the Collective Emergence
of humanity as a Co-creative Universal Species!”
Mais uma vez, vou tentar traduzir: “Sou uma Visionária de
82 anos, a gozar a ‘Regenopausa 2.’ Regenopausa 1 é dos 50 aos 80. O 2 é dos 80
em diante. Sinto que estou aqui para ser uma voz da Emergência Colectiva da
humanidade enquanto Espécie Co-Criadora Universal!”.
Desculpe?
Há tempos publiquei aqui no blogue uma reportagem sobre a
Igreja Ortodoxa Africana de São John Coltrane. Disse na altura que: “Depois de
uns quantos anos a trabalhar nesta área e mais uns quantos apenas a segui-la
com interesse, continuo a surpreender-me com algumas das coisas que descubro.”
Olá Filipe,
ReplyDeleteDe acordo com o relatório da LCWR de 2012 que querem dizer é "Even as leaders attend to the demanding practicalities of now, they must be attentive to what is evolving locally, globally, and within the new frontier of human consciousness." Sendo que as mudanças são hoje tão rápidas, que líder que é líder tem que saber acompanhá-las. A Sra. Hubbard, de acordo com a sua página profissional e não privada/social é "A prolific author, visionary, social innovator, evolutionary thinker and educator, she is co-founder and chairperson of the Foundation for Conscious Evolution". Ou seja uma académica que dedica a sua carreina a estudar, leccionar e palestrar no tema que estuda "Conscious Evolution" por oposição à evolução natural/darwiniana.
A ligação da metadisciplica da Conscious Evolution com o papel de líderes religiosas´De acordo com a própria Dra. Hubbard (como citada no programa da dita Assembleia) ““The purpose of this metadiscipline,” she says, “is to learn how to be responsible for the ethical guidance of our evolution. It is a quest to understand the processes of developmental change, to identify inherent values for the purpose of learning how to cooperate with these processes towards chosen and positive futures, both near-term and long-range.” (https://lcwr.org/sites/default/files/publications/files/LCWRnewsletter3-12.pdf)
Outros palestrantes na dita conferência serão Thomas Fox (editor do National Catholic Reporter); Jennifer Gordan, SCL, uma religiosa de 30 anos; e Jamie Manson uma minister católica, autora e oradora (http://jamiemanson.com/About_Me.html).
Ou seja 3 católicos(as) e uma não católica mas especialista no tal “evolutionary now” que dá a segunda parte do mote ao encontro. Não me parece que um encontro de religioso(as) católicos(as) só possa incluir especialistas/oradores católicos. Isso seria profundamente redutor. Também não me parece que seja lógico avaliar a qualidade de um académico pela forma como se apresenta no facebook, a não ser que assuma esse espaço como de divulgação do seu trabalho, o que não é o caso da Dra. Hubbard.
Desculpa mas o teu artigo, necessariamente de opinião, faz com que um grupo sério - ainda que certamente a precisar de limar arestas como tudo na vida - como a LCWR pareça um grupo de galinhas histéricas “demasiadamente” emancipadas, a precisar que um galo (vulgo bispo enviado pelo Vaticano) que vá pôr ordem na capoeira. A maneira como escreves e a imagem que escolhes para ilustrar o artigo levam a essa interpretação.
Queria só apresentar o outro lado da questão.
Olá AA, e obrigado pelo comentário.
ReplyDeleteComo percebeu, eu adoptei aqui um tom de brincadeira, propositadamente, daí também a foto a que recorri. Contudo, não me parece que o tom tenha sido assim tão injusto.
Faz bem em tentar mostrar “o outro lado”, mas convenhamos que a explicação que cita para o tema do encontro me deixa absolutamente na mesma. Aquilo quer dizer o quê? O que tem de cristão? Para uma convenção de fãs de Khalil Gibran, Osho ou Paulo Coelho, tudo bem, mas para uma convecção de freiras católicas? “Within the new frontier of human consciousness”? “The purpose of this metadiscipline is to learn how to be responsible for the ethical guidance of our evolution”? Lamento, mas nada me acrescenta.
Longe de mim dizer que só católicos podem falar em eventos católicos. Eu já moderei uma mesa redonda numa jornada da Pastoral da Cultura com o Manuel Alegre. Agora, tem de haver um enquadramento, um pano de fundo que mostre que havendo liberdade de pensamento e de opinião, estamos perante um evento católico. Aqui, nada nos diz isso. O problema da Barbara Marx Hubbard não é não ser católica, é que as coisas que diz, que ensina e que defende são ridículas do ponto de vista católico. Do site dela:
“[Jesus] did not die. He made his transition, released his animal body, and reappeared in a new body at the next level of physicality to tell all of us that we would do what he did. The new person that he became had continuity of consciousness with his life as Jesus of Nazareth, an earthly life in which he had become fully human and fully divine. Jesus' life stands as a model of the transition from Homo sapiens to Homo universalis.”
O que é que uma mulher destas, que até pode ser a maior simpatia do mundo, está a fazer a dar a conferência (atenção, não é um debate, é uma conferência) a freiras católicas?
Passando para os outros convidados, o cenário não melhora muito. Repare, não é nada contra as pessoas em si, mas se formos a ver o que defendem, as causas que abraçam, as opiniões… é tudo pão da mesma farinha e acontece que essa farinha é ultra-liberal e invariavelmente dissidente em relação ao magistério e aos bispos.
Thomas Fox é editor da National Catholic Reporter, um órgão católico extremamente liberal que não perde uma oportunidade para se opor aos bispos e à tradição católica.
Jamie Manson tem uma coluna fixa na CNR e é membro activo de organizações que promovem a ordenação das mulheres. Repito, cada um faz como quer, mas depois não se queixem que quando o Vaticano puxa as orelhas…
A LCWR é uma organização séria? Será com certeza. Mas é também uma organização com sérios problemas de identidade, que parece pensar que no Cristianismo não é preciso falar-se de Cristo (não estou a exagerar, uma das conferências nos últimos anos, proferido por uma então presidente da organização, era sobre como se tinha chegado a uma altura de “ir para além da Igreja, talvez até para além de Jesus”).
Por fim, não concordo quando diz que estou a comparar as freiras a galinhas histéricas que precisam de um galo. Isso é, digamos, uma leitura feminista. Há milhentas organizações de mulheres, religiosas ou não, que se organizam e sobrevivem sem problemas. Mas a LCWR precisa de alguma coisa, precisa de reencontrar Cristo e compreender o conceito de obediência (um dos votos que todas elas fizeram…) sob pena de se remeter à insignificância num futuro não muito longínquo.
Cumprimentos!