Randall Smith |
Durante o Inverno, depois de um nevão particularmente
pesado, saí de manhã cedo e liguei o motor do carro da minha mulher, depois arranquei
uma camada de gelo de dois centímetros do vidro e retirei cerca de 30
centímetros de profundidade de neve do caminho entre a casa e o carro. Enquanto
a minha mulher retirava o carro da entrada da garagem não pude deixar de pensar
para comigo, enquanto permanecia ali de pé na neve, cansado e com frio: Adoro
ser casado!
A sério.
Casei-me um pouco tarde, por isso as alegrias de fazer
coisas como limpar a neve para outro poder retirar o carro, ou retirar gelo do
seu pára-brisas, estavam-me vedados durante os meus anos de solteiro. Estou
verdadeiramente arrependido disso agora, embora seja difícil perceber, mesmo em
retrospectiva, como é que Deus poderia ter lidado comigo de outra forma. Para
poder gozar um casamento é necessário deixar de ser um egoísta tonto.
Infelizmente, ainda não estava preparado.
Conheço muitas raparigas católicas solteiras que são
talentosas e bonitas (onde é que andavam quando eu era mais novo?), e todas têm
a mesma queixa. Onde estão todos os – aliás, – onde está qualquer bom homem
católico que esteja pronto para casar? Costumava pensar que estavam apenas a
carpir – as pessoas gostam muito de se queixar. Mas começo a entendê-las
melhor. À medida que procuro encontrar esposos adequados para as muitas jovens
católicas que estão ansiosamente à procura, descobri que de facto não há muito
por onde escolher.
Adoro os meus alunos católicos. Alguns são mesmo porreiros.
Mas mesmo os melhores deles não estão propriamente prontos para a alta
competição, pelo menos por enquanto, e sabem-no. De facto, sabem-no até bem
demais. Muitos não se imaginam a casar durante os próximos dez, talvez mesmo
vinte anos – se é que se imaginam a casar sequer.
Não é por isso que deixam de desejar ter sexo, claro, mas
essa é outra história. Desde que as noções de “casamento” e “sexo” foram
basicamente separados na nossa sociedade, a falta de casamento não costuma
apresentar um obstáculo demasiado difícil de ultrapassar para o desejo sexual
de todos excepto os que (A) tiveram uma educação moral escrupulosa (cujo poder
regulador tende a esvanecer perante o assalto constante de televisão, jogos de
computador e pornografia); ou (B), os que são excessivamente "nerds" e incapazes
de manter relações com mulheres. A triste verdade é que enquanto nos
preocupamos em preencher as cabeças dos nossos filhos com informação técnica
sobre coisas como computadores e sexo, fazemos pouco ou nada para os preparar
para a vida de casados.
Deixem-nos ser felizes! |
Ainda assim, por mais que possamos, e devemos, fazer muito
melhor na preparação dos nossos jovens rapazes para a vida de casados, continuo
a ter uma dúvida insistente: Talvez os homens, enquanto tal, nunca estejam
preparados. Isto é, talvez seja só a partir do casamento que verdadeiramente
crescemos e nos tornamos adultos civilizados e responsáveis. Talvez seja por
isso que as sábias culturas do passado tentavam casar os seus jovens
relativamente cedo: Não por causa do instinto sexual, mas porque queriam tornar
os seus adolescentes irresponsáveis e confusos em esposos úteis e produtivos
que pudessem, pela primeira vez na vida, fazer algo de realmente significativo
que lhes desse verdadeira satisfação.
A questão é esta: Não me parece que a maioria dos homens
possa ser mesmo feliz a não ser que estejam a sustentar, sacrificar-se ou a
trabalhar desinteressadamente por uma esposa. Sei que pode ser difícil para um
rapaz novo acreditar nisto, mas confiem em mim: cuidar de uma esposa é uma
daquelas coisas que dá sentido à vida. Às vezes há sexo, outras vezes não. Mas
o mais importante é que fez alguma coisa pela sua mulher e a vida dela é melhor
por sua causa. Há algo no fundo de cada homem que não está completo até ele se
sacrificar por algo maior do que ele. Para a maioria de nós, isso costuma ser a
família.
A este respeito fico admirado com a forma como muitas pessoas tratam as passagens de Efésios
5 e 1 Coríntios 1 – que traçam a analogia entre “maridos” e “Cristo”, por um
lado, e “esposas” e “Igreja”, do outro. O significado da analogia parece-me
claro em Efésios 5,25: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a
Igreja e se entregou por ela”.
Pagãos tolos que somos, ouvimos a palavra “Senhor” ou
“Cabeça” e pensamos: “É suposto eu assenhorear-me da minha mulher e
controlá-la, e ela deve ser-me submissa”. Talvez isso fosse verdade se o Deus
cristãos fosse como Zeus, mas não é. Onde é que fomos buscar a ideia de que
Cristo se tornou “cabeça da Igreja” assenhoreando-se dela e exigindo
“submissão” aos seus caprichos? O elemento essencial do domínio de Cristo está
no seu sacrifício desinteressado por nós na cruz. Nós, enquanto Igreja, somos
chamados a receber esse sacrifício com gratidão e amor.
Desta perspective, as mulheres são solicitadas a receber
este sacrifício por parte dos seus maridos e compreender que os seus maridos
provavelmente não ficarão satisfeitos nem felizes enquanto não souberem que
alcançaram algo másculo e responsável que torna a vida das suas mulheres muito
melhor do que seria. De facto, quando uma mulher compreender que este tipo de
sacrifício é essencial para o bem-estar do homem, e decide-se a descobrir que
tipo de coisas o marido pode fazer por ela e aceita de bom grado esses dons, estará
a ajudá-lo a tornar-se tão preenchido como possível nesta vida.
E se isso implica que ela tenha de passar menos tempo a limpar
neve no Inverno, pois bem, esse é um esforço que ela terá de fazer.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St.
Thomas, Houston.
©
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direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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Gostei muito!
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