Iniciativa nasceu nos EUA, em 2004 |
Em que consiste a
iniciativa?
Os 40 dias pela vida são 40 dias em que pessoas de várias
religiões, que tenham como objectivo único defender a vida e defender as
mulheres que sofrem com esta situação, se juntam para rezar num lugar
simbólico, a porta da clínica dos Arcos, a maior clinica abortista de Lisboa,
para se juntarem ao sofrimento destas mães e tornarem-se mais próximas das
pessoas.
A oração faz duas coisas, por um lado torna melhores as
pessoas que rezam e por outro que consigamos aproximar-nos mais do sofrimento
das pessoas e não as julgar nem criticar. Se não tivermos este processo podemos
cair na tentação de julgar as pessoas e não é isso que queremos, queremos
apoiá-las e estarmos próximos delas.
Os 40 dias vêm das histórias bíblicas de pessoas que rezaram
ao longo de quarenta dias.
Temos um evangélico a rezar connosco, uma muçulmana,
católicos dos mais diversos caminhos e carismas, todos aqui juntos para tentar
que estas mães não caiam neste sofrimento profundo que é saber que marcaram a
hora da morte de um filho.
Rezam dentro ou fora
da casa?
É um evento visível. Deixamos tudo muito à liberdade das
pessoas. Já passaram aqui centenas de pessoas e todas têm estilos diferentes.
Há pessoas que nos disseram logo que não querem rezar na rua. A casa foi-nos
cedida pelas Mãos Erguidas e fica mesmo em frente à clínica. Está sempre de
porta aberta e vê-se lá para dentro. Mas há quem não goste de rezar nas escadas
cá fora, porque a sua sensibilidade não o permite, outros gostam de rezar cá
fora, mais perto possível da clínica. Deixamos ao critério de cada um.
A oração que se reza mais é o terço, até se reza o Terço de
Raquel, mais própria para os recém-nascidos. Mas este rapaz evangélico, por
exemplo, junta-se a nós e reza outras coisas.
Ao longo de 40 dias temos cá pessoas das 08h às 22h.
Gostávamos que fossem 24h mas já foi complicado o suficiente garantir estas
16h. Cada pessoa fica responsável por um turno de duas horas, não quer dizer
que tenha de ficar cá as duas horas mas tem de se responsabilizar por ter cá
pessoas durante essas duas horas.
Hoje estamos no dia 18 de 40, para o resto dos 22 dias, que
houvesse uma família responsável por cada um desses dias e arranjasse quem
esteja cá essas 16 horas, a organização ficava mais tranquila e podia-se chegar
a mais gente. Há muito mais gente do que pensamos que gosta de rezar e pessoas
que gostariam de rezar e já pensaram em sair de si mesmos para rezar por alguém
e não sabem como, aqui há espaço para todos e podem vir ter connosco. Se se quiserem
inscrever pela internet podem, se quiserem só aparecer também podem.
Que reacções têm?
Eu não estou cá o tempo todo, mas há pessoas que ficam
incomodadas. Pessoas que vão à clínica e vêem isto provavelmente ficam
incomodadas, outras ficam tocadas. Há de tudo. O que sei é que a oração é um
fim em si mesmo. Mesmo que nenhuma mulher desistisse de abortar, nem nenhum
profissional desistisse do seu trabalho, já teria valido a pena porque a oração
é um fim em si mesmo, não precisamos que tenha nenhum efeito visível. Mas a
verdade é que Nosso Senhor tem sido muito sensível e estamos muito
agradecidos por isso e têm acontecido coisas muito boas.
Abby Johnson atribui a sua conversão aos 40 dias pela vida. |
Alguma história que
possa partilhar?
Por respeito à privacidade das pessoas com quem lidamos, não
vou contar nenhuma história das passadas aqui, mas há uma história de Abby
Johnson, uma ex-directora de clínica de abortos da Planned Parenthood nos
Estados Unidos. Ela foi durante nove anos directora da clínica e agora é das
maiores activistas pró-vida que existem. Ela atribui isto às campanhas dos 40
dias que se organizaram durante anos à porta da clínica dela. As pessoas
rezavam todos os dias por ela, estavam ali em turnos. Ela só dirigia a clínica,
era psicóloga e não fazia abortos. Uma vez pediram para ela conduzir uma
ecografia, porque estavam com falta de pessoal, e ela viu pela primeira vez
como era um aborto, através da ecografia, e com tanta oração que tinha havido por
ela, e todos os contactos que tinham tido com ela, deu a volta completamente.
Aprendi muito com esta história e temos todos que aprender
com este aspecto, porque ela diz que isto não é tudo branco e preto. Não há por
um lado os pró-escolha e do outro os pró-vida. Há pessoas boas, eu acredito que
há mesmo pessoas boas na clínica, que estão convencidas que estão a ajudar as
mulheres. Ela estava convencida que estava a ajudar as mulheres em dificuldades
e percebeu que nem toda a gente que está do outro lado são más pessoas,
provavelmente não estão esclarecidas, e esta oração que fazemos é também por
estas pessoas, rezamos pelos profissionais que trabalham nas clínicas, para ver
se se dão conta da realidade.
A pressão para
abortar, com a crise, deve ser ainda maior. Tem algum recado para essas
pessoas?
Acho que um bebé não vai aumentar a crise. Estamos na crise
independentemente do bebé vir ou não. Os grandes homens e as grandes mulheres
na história vêem-se nos momentos difíceis. A pior crise que pode haver, mais do
que a cirse de não haver dinheiro ou emprego, é a crise em que as mulheres sãem
numa angústia e numa tristeza profundas depois de passarem por uma situação
destas. Isso é que é muito mais difícil de ultrapassar. Também tem cura, mas é
mais difícil de ultrapassar. Dizemos sempre às mulheres, no aborto há um morto
e um ferido. Há um bebé que não nasce mas há uma mãe que fica ferida para
sempre. Mais cedo ou mais tarde essa mulher vai ter esse sofrimento. Isso é que
é uma grande crise. De resto o bebé até pode complicar as coisas, mas não é
isso que vai colocar os pais numa situação ainda pior.
Há aqui pessoas que
oferecem ajuda às mulheres que vão à clinica…
Isso não tem nada a ver com a iniciativa dos 40 dias. O
trabalho que se faz aqui, a associação Mãos Erguidas é feita com voluntários,
quantos mais houver, melhor, o que fazem é oferecer às mulheres ajuda. A
verdade é que nenhuma mulher quer abortar, nem nenhuma mulher que sai daqui a
dizer que já passou por isto várias vezes e que é indiferente… não é
indiferente. O erro muito comum é que as pessoas pensam que vêm aqui e depois
de abortarem voltam a ser quem eram antes, porque já resolveram o problema,
tiraram aquilo que as incomodava. Uma mulher, depois de engravidarem nunca mais
volta a ser a mesma, quer tenha um bebé, porque nos tornamos mães de um filho,
quer não deixemos a criança nascer, embora venha aqui e aparentemente possa
sair com alívio, a angústia vai depois ser muito maior. Pode não ser logo, mas
eventualmente nota-se.
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