Em 2003, quando o Supremo
Tribunal revogou a decisão Bowers v. Hardwick de 1986 – protegendo a actividade
homossexual – os liberais não começaram a gritar que o próximo a ser revogado
seria Brown v. Board of Education, porque sabiam que isso seria um non
sequitur absurdo.
E hoje nenhum liberal progressista
acharia aceitável que um grupo conservador estivesse a fornecer as moradas de
casa dos juízes minoritários em Dobbs, para que grupos de manifestantes se
pudessem juntar às portas das suas casas para os pressionar a mudar de ideias.
Não, parece que apenas um dos lados pode fazer agir deste modo.
Para todos aqueles que defendem
Roe, tenho apenas uma coisa a dizer: Estão do lado errado da história.
Sempre quis dizer isso. Principalmente,
para que as pessoas do outro lado da barricada conheçam a sensação. Na verdade,
acredito mesmo que aqueles que argumentam a favor do aborto estão do lado
errado da história e que com os avanços dos cuidados neonatais e maiores
conhecimentos do desenvolvimento do bebé no útero, o aborto parecerá tão
bárbaro dentro de 50 anos, como a escravatura nos parece hoje.
E já agora, se estudarem a
história, verão que quando o nosso lado é o que está a usar eufemismos para
cobrir aquilo que está a fazer – partir vidros, mentir, ameaçar com violência, acicatar
as multidões, o medo e o ressentimento – então na maior parte das vezes é
porque estamos de facto do “lado errado da história”.
Mas dizer simplesmente aos nossos
opositores que estão do lado errado da história não é um argumento. É o
equivalente verbal de uma pancadinha paternalista nas costas. Imagine só que
apresenta um argumento sofisticado sobre algo, apenas para ouvir o seu
interlocutor gritar: “Isso é só estúpido!” ou “Está enganado!”. Bom, posso até
estar enganado, e posso até ser estúpido, mas para o mostrar é preciso fazer um
argumento real.
Demasiadas pessoas partem do princípio,
hoje em dia, de que não precisam de apresentar argumentos lógicos, e que podem
simplesmente assumir que “todas as pessoas boas e sensatas” concordam com elas,
porque, bem, “é evidente”. O problema é que quase nunca é evidente e com temas
especialmente controversos, como o aborto, não se pode simplesmente partir do
princípio que assim é. Quando afirma que “é evidente”, o que está a dizer de
facto é que as pessoas que discordam de si são demasiado estúpidas, demasiado
burras mesmo, para compreender o “óbvio”.
Por isso eu não vou
simplesmente dizer a todos os que discordam de mim sobre o aborto que estão do
lado errado da história. Eu acho que sim, eles obviamente acham que não.
Porreiro. Temos de avançar e trocar verdadeiros argumentos e verdadeiros dados.
O “impacto desigual” e o
preconceito racial são temas populares neste momento. Não passa um dia ou dois
sem uma discussão sobre eles na comunicação social. Então falemos deles no
contexto do aborto.
Ouvimos dizer muitas vezes que
revogar Roe será “desastroso” para a comunidade negra. Mas olhemos para os factos:
- O aborto é a principal causa de morte para afro-americanos, mais do que todas as outras causas juntas, incluindo HIV, crime violento, acidentes, cancro e doenças cardíacas.
- As mulheres negras abortam 3,5 vezes mais do que as mulheres brancas; mais de 30% das mulheres negras têm abortos, apesar de constituírem apenas 12,6% da população.
- Ao longo da sua vida, as mulheres negras têm em média 1,6 mais gravidezes do que as mulheres brancas, mas a probabilidade de terem uma gravidez que acaba com um aborto é cinco vezes superior.
- Aproximadamente 360 mil bebés negros por nascer são abortados todos os anos. Quase mil por dia.
- Desde 1973 morreram mais de 16 milhões de bebés negros devido ao aborto.
- A percentagem de população negra nos Estados Unidos desceu de 12,6% em 2010 para 12,4% em 2020. A população negra nos EUA (actualmente 41 milhões) desceu a pique, ficando agora abaixo da população hispânica (63 milhões), números que seriam radicalmente diferentes caso as 16 milhões de vidas negras importassem o suficiente para que a sociedade as protegesse do aborto, permitindo que se tornassem adultos.
Claro que pode estar a pensar,
“Sim, mas as clínicas não abortaram estas crianças negras por serem negras”. Em
primeiro lugar, os progressistas nunca permitem esta desculpa quando se fala e
qualquer outro caso de “impacto desigual”. Segundo, tem mesmo a certeza?
Sabemos perfeitamente que a
eugenista e racista Margaret Sanger, que fundou a Planned Parenthood, deu
início ao seu “Negro Project” em 1939, para evitar o crescimento da população
negra. E ainda hoje 79% das clínicas da Planned Parenthood encontram-se a curta
distância (cerca de 3,5 quilómetros) de centros com grande concentração de
populações negras ou hispânicas. Se isso não é prova de “racismo sistémico”,
então o termo não tem sentido.
Por isso, todos os que estão a
manifestar-se para proteger a indústria abortista, não só estão do lado errado
da história, como são racistas.
Vocês? Não pode ser! Vocês são
os bons! Dezasseis milhões de bebés negros mortos – por agora – e continuam a
ter a certeza absoluta de que as pessoas que estão a tentar pôr fim a este
genocídio racial são os maus, os horríveis e que vocês – vocês! – são aqueles
que serão vistos pela história como os que verdadeiramente se preocupavam com a
comunidade negra.
Tão certos, de facto, que
estão dispostos a silenciar os vossos opositores, juntar multidões para os
aterrorizar, mentir repetidamente, vandalizar igrejas, interromper serviços
religiosos, profanar sacramentos, destruir centros de apoio que dão às mulheres
os recursos para poderem escolher não pôr fim à vida dos seus nascituros, e até
subverter o próprio processo democrático, tudo para que algumas mulheres possam
matar os seus filhos e filhas por nascer.
Pois bem, isso é só estúpido.
Randall Smith é professor de
teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.
(Publicado pela primeira vez
em The
Catholic Thing na terça-feira, 17 de Maio de 2022)
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