Wednesday 18 May 2022

Aborto e o Genocídio da Comunidade Negra

Randall Smith

Temos assistido a muita discussão, recentemente, em torno da decisão do caso Dobbs, em que o Supremo Tribunal poderá finalmente revogar as fatídicas decisões de Roe v. Wade e Doe v. Bolton. Muitos desses artigos que lamentam as decisões vindouras estão cheias de incivilidade, vitríolo, tentativas de meter medo, non sequiturs absurdos, ou puras mentiras. 

Em 2003, quando o Supremo Tribunal revogou a decisão Bowers v. Hardwick de 1986 – protegendo a actividade homossexual – os liberais não começaram a gritar que o próximo a ser revogado seria Brown v. Board of Education, porque sabiam que isso seria um non sequitur absurdo.

E hoje nenhum liberal progressista acharia aceitável que um grupo conservador estivesse a fornecer as moradas de casa dos juízes minoritários em Dobbs, para que grupos de manifestantes se pudessem juntar às portas das suas casas para os pressionar a mudar de ideias. Não, parece que apenas um dos lados pode fazer agir deste modo.

Para todos aqueles que defendem Roe, tenho apenas uma coisa a dizer: Estão do lado errado da história.

Sempre quis dizer isso. Principalmente, para que as pessoas do outro lado da barricada conheçam a sensação. Na verdade, acredito mesmo que aqueles que argumentam a favor do aborto estão do lado errado da história e que com os avanços dos cuidados neonatais e maiores conhecimentos do desenvolvimento do bebé no útero, o aborto parecerá tão bárbaro dentro de 50 anos, como a escravatura nos parece hoje.

E já agora, se estudarem a história, verão que quando o nosso lado é o que está a usar eufemismos para cobrir aquilo que está a fazer – partir vidros, mentir, ameaçar com violência, acicatar as multidões, o medo e o ressentimento – então na maior parte das vezes é porque estamos de facto do “lado errado da história”.

Mas dizer simplesmente aos nossos opositores que estão do lado errado da história não é um argumento. É o equivalente verbal de uma pancadinha paternalista nas costas. Imagine só que apresenta um argumento sofisticado sobre algo, apenas para ouvir o seu interlocutor gritar: “Isso é só estúpido!” ou “Está enganado!”. Bom, posso até estar enganado, e posso até ser estúpido, mas para o mostrar é preciso fazer um argumento real.

Demasiadas pessoas partem do princípio, hoje em dia, de que não precisam de apresentar argumentos lógicos, e que podem simplesmente assumir que “todas as pessoas boas e sensatas” concordam com elas, porque, bem, “é evidente”. O problema é que quase nunca é evidente e com temas especialmente controversos, como o aborto, não se pode simplesmente partir do princípio que assim é. Quando afirma que “é evidente”, o que está a dizer de facto é que as pessoas que discordam de si são demasiado estúpidas, demasiado burras mesmo, para compreender o “óbvio”.


Por isso eu não vou simplesmente dizer a todos os que discordam de mim sobre o aborto que estão do lado errado da história. Eu acho que sim, eles obviamente acham que não. Porreiro. Temos de avançar e trocar verdadeiros argumentos e verdadeiros dados.

O “impacto desigual” e o preconceito racial são temas populares neste momento. Não passa um dia ou dois sem uma discussão sobre eles na comunicação social. Então falemos deles no contexto do aborto.

Ouvimos dizer muitas vezes que revogar Roe será “desastroso” para a comunidade negra. Mas olhemos para os factos:

  • O aborto é a principal causa de morte para afro-americanos, mais do que todas as outras causas juntas, incluindo HIV, crime violento, acidentes, cancro e doenças cardíacas.
  • As mulheres negras abortam 3,5 vezes mais do que as mulheres brancas; mais de 30% das mulheres negras têm abortos, apesar de constituírem apenas 12,6% da população.
  • Ao longo da sua vida, as mulheres negras têm em média 1,6 mais gravidezes do que as mulheres brancas, mas a probabilidade de terem uma gravidez que acaba com um aborto é cinco vezes superior.
  • Aproximadamente 360 mil bebés negros por nascer são abortados todos os anos. Quase mil por dia.
  • Desde 1973 morreram mais de 16 milhões de bebés negros devido ao aborto.
  • A percentagem de população negra nos Estados Unidos desceu de 12,6% em 2010 para 12,4% em 2020. A população negra nos EUA (actualmente 41 milhões) desceu a pique, ficando agora abaixo da população hispânica (63 milhões), números que seriam radicalmente diferentes caso as 16 milhões de vidas negras importassem o suficiente para que a sociedade as protegesse do aborto, permitindo que se tornassem adultos.

Claro que pode estar a pensar, “Sim, mas as clínicas não abortaram estas crianças negras por serem negras”. Em primeiro lugar, os progressistas nunca permitem esta desculpa quando se fala e qualquer outro caso de “impacto desigual”. Segundo, tem mesmo a certeza?

Sabemos perfeitamente que a eugenista e racista Margaret Sanger, que fundou a Planned Parenthood, deu início ao seu “Negro Project” em 1939, para evitar o crescimento da população negra. E ainda hoje 79% das clínicas da Planned Parenthood encontram-se a curta distância (cerca de 3,5 quilómetros) de centros com grande concentração de populações negras ou hispânicas. Se isso não é prova de “racismo sistémico”, então o termo não tem sentido.

Por isso, todos os que estão a manifestar-se para proteger a indústria abortista, não só estão do lado errado da história, como são racistas.

Vocês? Não pode ser! Vocês são os bons! Dezasseis milhões de bebés negros mortos – por agora – e continuam a ter a certeza absoluta de que as pessoas que estão a tentar pôr fim a este genocídio racial são os maus, os horríveis e que vocês – vocês! – são aqueles que serão vistos pela história como os que verdadeiramente se preocupavam com a comunidade negra.  

Tão certos, de facto, que estão dispostos a silenciar os vossos opositores, juntar multidões para os aterrorizar, mentir repetidamente, vandalizar igrejas, interromper serviços religiosos, profanar sacramentos, destruir centros de apoio que dão às mulheres os recursos para poderem escolher não pôr fim à vida dos seus nascituros, e até subverter o próprio processo democrático, tudo para que algumas mulheres possam matar os seus filhos e filhas por nascer.

Pois bem, isso é só estúpido.


Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.

(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na terça-feira, 17 de Maio de 2022)

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