Joseph R. Wood |
Esta semana o Cardeal Timothy Dolan mostrou como se diz a verdade aos poderosos na praça pública.
Neste caso o “poder” era o Partido Republicano, e o poder estava bem disposto quando o Arcebispo subiu ao palco para fechar a convenção. Mas em vez de despedir a multidão com palavras bonitas de oportunidade, Dolan fez uma bênção rápida mas repleta de ensinamento católico. E fê-lo num espírito verdadeiramente americano.
Tal como aconteceu com a sua decisão de convidar ambos os candidatos presidenciais para o jantar de angariação de fundos Al Smith em Outubro, a aceitação por parte de Dolan para ir à convenção republicana causou controvérsia para a esquerda, tanto católica como não católica. Mas aqueles que o criticaram foram surpreendidos, se é que repararam, quando foi anunciado que também fará a bênção final da convenção democrata na próxima semana em Charlotte.
A diferença é que em Charlotte a lista de oradores inclui também a irmã Simone Campbell, cuja visão da doutrina social da Igreja Católica está alinhada com o programa eleitoral do Partido Democrata e que pode servir de “hierarquia alternativa” para quem procura o apoio católico para a agenda progressista.
Mas voltemos a Tampa. Dadas algumas das reportagens incrivelmente mal feitas sobre aquilo que disse aos republicanos, vale a pena gastar um momento para considerar algumas das coisas que o Cardeal disse realmente.
Começou por invocar “Deus todo poderoso, Pai de Abraão, Isaac, Jacob e Jesus.” A autoridade e nome de “Pai”para a primeira pessoa da Trindade é repetida vezes sem conta no Catecismo Católico. “Pai” significa coisas diferentes no caso de Abraão e Jesus, como é evidente. Mas começar a sua bênção com esta referência é um afirmação sólida das crênças católicas numa altura em que o lado”paterno” de Deus precisa de ser realçado.
O Cardeal fez questão de extender a sua bênção a “todos os que ainda não nasceram”, bem como aos que se aproximam da morte, um pedido claro para acarinhar a vida em todas as suas fases. E, sem fugir à questão das políticas de imigração, pediu a bênção de Deus para todos aqueles cujas famílias chegaram há muitas gerações e também os que chegaram mais recentemente “para construir um futuro melhor, enquanto juntam as suas vidas à rica tapeçaria que é a América”.
Invocou o princípio da solidariedade para aqueles que sofrem com desastres naturais e para com os pobres, sem receitar quaisquer soluções específicas.
Numa passagem crucial recordou que “o único Governo justo é o Governo que serve os seus cidadãos e não se serve a si mesmo”. A partir deste princípio, que está radicado no pensamento católico sobre política, prosseguiu para aquela que terá sido a sua mensagem central: “Renova em todo o nosso povo um respeito integral pela liberdade religiosa, essa liberdade que nos é mais cara”.
Não pode haver dúvidas sobre o destinatário dessa petição tão concisa. Nessa afirmação simples o Cardeal Dolan fez aquilo que outros deveriam ter feito no contexto da convenção.
Mas o Cardeal prosseguiu, pedindo que sejamos tornados “verdadeiramente livres, ancorando a liberdade à verdade e ordenando a liberdade em torno da bondade”. Este ancorar a liberdade na verdade, e a colocação da liberdade no contexto de uma ordem maior que é boa, são o antídoto para o niílismo que se segue ao relativismo moral.
Essa liberdade deve servir um propósito – levar uma boa vida. E embora eu não seja perito na história dos discursos de convenções, ficaria muito surpreendido se qualquer outro orador nos anos recentes tivesse falado à multidão sobre as virtudes da fé, esperança, amor, prudência, justiça, temperança e fortaleza como sendo guias e marcas sobre como viver uma vida livre.
De seguida Dolan recordou as palavras da Declaração de Independência, pedindo que possamos “conhecer a verdade da vossa criação, respeitando as leis da natureza e do Deus da natureza...” Embora ninguém defenda que os fundadores dos EUA fossem predominantemente católicos, tratou-se de uma recordação de que esses fundadores aceitavam que uma certa medida de lei natural é essencial para a natureza e espírito da República. Isso foi um aspecto central para o que Jefferson quis dizer, 49 anos mais tarde, quando caracterizou o documento como sendo uma expressão de verdades mais antigas, como eram entendidas pelos americanos, e não uma afirmação de princípios novos ou inovadores.
Foi importante também o acrescento de Dolan de que não devemos “procurar substituir [as verdades da criação e da lei natural] com ídolos feitos por nós”. Este aviso contra colocar as nossas ideias sobre o aperfeiçoamento do mundo no lugar da verdade de Deus está no âmago de grande parte da discórdia política e pessoal nos dias de hoje, como tem sido sempre o caso ao longo da história. Logo, devemos ter “o bom senso de não descartar os limites de uma vida recta”.
O Cardeal pediu a bênção de Deus para “todas as pessoas, em todas as terras, que procuram conduzir as suas vidas na liberdade”. A sua bênção foi uma oração a Deus de verdades que são universais e não só americanas. Mas terminou o discurso com palavras muito americanas, recordando-nos que “somos de facto uma nação debaixo de Deus, e em Deus confiamos”.
Há sempre questões sobre o papel que a hierarquia católica devia desempenhar na política. Como ficou demonstrado este ano, estas questões são mais pertinentes agora do que em qualquer outra altura da nossa história. Exigem uma consideração cuidadosa sobre como e quando os bispos devem abordar líderes políticos. Os pedidos habituais de diálogo e bons modos não serão o suficiente para guiar a Igreja nestas circunstâncias, quando é a sua própria liberdade de acção que está ameaçada.
Mas no que diz respeito à obrigação central dos bispos em falar a verdade, foi uma boa semana.
Joseph Wood é professor no Institute of World Politics em Washington.
(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 24 de Agosto de 2012 em www.thecatholicthing.org)
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