Transcrição integral da entrevista que fiz a D. Augusto
de Albuquerque de Athayde, Conde de Albuquerque e presidente da Assembleia
Portuguesa da Ordem Soberana e Militar de Malta. A reportagem pode ser lida aqui.
A actual polémica entre
a Santa Sé e a Ordem de Malta tem afectado a Ordem em Portugal?
Em nada.
Em Portugal estamos com a situação perfeitamente
arrumada. Temos a consciência que somos membros de uma ordem católica de
cavalaria com 900 anos de história e que está em Portugal desde a fundação do
Estado, e que é aliás um dos pais fundadores da nacionalidade portuguesa. Os
cavaleiros de São João, antes de serem de Malta, já estavam em Leça do Balio no
tempo da Condessa D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques.
E portanto há uma solidez e uma serenidade espiritual,
sociológica e histórica e também uma consciência da prática dos dois deveres
principais de qualquer membro da Ordem de Malta no mundo, que é a defesa da fé
cristã e por outro lado o apoio aos mais desfavorecidos, os que chamamos Nosso
Senhor dos Pobres e os desvalidos e que precisam de um apoio na óptica de
prática do amor cristão e ao próximo.
Esta situação dá-se ao nível das altas esferas, e não da
assembleia portuguesa, que é uma associação que em nada é tocada nem envolvida
nesta situação. Portanto, como os ingleses diriam, é “business as usual”.
Se se der o caso
de algum membro da ordem em Portugal ser contactado pela comissão de inquérito
do Vaticano, estão dispostos a colaborar?
Há aqui uma distinção que gostaria de frisar. Por um
lado, a assembleia portuguesa está totalmente com fidelidade, obediência e
apoio incondicional ao príncipe e grão-mestre Fra Matthew Festing e ao seu
Governo, neste caso em particular ao grande-chanceler, que é o Fra John
Critien. Isto é um ponto base, a assembleia portuguesa unida, nos seus cerca de
280 membros, está com total sintonia e alinhamento com o Príncipe e grão-mestre
e seu grande-chanceler interino.
Dito isto, o que a comissão nomeada pelo Vaticano propõe,
que também respeitamos, é que quem quer que vá, eventualmente, dar alguma
achega ou fazer algum tipo de esclarecimento a nível individual e a título
particular à comissão é livre de o fazer, mas não é obrigado a isso. É livre de
o fazer, a título particular, nunca a título institucional, representativo de
uma associação ou de um subpriorado ou de um grão-priorado, que são as
estruturas administrativas em que a associação se divide no mundo inteiro.
Se alguém o quiser fazer, pois muito bem, será da responsabilidade
de cada qual e a associação portuguesa está à margem, ou acima, disso.
Agora, a comissão, nomeada pelo Vaticano e pelo Santo
Padre, se bem percebi não está em posição de obrigar ninguém a ir fazer
depoimentos, apenas sugere que quem quiser o faça. Mais, também posso dizer que
tudo isto é uma situação que não envolve de qualquer forma ou maneira a
associação portuguesa, porque ela não tem a ver com o essencial da questão, que
se passou há vários anos, na estrutura do Malteser International, um braço
assistencial da ordem internacional, na dependência do grande hospitalário,
quer era então o agora cessante grande chanceler, Albrecht von Boeselager, no
Myanmar, portanto não temos nada a ver com isso. É uma questão que nos
transcende completamente a nível administrativo e de gestão da representação da
ordem em Portugal.
Conhecia
pessoalmente von Boeselager?
Sim! Muito bem. Era o grande-chanceler e antes foi grande
hospitalário. Estou como presidente aqui há 11 anos, já fui vice três anos
antes, vou a Roma quase de três em três meses, e a reuniões. Portanto conheço-o
há muitos anos e sempre tive uma relação normal, institucional com ele. Aliás,
houve três visitas do Príncipe e grão-mestre a Portugal nos últimos seis anos e
meio, uma delas de Estado, a convite do Presidente da República, e eu integrei
a comitiva com ele, portanto conheço-o mais ou menos bem.
