Brad Miner |
Quando um bom padre descobre os pecados homossexuais de
um mau padre (de um bispo, então, nem se fale), e se esse bom padre vai falar
com o seu pastor, ou com um bispo (de um arcebispo, então, nem se fale), o mais
provável é ouvir uma versão deste discurso:
Obrigado. Temos de
fazer algo sobre isto, e assim faremos! Mas, para o bem da Igreja, não deve
dizer nada disto a ninguém. Os media aproveitariam uma história destas para
desacreditar o próprio Catolicismo. Teve muita coragem em vir ter comigo, mas
eu não quero que arrisque a sua carreira, tornando-se o foco de uma investigação
sensacionalista.
Para uma Igreja que valoriza a hierarquia e a disciplina,
trata-se de um obstáculo difícil de ultrapassar. Mas a minha previsão é que
agora muitos dos padres que sabem de escândalos de padres ou de bispos
homossexuais – e, em alguns casos, heterossexuais – vão finalmente começar a
revelá-los.
Espero que o façam. Todos. Porque este pinga-pinga de
escândalo está a prejudicar verdadeiramente a Igreja. Se for preciso rebentar
uma barragem, que seja, para que a inundação possa limpar o pântano.
Deixem correr a torrente: de resignações e de laicizações
– talvez centenas. Será desestabilizador e, como conservador, tremo diante da
possibilidade. Mas o miasma actual é intolerável. O esterco de suspeição paira
sobre cada bispo, ou mesmo cada padre.
Também é preciso reconhecer que a prática de abusos
sexuais por padres é apenas parte do problema. O
relatório de 2004 da John Jay College of Criminal Justice, feito a pedido
da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, contem muitos dados importantes
sobre a crise. Mas a sua perspectiva está limitada ao abuso de crianças, abaixo
dos 18 anos. Não se investigou nada sobre as desventuras sexuais de padres com
homens, de 18 anos ou mais.
Esses dados provavelmente revelariam um escândalo muito,
muito maior – que rebentaria com a conclusão principal dos investigadores da
John Jay, bem como da equipa da Spotlight no Boston Globe e pessoas como o
padre James Martin, S.J., de que os escândalos “não têm nada a ver com
homossexualidade”. Isso simplesmente não pode ser verdade.
Agora vou-vos contar uma história a que já aludi no The
Catholic Thing. Mas primeiro vou repetir o que já disse a amigos próximos,
alguns dos quais colaboram com este site. Se eu soubesse em 1973, quando estava
prestes a entrar para a Igreja, o que agora sabemos sobre a extensão da
homossexualidade predatória entre o clero e a quantidade de encontros
homossexuais pecaminosos entre padres, rapazes, adolescentes e homens, não me
teria tornado católico. Graças a Deus não sabia porque, apesar destes escândalos,
não consigo imaginar outro lar espiritual.
Então. . .
Pouco depois de ter feito a minha profissão de fé, saí tarde
do trabalho e faltei à missa das 17h na Igreja que costumava frequentar. O sacerdote,
que estava ainda a despedir-se das pessoas, disse-me que havia outra às 18h, a
poucos quilómetros dali, por isso fui para lá.
No fim dessa missa um padre aproximou-se no parque de
estacionamento e disse-me que nunca me tinha visto na missa ali. Eu expliquei e
ele disse:
“Quero perguntar-te uma coisa, mas não quero abalar a tua
fé.”
“Porque é que haveria de fazer isso?”
“É uma coisa privada.”
Continuei sem perceber.
Resumindo muito, ele disse que queria ter relações
sexuais comigo.
“Você fez um voto de castidade,” respondi.
“Não, não. Você é novo na Igreja. O meu voto é de
celibato – não casar – e não de castidade, entende?”
Dirigi-me ao meu carro.
Alguns meses mais tarde, no Ohio, onde cresci, voltei a
ir a uma missa de fim de tarde e quando fui receber comunhão o padre sussurrou:
“Vá ver-me na sacristia, ok?”
Até tenho vergonha de o admitir, mas na altura não
desconfiei de nada. Este tipo foi mais subtil. Perguntou se daí a uns dias eu
iria com ele a um jogo de basquete do liceu, onde tinha de fazer a oração inicial.
No final da primeira parte ele agradeceu-me: “Obrigado
pela companhia, devo-te um copo”. Guiámos até um bar de que nunca tinha ouvido
falar, na baixa de Columbus. Quando saímos do carro ele abriu a mala, tirou o
cabeção e vestiu um casaco igualzinho ao meu.
Senti um nó no estômago e confirmei que sim, era um bar
gay.
“O que é que bebes?”, perguntou.
“Uma cerveja qualquer”, disse eu, e ele foi buscar.
O bar ficava a sete quilómetros da minha casa. Saí
rapidamente, corri durante alguns quarteirões, e depois fui a pé o resto do
caminho até casa.
Depois visitei um seminário, pois estava a considerar uma
vocação ao sacerdócio. Já tinha visitado outro seminário e dois mosteiros. O
director de vocações levou-me a jantar fora, e aconteceu outra vez. Não vou
repetir o que lhe disse a ele na altura.
Nesta altura eu era católico há menos de seis meses. A
vantagem foi que mantive-me longe de padres durante os 15 anos seguintes,
basicamente até conhecer os padres Neuhaus, Rutler e Schall.
Claro que estas histórias não provam nada. E no que diz
respeito ao caso McCarrick, eu não irei ao ponto de dizer, como tenho ouvido,
que “toda a gente sabia”. Muitas sabiam, mas a maioria não fazia a menor ideia.
A não ser que fizesse parte do círculo dos rumores, não teria ouvido falar do
assunto.
Mas eu não sou o único adulto que sofreu estas abordagens
de padres. E nem devo ser o único a quem isso aconteceu três vezes.
Para o bem da Igreja – vamos drenar o pântano.
(Publicado pela primeira vez na terça-feira, 30 de Julho
de 2018 em The Catholic Thing)
Brad Miner é editor chefe de The
Catholic Thing, investigador sénior da Faith & Reason Institute e faz
parte da administração da Ajuda à Igreja que Sofre, nos Estados Unidos. É autor
de seis livros e antigo editor literário do National Review.
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