Austin Ruse |
Que coisa terrível que é
um suposto católico odiar o Papa. Ódio é uma palavra muito forte? Que coisa
terrível que é não gostar do Papa, ficar enraivecido com o Papa, ou desconfiar
sequer do Papa. Mas lendo alguns blogues tradicionalistas nos tempos mais recentes
vê-se tudo isto.
Claro que muitos de nós
ficámos um bocado preocupados ou até desiludidos quando foi anunciado o nome de
Bergoglio. Quase nunca tínhamos ouvido falar dele. Da Argentina? Interessante,
mas essa não é uma das terras da teologia da libertação? E ele não tinha sido o
candidato progressista contra Ratzinger em 2005? Afinal esta última acusação
era simultaneamente verdade e mentira. Verdade que era o candidato dos
progressistas, mentira no sentido em que ele não o queria.
Eu estava nas Nações
Unidas quando saiu o fumo branco, num painel convocado pela Santa Sé para
discutir a violência contra as mulheres. A sala de conferências estava cheia de
feministas radicais que adoram ir a estes eventos para poder atacar a Igreja.
Quando saiu o fumo branco os telefones de católicos fiéis começaram a tocar em
todo o mundo. Também naquela pequena sala na ONU se podiam ver algumas caras
felizes, incluindo o núncio, radiante.
Muitos de nós
encontramo-nos no bar da ONU, ligámos os computadores e esperamos pelo “Habemus
Papam”. Foi uma espera agonizante. Estava com um grupo grande de estudantes de
Steubenville e quando foi anunciado Bergoglio o nosso entusiasmo esmoreceu
significativamente. A confusão era palpável. Bergoglio quem?
Então começámos a receber
emails de amigos com citações sobre as lutas que Bergoglio tinha travado em
defesa da vida e da família na Argentina. Eram muito fortes. Ninguém espera que
o Bispo de Roma seja heterodoxo nos assuntos mais importantes do dia, mas
falará abertamente deles? Claramente este novo Papa fá-lo-á.
Quando Francisco baixou a
cabeça e pediu a nossa bênção os estudantes com quem eu estava choraram e
rezaram por ele ali mesmo. As feministas radicais que estavam à nossa volta
percebiam o que se estava a passar – e estavam horrorizadas.
Mas imediatamente os
nossos amigos tradicionalistas e os seus blogues começaram a encher-se de
queixas. Um amigo meu no Facebook alertou que Bergoglio “não é amigo da missa
tridentina”, o sine qua non do Tradicionalismo. Esta suposta frieza de
Francisco pela missa tradicional tem sido repetida vezes sem conta desde a sua
eleição.
Para além da missa
tridentina, os tradicionalistas estão sempre alerta para detectar qualquer
coisa que lhes pareça modernismo. Será que o turíbulo foi abanado o número
certo de vezes tanto à esquerda como à direita?
Taylor Marshall - Uma voz sensata no meio da raiva |
Taylor Marshall – um
ex-padre anglicano convertido ao Catolicismo que trabalhou durante uns tempos
na Catholic Information Center em Washington D.C. – é chanceler do Fisher More
College no Texas e um autor influente nos meios tradicionalistas, mas com um
estilo sensato. No dia 14 de Março, meras horas depois da eleição de Francisco,
postou
isto no seu blogue:
O Papa Francisco ainda não tinha sido eleito há
duas horas e o sarcasmo começou a ser cuspido nas caixas de vários blogs.
Muitos do grupo tradicional reagiram contra o Papa Francisco com palavras que
eram francamente ofensivas. Se um dos meus filhos falasse assim de um padre (ou
de qualquer pessoa mais velha, já agora), o rapaz levava uma palmada no rabo e
uma longa estadia num quarto escuro.
Em poucos minutos do aparecimento de Sua Santidade
na varanda, alguns "trads" começaram uma campanha online afirmando
que ele era um perseguidor dos padres ortodoxos na Argentina. Depois disseram
que proibiu a Missa Tradicional na sua diocese. Depois estavam a gozar com ele
por não usar a mozeta papal encarnada. Também exprimiram desagrado sobre o
facto de Sua Santidade ter rezado em italiano e não em latim. Depois,
mostraram-se alarmados por ele ter tirado a estola imediatamente depois da bênção.
A seguir fizeram um grande alvoroço sobre o facto de a tapeçaria que se
desenrolou sobre a varanda não ser a do predecessor de Sua Santidade. E estes
comentários não são sequer os piores. E nem sequer quero enumerar algumas das
outras coisas que têm escrito online. [Em
português aqui]
Marshall tinha razão; os
blogues e as suas caixas de comentários estavam cheios de pânico, fúria, até
ódio, e não eram só os habitués dos comentários que se estavam a passar. Horas
depois do anúncio a Remnant
TV entrevistou John Rao, um comentador frequente, que é também um dos mais
proeminentes líderes dos círculos tradicionalistas raivosos. Rao afirmou: “As
perspectivas não são boas. Parece que a eleição resultou de maquinações
políticas por parte de um ou outro elemento daquela facção do Colégio dos
Cardeais que está associado ao suposto espírito do Concílio, seja como for que
interpretam isso, e que não quer saber se a Igreja morre, desde que esse espírito
se mantenha.”
Príncipes da Igreja que
não querem saber se a Igreja morre? Pensem bem no que estas pessoas estão a
dizer. Que arrogância, que falta de fé. Que atitude de dissensão em reclamar a
autoridade de se pronunciar sobre o que é verdadeiramente católico ou não.
Quando eu era
tradicionalista tínhamos um grande desprezo por João Paulo II. Quase passei ao
lado do seu pontificado inteiro – até sair dessas fileiras. Eles gostavam mais
do Bento XVI por causa da bênção que ele deu à missa tridentina e as suas
práticas mais tradicionais em geral. Mas agora dizem que Bento XVI frustrou o
Espírito Santo ao resignar e que a elevação do Papa Francisco é o castigo.
Que bênção que foi,
naquele dia, poder estar com estudantes católicos fiéis que choraram de alegria
ao ver o nosso novo Santo Padre, e que dor de alma são aqueles que ficam
zangados só de o ver, que ainda estão zangados e que sempre estarão.
Austin Ruse é presidente
do Catholic Family & Human Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque
e em Washington D.C., uma instituição de pesquisa que se concentra unicamente
nas políticas sociais internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as
dele e não reflectem necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.
(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com na Sexta-feira, 05 de Abril de 2013)
© 2013 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução contacte:info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
Muito bem escrito! Obrigado...
ReplyDeleteNão foram só os estudantes que se comoveram... sei de não crentes que começam a ver o rosto de Jesus na nossa Igreja e estão a ser tocados.... Obrigada ao Santo Espírito que escolheu este querido Papa Francisco
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