Contudo, queria escrever um
pouco sobre esta campanha que se tem gerado em torno do Patriarca, com muitos a
pedir a sua demissão.
A razão pela qual não o fiz
mais cedo é porque estive a semana toda num campo de férias católico, a
supervisionar uma equipa de 20 animadores que estavam a entreter 60 crianças. E
julgo pertinente dizer que todos esses 20 animadores foram obrigados, por ordem
do Patriarca de Lisboa, a assistir a uma formação de várias horas sobre
protecção de menores. O mesmo se aplicou a todos os animadores de todos os
campos de férias católicos no Patriarcado, pelo menos. Desconheço se aconteceu
noutras dioceses.
Este é apenas um exemplo, mas
é revelador da seriedade com que o Patriarca tem tratado este assunto desde que
assumiu funções. Lisboa foi a primeira diocese em Portugal a ter uma Comissão
de Protecção de Menores e sabemos que já houve denúncias que estão a ser
tratadas. Eu tenho sido crítico sobre alguns aspectos sobretudo ao nível da
comunicação e transparência, e sei bem que muita coisa ao longo dos últimos
anos tem sido mal feita, mas a questão é que temos no Sr. D. Manuel Clemente
uma figura empenhada em melhorar e em tornar a igreja um local mais seguro para
as crianças. Não nos podemos esquecer que o encontro entre o Patriarca e a
vítima apenas aconteceu porque ele a pediu e, depois de um primeiro adiamento,
insistiu nela, precisamente para poder escutar a vítima e ver como podia ajudar
no seu caso particular.
O que dizer, então, sobre a
reportagem do Observador, que espoletou tudo isto? Há duas vertentes importantes.
Primeiro a reportagem. Sobre a reportagem em si, nada a criticar. É um trabalho
profissional, que revela um caso que, respeitando ou não as normas da altura,
foi mal resolvido. Nesse sentido é uma notícia, e penso que o Observador a
tratou bem. Se no artigo ficaram coisas mal explicadas a culpa é em parte do
próprio patriarcado, que não terá respondido de forma esclarecedora ao jornalista
e depois veio tentar remediar a decisão com comunicados e cartas abertas.
Outra coisa diferente é a
campanha que o Observador tem feito em torno da questão, e aí penso que merece
críticas. A ideia com que fico – e posso estar a ser injusto – é que o
Observador está novamente a tentar armar-se em Boston Globe e a tentar obter um
escalpo como troféu.
Já tínhamos visto esta aspiração
do Observador aquando da sua série de reportagens sobre abusos, há alguns anos.
Na altura fizeram uma campanha extensíssima, a pedir testemunhos em todas as
notícias que publicavam, a filmar reuniões de redacção e a apelar a denúncias.
O resultado foram várias reportagens extensas e aprofundadas, mas sobre casos
já conhecidos, e um caso novo. Pouca coisa para a fanfarra toda.
Agora vemos mais do mesmo. Uma
notícia boa, mas depois vendida e explorada de uma forma que trai a própria
seriedade do conteúdo.
No meio de tudo isto perde-se
o essencial. O importante aqui, como em tudo, é zelar pelo bem das vítimas e evitar,
na medida do possível, novos casos. Neste momento parece-me que a demissão do
Patriarca – um homem que sempre se mostrou preocupado com este assunto e que,
mesmo cometendo erros, tem contribuído muito para colocar as vítimas em
primeiro lugar – em nada contribui para o bem das vítimas e o combate ao
problema dos abusos em Portugal.
Muito bem!
ReplyDeleteObrigada por escrever aquilo que a maioria de nós pensamos. O sr. D. Manuel Clemente merece todo o nosso respeito pela forma como tratou dos abusos omeando
ReplyDeleteMuito bem. Calmo e comedido
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