Casey Chalk |
A minha sugestão? Calar-se e rezar.
Esta ideia ocorreu-me depois de uma recente conversa com
um amigo – também ele apologista leigo – que lê o que escrevo em várias
publicações católicas. Pediu-me a minha opinião sobre como fazer sentido das
mudanças em relação à pena de morte – bem como em relação ao pontificado do
Papa Francisco em geral.
Senti-me muito humilde, e um pouco preocupado, com o
facto de alguém querer saber a minha opinião sobre assuntos tão complexos. Mas
o meu amigo, apesar de ter pouca formação formal, percebe bastante de teologia,
das Escrituras e da apologética católica. Ainda assim estava a ter
dificuldades, sobretudo em relação ao Papa. Pensando em práticas católicas
comuns que incluem rezar pelas intenções do Santo Padre, perguntei-lhe com que
frequência reza o terço. Respondeu que o faz cerca de uma vez por semana.
Eis a raiz do problema. Não quero apontar o dedo
especificamente ao meu amigo, pelo menos ele foi honesto. Devo reconhecer publicamente
que, apesar de escrever publicamente sobre vários assuntos católicos, sei que
não rezo o suficiente. Às vezes, embora não neste preciso momento, sinto uma
forte vontade de deixar de lado os meus trabalhos académicos ou a minha escrita
e simplesmente rezar. Para minha vergonha, reconheço que quase sempre ignoro
essa voz suave.
Mas aqueles de nós que procuram defender a fé católica negligenciam
a oração à nossa conta e risco. Os apologistas adoram citar 1 Pedro 3,15, o
nosso lema: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir
a razão da esperança que há em vocês.” Aliás, esse versículo é usado para
justificar toda uma indústria, tanto no Catolicismo como no Cristianismo em
geral.
Mas se lermos as escrituras por inteiro, esta passagem é
uma raridade. Outros versículos e histórias – como passagens sobre São Paulo,
nos Actos dos Apóstolos – também apontam para a importância da apologética. Mas
estes estão em minoria quando comparadas com a insistência da Bíblia em relação
à oração.
Nas Escrituras encontramos cerca de 650 orações e
aproximadamente 450 respostas a orações. Jesus reza cerca de 25 vezes
diferentes durante o seu ministério terreno. Paulo refere-se à oração,
incluindo relatórios de oração, pedidos de oração e exortações à oração, 41
vezes. A primeira vez que se menciona a oração na Bíblia em Génesis 4,26 –
muito tempo antes de qualquer referência à apologética!
Os católicos expendem muita energia mental e emocional em
debates sobre a nossa fé. As editoras católicas e os ministérios de leigos
dedicam enormes recursos a livros, programas de rádio, panfletos e sites
apologéticos. Claro que falo só com base na minha experiência, mas posso dizer
com alguma segurança que devem existir dezenas de sites com as mesmas respostas
às objecções mais comuns à fé católica. Claro que a redundância pode ser útil –
quanto mais divulgarmos isto pela internet, mais provável é que alguém o leia.
Mas devemos ser tão diligentes, se não mais ainda, em espalhar as nossas
orações pelo mundo, bem como pela internet.
Se estamos dispostos a entrar em discussões públicas, ou
defesa, sobre a nossa fé, então no mínimo devemos estar a incorporar a leitura
do Evangelho, o terço e oração livre na nossa rotina diária. A missa diária,
para quem isso é possível, é também um arma potente no nosso arsenal de
apologética. Nestes tempos de confusão na Igreja, precisamos cada vez mais
dessas armas de combate espiritual.
Ainda para mais, em muito do nosso trabalho apologético
está implícito um certo semi-pelagianismo. Embora todos os apologistas, tanto
leigos como clericais, devam ser elogiados por despender tempo e energia em
defesa da Igreja, por vezes questiono-me se não estará reflectido nestes
esforços uma falta de vontade de simplesmente confiar as coisas a Deus.
Insistimos e pressionamos, escrevemos, debatemos,
discutimos, na esperança de que, eventualmente, algo resulte que possa persuadir
os nossos interlocutores de que a Igreja é aquilo que afirma ser, o depósito da
totalidade da fé, onde Cristo habita na Eucaristia. Será que por vezes não
estamos dispostos a deixar Deus tomar a dianteira, regressando a ele em oração,
unindo-nos a Cristo, procurando a sua face e pedindo-lhe que seja Ele a
edificar a sua Igreja?
Há uma história famosa sobre a Santa Madre Teresa de
Calcutá. Uma freira estava com dificuldade em gerir a sua agenda complexa e
ocupada. Sentia-se assoberbada e procurou orientação junto da superiora. Talvez
estivesse à espera que a madre Teresa lhe ajudasse a planear melhor a agenda,
ou talvez esperasse que a santa lhe concedesse férias.
Seja como for, a resposta da Madre Teresa foi aquela de
que todos precisamos: disse à freira para passar mais tempo em oração. A
verdade é que haverá sempre mais debates, mais ataques à Igreja, mais pessoas a
precisar de ouvir argumentos fortes e convincentes para o Catolicismo. Mas
fomos feitos para Deus, e se tentarmos fazer a sua obra sem a sua presença, o
nosso ministério sofrerá.
Por isso, para todos os que andam com a cabeça às voltas
devido às muitas crises que estão a abalar a nossa amada Igreja, vou oferecer
apenas um conselho, e depois vou adoptá-lo eu: rezar mais, e com mais força.
Casey Chalk é um autor que vive na Tailândia, onde edita
um site ecuménico chamado Called to Communion. Estuda teologia em Christendom
College, na Universidade de Notre Dame. Já escreveu sobre a comunidade de
requerentes de asilo paquistaneses em Banguecoque para outras publicações, como
a New Oxford
Review e a Ethika
Politika.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing no Domingo, 26 de Agosto de 2018)
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