Joseph Wood |
A “Europa
Central” inclui uma variedade de pessoas e lugares diferentes. A Lituânia é em
vários sentidos muito “católica”, mas a Estónia não. A República Checa e a
Eslováquia são bastante diferentes, o que conduziu ao “Divórcio de Veludo” no
fim da Guerra Fria. A Polónia e a Croácia têm raízes católicas profundas, mas
que se desenvolveram de forma diferente do que na Hungria.
Os recentes
desenvolvimentos politicos e económicos deixaram os países com tantas
diferenças que alguns questionam se podemos sequer pensar neles como uma única
região.
Mas quer esteja a
visitar estes locais pela primeira vez ou os conheça desde toda a vida, apesar
de, e na base de, todas as diferenças há uma semelhança clara que inclui o
tempo, a arquitectura, a experiência histórica e a visão do mundo.
Nas minhas
reuniões com representantes do Governo e com as pessoas que vim a conhecer
através de contactos católicos, muitos dos quais eram, no início da década
2000, bastante novos para os cargos que exerciam, existia um elemento comum que
passava por uma apreciação da liberdade que não era tão evidente entre os seus
contemporâneos americanos e da Europa Ocidental. Um deles explicou-me que os
seus pais tinham sido informados que ele teria melhores possibilidades de
suceder na escola caso eles deixassem de ir à missa. Este tipo de assédio era o
normal.
Uma das razões
por detrás do meu fascínio pela região é de que alguns – embora não todos – os
católicos e protestantes sobreviveram com a fé intacta, não obstante o poder do
Estado burocrático-administrativo moderno. Esse Estado procurou, com grande
vigor e a melhor tecnologia da época, secularizar a sociedade e limitar a
religião, na melhor das hipóteses, aos edifícios religiosos cuja existência
ainda era tolerada. Talvez tenhamos algo a aprender com essa experiência.
John Hittinger,
da Universidade de St. Thomas em Houston, descreveu recentemente a semelhança
entre a nossa situação e a deles. Ele cita os avisos, feitos há meses pelo
Cardeal George, sobre os efeitos do Decreto HHS sobre o fornecimento decontraceptivos, que para todos os efeitos obriga as instituições católicas a
secularizar-se ou a fechar. O Cardeal sublinhou que a liberdade religiosa
também era garantida na Constituição soviética, embora a realidade fosse bem
diferente e altamente restringida. Alguns líderes da Igreja Ortodoxa Russa
tinham postos na KGB.
Uma das várias igrejas transformadas em "museu do Ateísmo" pelos soviéticos. |
O católico que se
opôs com mais vigor a esta realidade da Guerra Fria foi, claro, o Cardeal
Wojtyla da Polónia, mais tarde João Paulo II. Ele desenvolveu um plano de
quatro pontos para a Igreja nessas circunstâncias: “1) Apelar aos direitos da
lei e da moralidade para combater as agressões injustas às suas acções e instituições;
2) Ser acima de tudo professor, explicando a verdadeira fé e as suas aplicações
a todas as esferas da vida...; 3) Usar oportunidades dramáticas para expressar
a solidariedade com aqueles católicos que estejam a ser atacados e as
instituições que estão a ser subvertidas; celebrar as efemérides e os heróis da
fé nos seus próprios países; 4) desafiar fortemente e contrariar a táctica de
‘dividir no topo e na base’, empregue pelo Estado, e estar a postos para impôr
as práticas doutrinárias e disciplinares requiridas para manter a unidade da
fé”.
Fácil de dizer,
difícil de cumprir. O Papa ganhou a guerra, mas nas batalhas que se
desenrolaram, na Polónia e noutros locais muitos, (incluindo clero) foram
tragicamente cooptados pelo Estado e colaboraram com o seu programa.
O que se passou
nesses anos e que permitiu que o Cristianismo sobrevivesse na Europa Central
parece ter sido apenas o mais recente episódio do que o padre Stanley Jaki, da
Hungria, descreveu no seu recente livro Archipelago Church. Ele argumenta que a
Igreja, tanto no passado século como sempre que se fizeram sentir as
“tempestades morais da destruição”, é na verdade um arquipélago composto por
ilhas de santidade e verdade, mais do que um continente inteiro. Os santos
sustentam estas ilhas ao longo dos séculos, embora as suas posições mudem
consoante as contingências da história.
Estas ilhas
existiram e continuam a existir também na Europa Ocidental, onde a
secularização continuou a toda a velocidade nos últimos dois séculos, mesmo sem
a assistência de regimes comunistas. Por toda a Europa sentiu-se um problema
diferente mas igualmente importante, a colaboração na secularização por parte
de uma igreja financiada pelo Governo e legalmente instituída que é dependente
de um grande aparato estatal.
O nível de
financiamento que as instituições católicas recebem do Governo federal nos
Estados Unidos cria tensões similares, entre resistir ao Estado quando este
abusa da sua autoridade e o risco de perder o dinheiro público que sustenta as
obras da Igreja. Os católicos americanos tendem a apoiar os grandes programas
sociais do Governo. Com a aumento de recursos por parte do Governo para
financiar esses programas vem também mais poder, que pode ser usado para
qualquer coisa, como por exemplo o decreto HHS.
As ilhas deste
arquipélago formam o “organismo vivo” da Igreja, com as suas estruturas
eclesiais a compor o esqueleto necessário. A novidade do século passado, na
opinião do padre Jaki, foi o reconhecimento do papel dos leigos, que culminou
no Concílio Vaticano II, (um concílio para o qual reservava críticas
consideráveis). Para sustentar e fazer avançar este arquipélago, para
implementar o plano do Cardeal Wojtyla, os leigos terão de desempenhar um novo
papel em conjunto com a hierarquia. O papel dos leigos será precisamente um dos
grandes temas do ano da Fé que se aproxima e que começa no dia 11 de Outubro.
A América está
ainda, esperamos, muito longe da Europa Central dos anos 60, e seria errado
compararmos a nossa situação à dos cristãos que tiveram de defrontar o Leviatã
comunista. Mas aqueles que emergiram da região nos meados do século XX, com a
experiência daquilo que acontece quando o Estado Secular procura limpar os
espaços públicos de qualquer influência religiosa, têm muito para nos ensinar
neste momento da nossa história.
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The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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