Está a tornar-se patético ver o aproveitamento político,
de parte a parte, que se está a tentar fazer da morte do jovem cabo-verdiano Luís
Giovani.
Por um lado os que vêem racismo em todo o lado, por outro
os que reagem na defensiva, querendo usar o assunto para bater na esquerda. E
se nos limitássemos a respeitar a morte do rapaz, lamentando-a, sem correr para
tirar conclusões precipitadas?
Por enquanto, a acusação de racismo não tem qualquer
base. Não se percebe, por isso, porque é que se correu a fazer manifestações
nesse tom e se falou disso nas redes sociais com tanta veemência. Quem ganha
com isso?
Dizem que o atraso na detenção de suspeitos é prova de
racismo. Não é.
Nestes casos chocantes toda a gente quer que apareçam
culpados, e rapidamente. Mas esse é precisamente o ambiente em que surgem erros
na investigação, porque a pressa é inimiga da perfeição, e depois ou se prendem
inocentes ou se libertam culpados. O facto de a polícia estar a demorar a fazer
detenções pode ser, aliás, um sinal de profissionalismo. A confirmar-se que os
agressores eram da comunidade cigana – e tanto quanto sei isso não é ainda
certo – é possível que estejam a ser protegidos ou que estejam em fuga. Ninguém
ganha nada em tentar acelerar o processo.
O atraso pode ser racismo na mesma? Poder pode… Se de
facto alguém na Judiciária de Bragança pensou “que se lixe, foi só um preto que
morreu”, então é evidente que se trata de racismo. Eu já critiquei muitas vezes
a polícia, tanto em público como em privado, mas apesar de estar longe de
Bragança não acredito por um segundo que seja esse o caso e que os homicidas e
agressores do Giovani estejam ainda em liberdade por existir racismo entre as
autoridades locais, o que não é o mesmo que dizer que não existem polícias
racistas, em Bragança ou noutro lado qualquer.
Por outro lado, temos ouvido muitas pessoas dizer que
afinal não é possível ter-se tratado de racismo porque os alegados agressores eram
ciganos. Porquê? Os ciganos não podem ter agido com motivações racistas? Lá
porque são uma minoria, muitas vezes vítimas de discriminação, são magicamente
isentos de ter pensamentos e acções discriminatórias também? Que estupidez.
Mais uma vez, porém, só vamos saber ao certo quando a
investigação acabar. E que tal deixarmos a investigação acabar antes de começar
a acusar tudo e todos e de tentar ganhar pontos? E que tal respeitar e honrar a
memória do Giovani, em vez de o transformar num símbolo que só serve os nossos
interesses?
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