Joel J. Miller |
Tanto os arcanjos Rafael como Gabriel identificam-se como
anjos que permanecem na presença do Senhor. Rafael explica o sentido deste
posto no 12º capítulo do livro de Tobit, dizendo que “apresentam as orações dos
justos” e explicando a Tobit e a Tobias que “apresentava as vossas orações
diante da glória do Senhor”.
O Papel de Gabriel é idêntico, daí que o vejamos no livro de
Daniel a levar mensagens para aqui e para acolá. Ao pesquisar para um livro que
escrevi sobre como os primeiros cristãos compreendiam os anjos, encontrei os
textos de Afraat o Persa, que se refere frequentemente a Gabriel como “o anjo
que apresenta as nossas orações”.
Esse livro, “Lifted
by Angels”, conta-nos mais histórias sobre Rafael e Gabriel relacionadas
com anjos. Todos os anjos – incluindo os nossos anjos da guarda – comunicam a
Deus as nossas orações e dificuldades.
Jesus faz uma afirmação marcante a este respeito em Mateus
18. Colocando uma criança no meio dos discípulos, avisa: “Livrai-vos de
desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, no Céu,
vêem constantemente a face de meu Pai.”
Por outras palavras, não pensem que conseguem molestar os
indefesos sem consequência. Os seus anjos da guarda farão com que Deus tome
conhecimento. E se o exemplo parece ser negativo, pensem só no consolo que
representa para a criança.
O Apocalipse de São João dá-nos outra bela imagem deste
serviço angélico: “Veio, então, outro anjo com um turíbulo de ouro e deteve-se
junto do altar. Deram-lhe muitos perfumes para oferecer com as orações de todos
os santos, sobre o altar de ouro que está diante do trono. E, da mão do anjo, o
fumo dos perfumes subiu diante de Deus, juntamente com as orações dos santos.”
Notem que a passagem não fala só de um anjo a apresentar as
nossas orações, fala também de como ele as enriquece, engrandecendo-as e amplificando
as nossas súplicas. O anjo do capítulo 8 do Apocalipse junta incenso aos nossos
pedidos, melhorando as nossas orações e juntando as suas.
Manuscrito etíope com representação de anjos |
Mas há mais. Para além de engrandecer e enriquecer as nossas
orações, os anjos tornam suas as nossas preocupações – tal como faz o anjo das
crianças, pelas palavras de Jesus. Recordem-se que Rafael “recorda” Deus das
orações das pessoas. Ele quer ter a certeza de que Deus está bem ciente das
suas necessidades e assume a responsabilidade de cuidar das pessoas a quem é
atribuído. Os anjos estão ao nosso lado nisto tudo.
Orígenes, outro antigo autor cristão, fala disto num curto
texto sobre a oração. Diz ele que o nosso anjo “reza connosco e age connosco,
tanto quanto possível, no que diz respeito aos assuntos sobre os quais
rezamos”.
De vez em quando a nossa situação pode merecer reforços, e
Deus providencia, explica Orígenes: “Por vezes a presença dos anjos junta-se
por alguém que está a rezar, para que possam associar-se e dar voz ao pedido
que está a fazer”.
Mas os anjos nem sempre estão disponíveis para levar as
nossas orações. Às vezes rejeitam-nas, como se tivessem defeitos. Afraat diz
que quando estamos zangados ou de má vontade para com o nosso próximo, as
nossas orações são como uma oferenda impura: “Gabriel não a quer levar da Terra
porque, sob inspecção, encontrou nela alguma mancha”.
Antes de colocar a nossa oração no turíbulo diante do trono
de Deus, Gabriel insiste que façamos as pazes com o nosso próximo, fazendo eco
das palavras de Jesus sobre este mesmo assunto em Mateus 5.
Há quem não goste da ideia de rezarmos através de
intermediários. Penso que a preocupação é desnecessária. Dizer que os anjos
oferecem as nossas orações não significa que Deus não nos ouça directamente.
O bispo, e monge, do sétimo século, Isaac o Sírio, diz que a
vontade eterna de Deus “antecipa as orações”. As nossas esperanças e petições
estão na mente de Deus antes sequer de nós as concebermos, tal como Jesus diz
em Mateus 6. Ele não está a espera que surja o mensageiro.
Independentemente disso, Deus escolheu recorrer a meios
adicionais e deu aos anjos um papel intermediário e intercessoro nas nossas
vidas. Não é por isso que está menos envolvido. Os anjos são simplesmente uma
parte graciosa e providencial que Deus encontrou para marcar presença nas
nossas vidas.
Joel J. Miller é um novo colunista para The Catholic Thing e
autor de Lifted By Angels: The
Presence and Power of Our Heavenly Guides and Guardians, que explora as
histórias dos anjos nas escrituras e nos primeiros textos cristãos. Podem
visitar o seu site em joeljmiller.com
(Publicado pela primeira vez em www.thecatholicthing.com no Domingo,
28 de Outubro de 2012)
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