Não me levem a mal. Não estou a dizer que estes críticos
estão errados. Muito pelo contrário, eu concordo que cada um deles tem muitas
verdades a dizer. O que é notável para os nossos propósitos é ver o quão
numerosos e populares se tornaram. A minha questão é esta: O que é que o facto
de a crítica social se ter tornado um passatempo tão popular entre tantos
autores em tantos países diz do mundo e da cultura em que vivemos?
Há muitas diferenças entre estas várias críticas, mas
cada uma delas contém uma variação do mesmo tema. Cada um dos autores está a
escrever a sua própria versão do “Declínio do Ocidente” de Oswald Spengler.
Enquanto a narrativa dos últimos dois séculos tem sido um de progresso e de fé
no progresso, essa narrativa tem sido substituída por uma de declínio. Ainda há
alguns resistentes, como o Steven Pinker, de Harvard, que pensam que basta
voltarmos às nossas raízes iluministas para que a sociedade regresse à sua
marcha inexorável. Mas na maior parte, essa fé de antão no progresso perpétuo ou
diminuiu, ou desapareceu, foi substituída pelo medo de que ago correu
terrivelmente mal e que não será fácil – ou talvez nem possível – encarrilar
tudo novamente.
Não existe um consenso sobre o que correu mal, nem sobre
quando começaram os problemas, mas há menos acordo ainda sobre como se pode
reverter esta queda em que parece que nos encontramos. Pondo isto em linguagem
mais corrente, vemos muita “desconstrução”, mas muito pouca “reconstrução”.
Vivemos num mundo que não compreendemos e procuramos
formas de o explicar, compreender e interpretar. Queremos saber como e porque é
que as coisas correram tão mal. Parecemos estar a ser orientados pela crença de
que nos bastaria compreender os problemas e descobrir a sua fonte e aí talvez
as conseguíssemos resolver.
Ou talvez não. Mas nesse caso pelo menos saberemos como e
porquê é que o Titanic se está a afundar e podemos amaldiçoar as trevas e a
insensatez de todos os esforços humanos com sofisticado conhecimento, enquanto ajustamos
as espreguiçadeiras e pedimos mais um whisky duplo. Botes salva-vidas? Para quê?
Uma das perguntas que nos podemos colocar é se a nossa
obsessão com a crítica social é mais útil do que aquilo a que os psicólogos
chamam “introspeção ruminante”, alo que têm concluído que não ajuda os
pacientes que lutam contra depressões. Se as pessoas se concentram demasiado
nas narrativas que pensam estar na raiz dos seus problemas, podem ficar presos
nelas. Pode impedi-los de escapar aquilo em que se estão constantemente a focar.
Hope, de George Frederick Watts |
Não pretendo descartar todas essas críticas sociais
valiosas, mas pergunto se não deveríamos passar mais tempo e energia a pensar
no que devemos fazer. Por exemplo, talvez devêssemos investir mais tempo e
energia na única coisa que já provou ser capaz de ajudar a reformar indivíduos
e sociedades: as virtudes. Prudência, justiça, fortaleza e temperança, e,
claro, fé, esperança e amor. Compaixão, dedicação ao bem comum, abertura à
crítica e uma disposição para o sacrifício e para o serviço, renegando o poder,
riqueza, estatuto e todas as formas de ideologia e idolatria. Há centenas de
razões pelas quais estamos na situação em que estamos. A questão agora é saber
como as coisas podem ser diferentes.
De todas as virtudes básicas, a que costuma merecer mais
atenção é a que se encontra no meio das três virtudes teológicas: esperança.
Temo que muitas pessoas perderam a esperança. Mas, sem esperança não existe
energia para mudanças positivas e as pessoas arranjam desculpas para desistir.
Olham para todos esses pequenos esforços feitos pelos outros como ingénuos e
inúteis. “Sim, isso é boa ideia”, dizem, “mas jamais resultaria, não no ponto a
que chegámos”. Talvez não, mas prefiro morrer a tentar que perder a esperança.
Não é quando as coisas correm bem que precisamos de
esperança, é quando parece não haver nada a esperar. E talvez basta ser
suficientemente tolo para acreditar que as cosias podem ser diferentes. Só Deus
sabe como e quando.
Mas, entretanto, temos de regozijar – regozijar com
gratidão pelos muitos dons de que beneficiamos; regozijar no Espírito que nos
transforma diariamente de formas que mal conseguimos imaginar, e continuará a
fazê-lo, se o deixarmos; e regozijar, finalmente, pelo facto de que nós, como
os primeiros apóstolos, fomos contados dignos de sofrer desonra em seu nome.
(Actos 5, 40).
Podemos continuar a olhar para trás, lamentando os tachos
de carne que deixámos no Egipto, ou podemos comer a Maná com que Deus nos
alimenta a cada dia e olhar para o futuro, para as glórias que Ele nos reserva.
Agora é o tempo dos santos.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St. Thomas, Houston.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na Quarta-feira, 16 de Junho de
2021)
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Mais um artigo que partilha, que me conforta e me dá esperanças...
ReplyDeleteObrigada Filipe!