Francis J. Beckwith |
A diocese católica de Arlington, na Virginia, chamou a
atenção recentemente ao pedir aos seus catequistas que assinem uma profissão de
fé que esclareça que acreditam no Catecismo que a Igreja lhes encarregou de
ensinar e que aceitam que a Igreja é guardiã e custódia dessa fé.
Resumindo, está-se a pedir-lhes que admitam que são
católicos e que acreditam no Catolicismo. Mas pelos vistos isto é de tal forma
polémico que cinco dos cinco mil catequistas diocesanos (incluindo professores
de escolas paroquiais) demitiram-se por causa do pedido. Cinco, só para terem
ideia, é o número de papas que serviram a Igreja ao longo da minha vida.
Pelo menos uma desses cinco catequistas, a Kathleen Riley,
que tem 52 anos é, tal como eu (que tenho 51), filha da década de 70, o que
significa que fazemos parte da primeira geração de católicos que foi formada
espiritual e intelectualente “no espírito do Vaticano II”.
É claro que não houve nada de mal no Concilio Vaticano II;
os seus resultados são um desenvolvimento natural de anteriores ensinamentos da
Igreja. O problema tem que ver com a forma como estas alterações foram
implementadas e compreendidas por um clero e religiosos que tinham uma agenda
bem diferente em mente.
Como fiz notar nas minhas memórias de 2009, “Return
to Rome”, a ausência de seriedade teológica que fluiu desta agenda foi o
que me empurrou a mim, e a muitos outros, para os braços do Protestantismo Evangélico.
Quando eu estava no liceu católico, para dar apenas um
exemplo, tive aulas obrigatórias de religião nos quais “Fernão
Capelo Gaivota”, de Richard Bach, fazia parte da bibliografia. Isto era
bastante típico da infidelidade catequética que dominava aquela era em muitas
paróquias e escolas nos Estados Unidos.
Em vez de nos apresentarem grandes nomes da literatura católica,
eramos brindados com este género de balelas (do livro de Bach): “Podemos
subtrair-nos à ignorância, podemos encontrar-nos como criaturas excelentes,
inteligentes e hábeis. Podemos ser livres! Podemos aprender a voar!"
Isto é bastante diferente de “Formaste-nos para ti, e nosso
coração não terá sossego enquanto não encontrar descanso em ti”, ou até, mais
contemporâneo, “os críticos modernos da autoridade religiosa são como homens
que atacam a polícia sem nunca terem ouvido falar de ladrões”.
A senhora Riley é informática. Porque foi treinada como
informática, e é uma profissional nesse campo, pode falar com autoridade sobre
assuntos ligados à informática. Isto deve-se ao facto da informática, como
tantas outras áreas do saber, ser uma tradição de conhecimento.
Ao longo dos tempos essa tradição, como qualquer outra,
desenvolve práticas uniformes, formas de assimilar novas descobertas e formas
de compreensão de conhecimentos estabelecidos, e uma hierarquia de experiência
que fornece bases à autoridade daqueles que já se encontram nesta profissão.
Se, por exemplo, um leigo na matéria, como eu, fosse dizer a
uma autoridade na informática, como a senhora Riley, que no fundo do meu
coração acredito que o sistema operativo do iMac no qual estou a escrever este
artigo “é igual” à mais recente versão do Windows, porque na minha opinião
ambos “fazem a mesma coisa”, uma correcção da parte dela não seria uma
injustiça.
Se me queixasse de que a sua correcção viola a minha
autonomia e direito à dissenção, espero que ela me informasse, de forma
simpática, de que tinha contribuído para o meu crescimento intelectual ao
partilhar comigo a verdade.
Kathleen Riley, à direita, com outra "dissidente" de Arlington |
Poderia, por exemplo, submeter artigos a publicações de
peer-review e apresentar textos em conferências profissionais. Se as iluminuras
da profissão, as autoridades por assim dizer, não considerassem os meus
argumentos convincentes, ou os achassem inconsistentes com o conhecimento que a
profissão tem por indisputável, então talvez fosse altura de eu reconsiderar a
minha dissenção e começar a entreter a ideia de que a falha é minha e não da
profissão.
Tudo o que a Igreja pede aos Cinco de Arlington é que tratem
a teologia da Igreja e os seus desenvolvimentos com o mesmo respeito e
deferência que a senhora Riley espera de outros em relação à matéria na qual
ela é perita.
Da mesma forma que ela e os seus pares epseram que os
dissidentes no ramo da informática apresentem os seus argumentos nos confins da
prática, do conhecimento adquirido e dos constrangimentos metodológicos que se
desenvolveram ao longo dos anos para o bem da profissão, a Igreja espera que os
dissidentes apresentem os seus argumentos nos confins da prática, do conhecimento
adquirido e dos constragimentos metodológicos que se desenvolveram ao longo dos
anos para o bem da Igreja.
Quais são, então, os argumentos dos Cinco de Arlington? Como
sustentam a sua dissidência e como é que ela é consistente com, e um desenvolvimento
natural de, a herança da tradição teológica da Igreja?
Dizer simplesmente – sem qualquer respeito pelo argumento,
precedente ou normas estabelecidas de diálogo teológico – que “o Espírito Santo
dá-nos a responsabilidade de ouvirmos as nossas consciências”, como afirma a
senhora Riley, não passa de uma posição anti-intelectual e fundamentalmente
irracional.
Os Cinco de Arlington, como muitos católicos e protestantes
americanos, assimilaram uma compreensão contemporânea da teologia que é
intrínsicamente hóstil à fé que afirmam professar. É um entendimento que encara
as crenças teológicas como sendo irredutivelmente pessoais, privadas, não
cognitivas e direccionadas pelas nossas preferências.
Isto nada tem a ver com liberdade intellectual. É uma condenação
à solitária numa prisão egopapista.
(Publicado pela primeira vez na Sexta-feira, 20 de Julho
2012 em http://www.thecatholicthing.org)
Francis
J. Beckwith é professor de Filosofia e Estudos Estado-Igreja na
Universidade de Baylor. É
autor de Politics
for Christians: Statecraft as Soulcraft, e (juntamente com Robert P. George
e Susan McWilliams), A Second Look at
First Things: A Case for Conservative Politics, a festschrift in honor of
Hadley Arkes.
© 2012 The
Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução
contacte:info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica
inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus
autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o
consentimento de The Catholic Thing.
Se fizessem a mesma exigência aqui, na Faculdade de Teologia da UCP, talvez também houvesse objecções entre os professores. Como já foi denunciado por nomes de ex-alunos credíveis, aparentemente sem consequências.
ReplyDeleteFC
Every year, before classes start at Franciscan University of Steubenville, where my sons and daughters either studied or still studying, all the professors of the University, profess fidelity to the teachings of the Church, represented by the local Bishop. This is very important, because unfortunately, the only thing that many catholic universities have catholic is their name. Thank you for your blog.
ReplyDeleteJorge