Austin Ruse |
As potências ocidentais sabem bem como minar as iniciativas de que não gostam. No projecto inicial russo lia-se que os direitos humanos radicam na força moral dos valores tradicionais. Havia linguagem que defendia o direito à vida, a importância da família na sociedade e o papel desempenhado pelas principais religiões.
Os governos de esquerda acusaram o projecto russo de não dar atenção à ligação existente entre valores tradicionais e violações dos direitos humanos. Os Estados Unidos e alguns países europeus, em particular, afirmaram que os valores tradicionais são uma ameaça para os direitos das mulheres, dos homossexuais e transsexuais.
Foi encomendado um novo “estudo” que acabou por retirar quaisquer referências à família, religião e direito à vida. Mais, o novo projecto acusava os valores tradicionais de colocarem em perigo os direitos das mulheres e das minorias.
Como costuma acontecer nas Nações Unidas, a esquerda acabou por levar a sua avante. Mas os russos não, e muitos outros também não. Estava agendada uma discussão sobre o novo estudo em Genebra, a semana passada. Desta vez os russos foram firmes, animados por uma confiança cultural conservadora que deve ter dado arrepios aos europeus e à claque LGBT no Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Os russos limitaram-se a ignorar os seus adversários, exigiram uma votação e ganharam. Estavam tudo menos sozinhos. A resolução foi assinada por mais de 60 governos e acabou por passar no Conselho de Direitos Humanos com 25 votos a favor, 15 contra e 7 abstenções.
O novo documento é uma vitória para os valores tradicionais no entendimento dos direitos humanos, deixando claro que estes são universais e não se encontram em “evolução”, como afirma a esquerda.
Momentos depois da votação o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moscovo emitiu um comunicado que a minha colega na C-FAM, Stefano Genarrini, descreveu como “cheio de confiança”, onde se lê: “A Federação Russa, juntamente com os seus aliados, continuará a promover no Conselho de Direitos Humanos a ideia de que os direitos humanos e os valores morais tradicionais são inseparáveis.”
O comunicado criticava ainda as medidas da União Europeia e dos Estados Unidos, lamentando as “posições negativas destes países, a falta de vontade de trabalhar o texto e os argumentos rebuscados contra a resolução”.
Aquilo a que estamos a assistir nas Nações Unidas é o acordar do urso da política social russa. Muitos Governos estão a ficar saturados com a agressividade da esquerda sexual, que já se infiltrou firmemente na burocracia das Nações Unidas e dos direitos humanos.
O acordar do "Urso Russo"? |
Há muitos anos que se tenta transformer a homossexualidade e suas variantes numa categoria protegida pelo direito internacional. Mais de metade da Assembleia Geral das Nações Unidas são contra isto, os russos em particular.
Mas a maior parte dos países temem enfrentar a pressão. Muitos dependem da generosidade das Nações Unidas, União Europeia e Estados Unidos. O Departamento de Estado visitou pessoalmente muitas das delegações nas Nações Unidas e fez ameaças por causa de uma votação no Conselho de Direitos Humanos que pedia um estudo sobre a violência contra os homossexuais.
Mesmo um país como a Jamaica, por exemplo, que em termos politicos e culturais não é favorável à homossexualidade, cedeu perante tamanha pressão e, embora não tenham votado a favor, aceitou abster-se.
Mas a Rússia não tem medo do bullying das Nações Unidas, da União Europeia nem dos Estados Unidos. A Rússia está profundamente preocupada com a diminuição da sua população e já iniciou um debate interno sobre o aborto legal. Os rusoss não consideram a homossexualidade normal. Ao mesmo tempo a Rússia parece contente com a hipótese de confrontar os seus concorrentes geopolíticos nesta arena.
Ter a Rússia na linha da frente nestes assuntos é útil por variadas razões. Retira a pressão da Santa Sé, que nunca se sentiu confortável no papel de líder nesta luta. A Santa Sé prefere dar apoio moral, falar nos momentos chave, mas não liderar. Depois, há o facto de a Rússia não ser um Estado islâmico. Os Estados islâmicos, quer sozinhos quer através da Organização da Conferência Islâmica, são caricaturadas como ayatollahs no que diz respeito a políticas sociais.
Há quem pergunte se, enquanto conservadores, devemos aliar-nos a um concorrente geopolítico dos Estados Unidos. E a repressão interna na Rússia? E as Pussy Riot?
Num mundo ideal as democracias ocidentais e as Nações Unidas seriam os maiores defensores dos bebés por nascer, em vez de promoverem o aborto. Defenderiam o casamento tradicional em vez de promover práticas sexuais aberrantes, definindo-as como “direitos” humanos.
A Rússia é tudo menos perfeita, mas no campo das políticas sociais está bastante à nossa frente nesta altura.
Austin Ruse é presidente do Catholic Family & Human Rights Institute (C-FAM), sedeado em Nova Iorque e em Washington D.C., uma instituição de pesquisa que se concentra unicamente nas políticas sociais internacionais. As opiniões aqui expressas são apenas as dele e não reflectem necessariamente as políticas ou as posições da C-FAM.
(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com na Sexta-feira, 5 de Outubro de 2012)
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Cumpre-se assim a mensagem de Fátima: a conversão da Rússia. Está na hora de começar a rezar pela conversão do Ocidente cristão e pedir ao Papa a sua consagração ao Imaculado Coração de Maria.
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