O seu mais recente projecto
cinematográfico, feito com o realizador Norman Stone, é “The Most Reluctant Convert: The Untold Story of C.S, Lewis”, em que McLean, que faz de Lewis, narra o percurso do autor
do ateísmo para o Cristianismo. E que evangelizador que ele era. No Século XX
só o Billy Graham e o Papa São João Paulo se comparam.
Já fiz crítica de duas peças da
FPA baseadas em livros de Lewis: “O Grande Divórcio” e “Shadowlands”, e com a
minha mulher vi o “Vorazmente Teu”, em 2006 – antes de este site ser criado.
Nessa produção McLean foi soberbo a fazer de Screwtape, o demónio mais velho a
instruir o seu aprendiz, Wormwood.
O “Most Reluctant Convert”
começa e acaba quebrando a chamada “quarta parede”, que separa os actores do
público. McLean, na personagem de C.S. Lewis, sai da maquilhagem, passa pelos
técnicos, as câmaras e a iluminação e, olhando directamente na nossa direção, começa
a contar a história do grande autor. No final sai de casa do próprio Lewis em
Oxford “The Kilns” e recebe os aplausos, muito merecidos, da equipa de
filmagem.
McLean descreve o filme como “cerebral,
mas de acção rápida”. Na verdade, essa é uma das chaves para a sua grandeza.
Através de retrospectivas
vemos C.S. Lewis quando era menino (desempenhado por Eddie Ray Martin), como um
jovem adulto (Nicholas Ralph) e, claro, com McLean a fazer de homem maduro, a tentar
reconciliar-se com os acontecimentos e as verdades que o puxam de um cepticismo
ateu rumo à fé cristã.
Foi o livro “Surpreendido pela
Alegria” (1955) que deu a McLean a ideia de escrever uma peça sobre a sua
conversão. Esse livro, bem como o “Mero Cristianismo” (1952) são boas fontes para
a história de Lewis e a forma como usou a razão para chegar à crença, e vários momentos
que serão reconhecidos por fãs de Lewis estão representados de forma belíssima
no filme.
Vemos a morte da sua mãe,
Flora (representada por Amy Alexander), o seu pai Albert, castigador e
obstinado (Richard Harrington), e passagens da sua vida como militar na I
Guerra Mundial. Todos estes eventos traumáticos contribuíram para o empurrar
para longe da fé. Há ainda cenas da sua educação na adolescência, que ficou a
cargo do tutor W.T. Kirkpatrick (David Grant) e a sua formação intelectual em
Oxford, mais tarde.
E há ainda alusões ao impacto de
G.K. Chesterton, com o seu “O Homem Eterno”, e de George MacDonald, com “Phantastes”
– livros que iluminaram a imaginação de Lewis, um classicista que viria a
escrever alguns dos romances de fantasia cristãos do Século XX, para adultos e
para crianças.
Em Oxford, onde foi primeiro
aluno e depois professor, conheceu académicos fantásticos como Owen Barfield
(Hubert Burton), Hugo Dyson (David Shields) e J.R.R. Tolkien (Tom Glenister).
Depois temos o famoso passeio
que ele e Tolkien deram certa noite ao longo da Addison’s Walk, em Oxford.
Falam de mitos e Tolkien levanta a questão convincente de que a história de
Cristo é como todos os mitos que há muito que encantam ambos os académicos, com
a excepção de uma coisa: os relatos do Evangelho são verdadeiros. Naquele
momento ouvimos o sussurrar das folhas, que começam a cair:
“O vento sopra onde quer. Pode-se
ouvi-lo, mas não se pode dizer de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece
com todos os que nascem do Espírito” (Jo. 3,8)
Lewis sente o Espírito a mover
e nunca mais será o mesmo. Assim ficou conhecido como o “convertido mais
desalentado e contrariado de toda a Inglaterra”. Mas a alegria não tardaria a
chegar.
O filme não é uma
autobiografia exaustiva, e alguns dos notáveis excessos da sua juventude, como quando
andou medido com o oculto (“luxúria espiritual”, como ele lhe chamou), aparecem
apenas na forma de alusões, mas isso é porque o objectivo de “The Most
Reluctant Convert” é de mostrar – em menos de 90 minutos – a forma como Lewis
chegou à fé e como as suas lutas internas sobre a verdade de Cristo ajudaram a
definir aquilo que seriam os seus argumentos enquanto evangelizador, mais
tarde.
“The Most Reluctant Convert”
é, sem dúvida, o filme mais inteligente que verá em 2022, mas é também um filme
muito belo, fruto da cinematografia de Sam Heasman, em muitos dos locais onde
se desenrolou a vida verdadeira de Lewis: The Kilns, claro, mas também a Universidade
de Oxford, e Oxfordshire e os seus pubs. “Saúde!”, diz “Jack” Lewis. Para todos
nós.
Apesar de todo o charme verdejante
do filme, este desenrola-se a uma velocidade alucinante e, quando acaba,
recostamo-nos na cadeira, praticamente sem fôlego.
De certa forma, C.S. Lewis foi
o Agostinho de Hipona dos nossos tempos, e caso tivesse tido uma reacção positiva
aos argumentos de Tolkien para a primazia do Catolicismo (e que não constam do
filme), por estes dias talvez o estivéssemos a venerar como santo. (Digo eu,
que não sou postulador).
Tanto Lewis como Agostinho
usaram, de forma enérgica, todas as armas lógicas que conseguiam contra o
Cristianismo… até que cada um deles foi forçado, pela sua bondade e integridade
essencial, a entregar-se de corpo, alma e intelecto, a Deus.
Brad Miner é
editor chefe de The Catholic Thing, investigador sénior da
Faith & Reason Institute e faz parte da administração da Ajuda à Igreja que
Sofre, nos Estados Unidos. É autor de seis livros e antigo editor literário do
National Review.
(Publicado pela primeira vez
na terça-feira, 24 de Maio de 2022 em The Catholic Thing)
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