Pe. Thomas G. Weinandy |
São os três adultos, mas
nenhum é casado – algo raro tendo em conta a cultura judaica do seu tempo. Em
Lucas, Marta aparece sempre como a chefe de família. Lucas refere-se a Marta
como acolhendo Jesus na “sua casa”, enquanto Maria é representada como a irmã
contemplativa.
Lucas não menciona Lázaro.
Porém, no Evangelho de João, quando as irmãs informam Jesus da doença de Lázaro
referem-se a ele apenas como “aquele que tu amas”, presumindo que Jesus saberia
logo de quem falam. João também diz “Jesus amava Marta, e a sua irmã, e
Lázaro”. Eis o mistério. Porque é que duas irmãs e um irmão viveriam juntos, e
porque é que Jesus teria um amor especial por Lázaro?
Há quem especule que Lázaro
pudesse ter uma doença degenerativa, e que por causa disso ele estava ao
cuidado das suas duas irmãs, o que poderá também ter levado a que Jesus
sentisse por ele uma afeição especial. Assim, Jesus declara imediatamente que a
sua doença não é para a morte, mas para a glória de Deus e do seu Filho. Não
será apenas Jesus a ser glorificado com este evento, Marta e Maria também
serão.
Quando Jesus chegou, soube que
Lázaro estava no túmulo há já quatro dias. Marta, sempre igual a si mesma, saiu
ao encontro de Jesus enquanto que Maria, na mesma medida, permaneceu em casa.
Marta diz que se Jesus
estivesse presente, o seu irmão não teria morrido, mas que tudo o que Jesus
pedir a Deus, Ele concederá. Em resposta Jesus declara a Marta: “Eu sou a
Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que tenha morrido, viverá. E todo
aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre. Crês nisto?” (Jo 11,
25-26)
Este é o momento de glória de
Marta. O Evangelho de João não narra a proclamação de fé de Pedro, de que Jesus
é o Cristo, o Filho de Deus vivo. Aqui é Marta quem tem a honra de ecoar a
declaração de Pedro: “Sim, Senhor, eu acredito que tu és o Cristo, o Filho de
Deus”. Para Marta, Jesus é o “Senhor” divino, porque é filho encarnado do Pai,
ungido pelo Espírito.
Marta é glorificada na sua profissão
de fé; Maria é glorificada no seu amor. Quando Jesus viu Maria a seus pés,
chorando amorosamente a morte de Lázaro, Jesus “comoveu-se profundamente”.
Perguntou onde é que Lázaro estava sepultado. No túmulo, também Jesus chorou
por amor e alguns dos judeus comentaram quanto ele o amava.
Assim, apercebemo-nos do amor
que liga Marta, Maria e Lázaro a Jesus, e o amor de Jesus que O liga a eles.
Vemos também que o amor de Marta e de Maria estava repleto de fé em Jesus,
enquanto Filho do Pai.
Neste contexto de amor e de
fé, Jesus ordena que a pedra seja removida do túmulo de Lázaro. Então clama em
alta voz: “Lázaro, vem cá para for!”. Quando Lázaro sai do túmulo, Jesus
diz-lhes para lhe retirarem as ligaduras e deixarem-no ir. Podemos presumir que
Marta foi a primeira a desligar e a libertar Lázaro.
Ao ressuscitar Lázaro dos
mortos, Jesus manifesta que é verdadeiramente a ressurreição e a vida. E
aqueles que crêem nele como Filho do Pai, ainda que morram, viverão.
Interessante e
significativamente, João narra que, seis dias antes da Páscoa as duas irmãs e
Lázaro convidam Jesus para uma refeição – uma refeição eucarística, em acção de
graças por aquilo que Jesus fez ao ressuscitar Lázaro de entre os mortos. Claro
que foi Marta quem serviu, e Lázaro estava entre os convidados.
Depois, “Maria ungiu os pés de
Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e enxugou-lhos com
os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume”. Maria, aquela
que ama, manifesta, de forma sensual, o seu amor por Jesus ao derramar o seu
dom mais precioso, um dom que simboliza a dádiva de si mesma. Em resposta a
Judas Iscariote, que lamentou o desperdício, Jesus afirma que Maria o estava a
preparar para o enterro – para a sua passagem da morte para a vida, em que ele
se tornaria a ressurreição e a vida.
Nesta recriação simbólica da Eucaristia
reconhecemos que tal como Jesus se oferece completamente a nós na Eucaristia, com
o seu Corpo Ressuscitado e Oferecido e o seu Sangue Ressuscitado e Oferecido,
assim também nós, na mesma Eucaristia, devemos dar-lhe, em amor, o nosso dom
mais precioso, o dom de nós mesmos.
Nesta vivência mútua entre nós
e Jesus a fragrância do amor deve encher as nossas igrejas e chegar aos Céus.
Mais, podemos ter a certeza de que quando Ele regressar em Glória, no fim dos
tempos, Jesus chamar-nos-á a cada um pelo nome, e ascenderemos em glória para o
banquete celeste – para a presença do Pai celeste com todos os santos e anjos.
Então, o amor que existia na
família de Marta, Maria e Lázaro – bem como o seu amor por Jesus e o amor de
Jesus por eles – encontrará a sua plenitude universal, pois Jesus será a plena
ressurreição para a vida eterna.
Thomas G. Weinandy, OFM, um
autor prolífico e um dos mais conhecidos teólogos vivos, faz parte da Comissão
Teológica Internacional do Vaticano. O seu mais recente livro é Jesus Becoming Jesus: A Theological
Interpretation of the Synoptic Gospels.
(Publicado pela primeira vez
em The Catholic Thing na
Sexta-feira, 29 de Julho de 2022)
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