Randall Smith |
Tenho um amigo que acha que a maioria dos alunos contemporâneos estão de tal forma
afastado da natureza que teriam de ser reintroduzidos a ela antes de se poder
pensar sequer em ensinar-lhes sobre o direito natural e as virtudes.
A
Wyoming Catholic College resolve este problema obrigando os alunos a montar a
cavalo. Montar não é uma capacidade virtual em que nos possamos desenrascar. Os
cavalos têm uma mente própria e para os conseguir montar é preciso ter a
capacidade e a sensibilidade para as disposições do cavalo naquele dia. Montar um
cavalo não é como brincar com números numa folha de cálculo e por isso é
exatamente o género de coisa que os alunos deviam aprender a fazer.
Agora,
talvez nem toda a gente possa ou deva aprender a montar a cavalo, nem que seja
para poupar os cavalos à tortura de serem sujeitos a cavaleiros incompetentes.
Os cavalos precisam de muitos cuidados e de espaço para poderem andar, e nem
todas as universidades têm esses recursos. Mas podemos ensinar outras
competências que requerem ingenuidade e atenção à realidade do mundo, e não
apenas às vontades e aos desejos?
Tenho
uma proposta radical. Todos os alunos deviam aprender um ofício com um mestre.
Podia ser na área da canalização, electricidade, construção, agricultura,
mecânica, carpintaria, mobília, ou outros. O objectivo principal seria ensinar
os alunos uma prática que requer disciplina e excelência e onde os resultados
são concretos e evidentes.
Se
não ligar correctamente os cabos eléctricos, a luz não acende. Se não colocar
correctamente os tijolos, o muro cai. Se a canalização não for bem feita,
aparecem fugas. Não há muito espaço para “individualismo criativo” e “voluntariedade
autocentrada” quando se está a aprender tais ofícios. Se não o fizermos bem, a
coisa não funciona.
E
torna-se claro para toda a gente porque é que o mestre é “mestre” e porque o
novato não é. Isto, como eu disse, seria o objectivo principal. Aprender um
ofício para compreender que existem padrões de exigência e para poder depois
aplicar isso ao desenvolvimento das virtudes.
Claro
que a proposta é absurda, uma daquelas fantasias que os professores
universitários inventam nos seus tempos livres.
Mas
será assim tão absurdo? Não é propriamente uma coisa impossível de se fazer. Contratamos
electricistas e canalizadores nas universidades a toda a hora. Será mais complicado
contratar um mestre electricista que possa ensinar do que um académico de
história que possa ensinar?
E
pensem no que poderíamos dizer aos pais. Vamos treinar o seu filho segundo as
melhores tradições das artes liberais. Mas está preocupado que não consigam
arranjar um emprego para se sustentarem? (E sim, muitos temem isso mesmo), pois
bem, mesmo que tudo o resto falhe, terá sempre uma forma de ganhar dinheiro
como canalizador, electricista, mecânico ou alfaiate. Terá sempre um plano B.
Wyoming Catholic College |
E,
já que estamos nessa, todos sabemos que um bom canalizador ou electricista
ganha mais do que a maioria dos miúdos que metemos a fazer trabalhos de seca
num escritório. E se decidirem prosseguir os estudos podem sempre exercer esse
ofício em part-time, de forma a conseguir pagar as contas.
Poderão
esquecer-se do que aprenderam sobre história ou sobre química orgânica, e os
conhecimentos sobre Shakespeare e Freud hão de mudar ao longo dos anos, mas
tudo indica que, tal como andar de bicicleta, jamais se esqueçam de como ligar
os cabos de um interruptor ou como construir uma cadeira. A tecnologia
disponível pode mudar, mas com um bocadinho de tempo e formação hão de
conseguir voltar aos eixos.
Como
vêem, é uma proposta prática com potencial para aumentar as candidaturas ao
ensino superior. Então porque é que não deve gerar grande interesse? Porque
requer uma mudança de paradigma na forma como entendemos o ensino
universitário. De acordo com a nossa forma de pensar, desenvolvida ao longo dos
últimos oitenta e tal anos, as universidades são para trabalhadores
administrativos. Os canalizadores não vão para a universidade – pelo menos não
para aprender canalização – porque são operários.
Quero
que fique bem claro que hoje, como sempre, de uma perspetiva cristã isto é uma valente treta. Os gregos antigos podem ter olhado com desdém para o trabalho
manual, mas os cristãos não o podem fazer. Cristo trabalhou como carpinteiro
durante a maior parte da sua vida. Todos os beneditinos, franciscanos e dominicanos
que fundaram a educação cristã e as primeiras universidades trabalhavam,
não eram aristocratas de Oxbridge.
Para
além disso, os canalizadores têm tanto direito a uma educação nas artes
liberais como qualquer outro. Algumas das melhores conversas que já tive sobre
fé e filosofia foram com canalizadores, electricistas e muitos outros que
passaram pela minha casa para arranjar coisas. São pessoas interessantes.
Tentem discutir o problema do mal com uma mulher polícia que já foi baleada por
traficantes. Tem uma perspectiva que falta à maior parte dos licenciados.
E
para ser sincero, a maioria dos trabalhos de escritório requerem tanto uma educação
universitária como a canalização. Eu rejeito a ideia de que um trabalhador não
consiga subir na vida se não tiver acabado o curso. Quem é que fez das
universidades os porteiros do sucesso empresarial? Não é essa a nossa função
nem o nosso objectivo. É, isso sim, o que dizemos às pessoas, para nos
mantermos em funções, mas mais tarde ou mais cedo o mundo vai perceber.
Não
é preciso uma educação universitária para conseguir um emprego ou avançar para
o próximo grau de liderança numa empresa. Devia querer uma educação nas artes
liberais porque ela expande a mente e a alma. Se o ajudar a ganhar dinheiro
também, então força!
Só
não se esqueça de doar um bocadinho desse dinheiros aos seus pobres e
esforçados professores, na universidade onde tirou o curso, está bem?
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de
St. Thomas, Houston.
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