Maria foi a primeira discípula
de Jesus, a serva do Senhor (Lucas 1,38), e depois de Maria brotou uma
abundância de discípulos – incluindo madre Teresa de Calcutá, que tinha com
Nossa Senhora uma ligação muito especial. A sua vocação religiosa, que recebeu
neste dia* há precisamente 100 anos, na Solenidade da Assunção, foi um dom
especial de Maria e provou ser muito fecundo.
Na tarde de 15 de Agosto de
1922, quando Gonxhe Bojaxhiu (o seu nome civil) estava em oração profunda,
ajoelhada diante da imagem de Nossa Senhora com o Menino Jesus, a menina de 12
anos sentiu pela primeira vez que o Senhor a chamava de forma especial. Ela
devia ser consagrada a Ele. Foi por isso em Letnicë, perto de Skopje, enquanto
rezava ferverosamente no santuário de Nossa Senhora, que começou a caminhada
religiosa da futura Santa Madre Teresa.
As famílias católicas de
Skopje, em que se incluíam os Bojaxhius, tinham uma devoção especial a Nossa
Senhora de Letnicë, no Kosovo. Em Agosto, durante a celebração da Solenidade da
Assunção, os Bojaxhius faziam a sua peregrinação anual ao Santuário de Nossa
Senhora de Letnicë, uma imponente igreja caiada, num lugarejo entre as
montanhas. Os peregrinos caminhavam a pé, em grupos, rezando e cantando pelo
caminho.
Segundo a tradição local, a
imagem da Virgem Negra de Letnicë, que tem 700 anos, viajou miraculosamente de
Skopje (onde nasceu a Madre Teresa), atravessou as montanhas Karadak e chegou à
igreja de Letnicë. A lenda diz que a imagem foi encontrada por residentes locais,
escondida debaixo de uma grande árvore, e assim foi salva de ser profanada
pelos muçulmanos.
Tal era a veneração à Virgem
Negra que ninguém – nem mesmo os muçulmanos que governaram o país durante quase
500 anos – podia tocá-la ou retirar as ofertas que as pessoas lhe levavam ao
santuário.
Nossa Senhora apareceu três
vezes em Letnicë, pedindo aos fiéis que construíssem um santuário. Ortodoxos,
muçulmanos, sérvios, croatas, albaneses e ciganos, todos veneraram a Virgem
Negra de Letnicë ao longo dos séculos, e o santuário continua a ser uma ponte e
um local de união, encontro e diálogo entre pessoas de diferentes etnias e
religiões.
A Virgem Negra de Letnicë é a
única do género nos Balcãs, embora existam mais de 450 Virgens Negras que são
veneradas em igrejas em França, na Croácia, Eslovénia, Áustria, Polónia,
Equador, Lituânia e Espanha, entre outros.
A devoção de Gonxhe por Nossa
Senhora era profunda. Ainda criança, em Skopje, tornou-se membro da Congregação
de Maria, um grupo de jovens da sua paróquia, criada por jesuítas croatas e
inspirado na devoção ao Sagrado Coração de Jesus. O grupo encorajava os membros
a seguirem o exemplo de Nossa Senhora nas suas vidas. Isso implicava confiança
e construção de carácter, firmeza, humildade e oração, fidelidade
inquestionável e nunca fugir às dificuldades – seguir nas pegadas de Maria, que
se manteve firme junto à Cruz do seu Filho, no Calvário.
Teresa e a sua irmã Aga |
Mais, a Gonxhe tomou como nome
religioso Irmã Maria Teresa do Menino Jesus, em honra de Santa Teresa de
Lisieux; toda a vida ela foi comprometida com uma intimidade espiritual com
Maria, coração voltado para ela, e vida orientada para ela.
O espírito de Maria, e o seu
Imaculado Coração, tornar-se-iam o coração e o espírito da Sociedade das
Missionárias da Caridade, a ordem fundada por Madre Teresa. Muitos dos que
conhecem e admiram a Madre Teresa conhecem já o seu trabalho na Índia, mas na
raiz do seu compromisso com os mais pobres dos pobres, e com os moribundos,
está a sua relação com Maria, que começou nas periferias dos Balcãs.
O lema de Madre Teresa “Seja
só tudo por Jesus, através de Maria”, estava dividido em três sucessivos
estados de alma: confiança amorosa, entrega amorosa, ânimo amoroso. Encarava
estes três estados espirituais como uma extensão e participação no Espírito de
Nossa Senhora. “Ame-a como Ele a amou; sê causa de alegria para ela como Ele
foi; fique próximo dela como Ele ficou; partilhe tudo com ela, mesmo a Cruz,
como Ele fez quando ela permaneceu junto da Cruz no Calvário”, escreveu Madre
Teresa na Regra das Irmãs da Caridade, mais tarde.
Nesta Solenidade da Assunção é
justo que honremos a Santíssima Mãe, reconhecendo o seu amor vivificante por
Jesus e a forma como cuida hoje de nós. Que a sua intercessão e exemplo de amor
fiel continuem a inspirar vocações como a de St. Madre Teresa, da qual Nossa
Senhora foi mediadora há um século.
*Artigo publicado inicialmente
no dia 15 de Agosto
Ines A. Murzaku é professora
de Religião na Universidade de Seton Hall. Tem artigos publicados em vários
artigos e livros. O mais recente é Monasticism in Eastern Europe and the Former
Soviet Republics. Colaborou com vários órgãos de informação, incluindo a Radio
Tirana (Albânia) durante a Guerra Fria; a Rádio Vaticano e a EWTN em Roma
durante as revoltas na Europa de Leste dos anos 90, a Voice of America e a
Relevant Radio, nos EUA.
(Publicado pela primeira vez na
Segunda-feira, 15 de Agosto de 2022 em The Catholic Thing)
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