Tem algum
comentário a fazer ao processo que levou à sua demissão?
Não. Não tenho comentário nenhum a fazer. Absolutamente
nenhum. É um pelouro que não tem a ver com as funções que cabem nem no âmbito
das actividades da associação portuguesa, nem no âmbito do presidente da
associação portuguesa, não tenho nenhum comentário a fazer.
São decisões tomadas internamente nas altas esferas do
Estado da Ordem Soberana e Militar de Malta, pelo seu governante máximo que é o
seu Príncipe e grão-mestre, no qual reside a soberania da ordem, portanto não
tenho comentários de qualquer tipo ou natureza a fazer.
Cardeal Raymond Burke |
Esta disputa pode
ter a ver com o braço-de-ferro entre os cardeais que endereçaram uma carta ao
Papa com dúvidas sobre o Amoris Laetitia, em que se inclui o Cardeal Burke, e o
Papa? Ou seja, entre conservadores e uma ala mais reformista?
Acho, francamente, que não tem a ver. Esta questão é do
foro interno da Ordem de Malta, acho que o facto de o Cardeal Patrono, Sr.
Cardeal Burke, ser um Cardeal conservador em relação a outras linhas que
existem no Vaticano é um assunto diferente.
Acho que a ordem não está a ser instrumentalizada numa
luta entre cardeais de tendências diferentes. Pelo contrário, a Ordem de Malta
está – e insisto neste ponto – plenamente, de corpo, alma e coração com o Príncipe
e grão-mestre o seu actual Governo, o grão-chanceler interino, numa óptica de
defender a soberania da instituição em matéria de jurisdição interna, e
portanto tudo o que se terá passado será matéria de pura e simples jurisdição e
tomada de decisão interna.
Aliás, a comissão, pelo que percebi, foi nomeada para
esclarecimento de factos para conduzir a uma espécie de paz e concórdia. Não
tem a ver com uma contestação à soberania da instituição nem a uma
instrumentalização da mesma. É apenas uma comissão - aliás chefiada por um antigo
núncio e diplomata do Vaticano - que procura a paz e a concórdia, mas não há
qualquer antagonismo ou desrespeito espiritual ou de natureza hierárquica entre
a Santa Sé e a Ordem, ou vice-versa, há uma questão administrativa, política
também, talvez, do foro interno da Ordem, mas que se resolverá e bem na
estrutura e no seio da ordem com superior iluminação e direcção do Príncipe e grão-mestre.
Reconhece
legitimidade então à comissão de inquérito?
Reconheço legitimidade para emitir uma opinião.
Mas não reconheço legitimidade para dar instruções
internas ao Príncipe e grão-mestre.
Acredita que tudo
isto pode ter um desenlace positivo?
Estou certo que terá um desenlace positivo, porque acho
que o mais importante é que, no mundo como ele está, e sendo a Ordem de Malta
uma entidade com uma finalidade de defesa da fé, dignificação do homem e da
Cristandade, e sendo o Vaticano por um lado, nesta natureza dualista da Ordem,
e sendo o Vaticano uma entidade de quem espiritualmente a Ordem depende, mas
por outro de quem a ordem é independente numa óptica de soberania, estou
convencido que já somos tão poucos neste mundo tão conturbado, tão ateu e
agnóstico, e tão cheio de alçapões e de materialismos doentios, somos tão
poucos a remar contra a maré que espero bem que a concórdia e o bom-senso
acabem por prevalecer, a bem do cumprimento das nossas missões enquanto
cristãos.
Tanto você como o Augusto Ataíde são uns patetas snobs que se julgam inteligentes...
ReplyDeleteAnda um tipo a disfarçar anos e anos para ser cruelmente desmascarado assim...
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