Pe. Paul Scalia |
“Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons
aos homens.”
Hoje acompanhamos Nosso Senhor até ao monte para a sua
Ascensão. Talvez não saibamos o que dizer. Ele tentou preparar-nos para este
momento. Disse-nos que devemos ficar felizes por Ele, porque regressa para o
Pai (Jo. 14,28). E na verdade esta festa é caracterizada pela alegria simples
do regresso do Filho para junto do Pai. Mais uma vez Ele nos instrui que
regozijemos porque, ao regressar para o Pai, enviará sobre nós o Espírito
Santo. Se Ele não for, o Espírito não virá. Por isso é melhor para nós que Ele
vá. (Jo. 16,7)
Todavia, tal como os discípulos, não conseguimos
compreender tudo o que Ele nos diz. Mateus diz-nos que os discípulos foram com
ele até ao monte da Ascensão: “Quando o viram adoraram, mas alguns duvidaram”
(Mt. 28,17). Lucas diz-nos que as suas mentes continuavam centradas em coisas
terrenas, preocupados com a restauração do reino de Israel. (Actos 1,6)
Então como é que abordamos este mistério? Qual deve ser a
nossa disposição e quais as nossas palavras? Há duas histórias do Antigo
Testamento que podem ilustrar e guiar-nos neste mistério da Ascensão.
Em primeiro lugar temos o episódio de Jacob e do anjo
(Gen, 32, 25-32). O livro do Genesis diz simplesmente que, nesse evento, “e
lutou com ele um homem, até que a alva subiu”. Quem, ou o que, é que tenha sido
essa figura, Jacob compreendia que vinha do Céu e que lhe podia dar uma bênção.
Por isso não o largou e exigiu: “Não te deixarei ir, se não me abençoares”.
Dessa forma Jacob recebeu uma bênção divina e tornou-se Israel, o Patriarca de
uma nova nação.
Tal como Jacob depois desse encontro, qualquer analogia é
coxa. Não nos podemos agarrar a Nosso Senhor como Jacob agarrou o anjo. Jesus
não criticou Maria Madalena precisamente por isso? (Jo. 20,17). Mas se não nos
podemos agarrar literalmente ao Senhor para o deter, não devemos deixar de
imitar a insistência de Jacob. Ele tinha uma tenacidade e uma confiança que se
adequam bem à festa da Ascensão. Revela a confiança de que aquele que vai para
o Céu pode dar dons aos que estão cá em baixo. “Subindo ao alto… Deus dons aos
homens” (Ef. 4,8)
Jacob luta com o anjo |
Devido à sua insistência, Jacob recebeu um novo nome, uma
nova vida e um novo propósito. De igual modo, as nossas últimas palavras para
Jesus não deviam ser perguntas sobre um qualquer reino terreno nem nada que
seja deste mundo. Antes, devemos pedir-lhe uma bênção – que aquele que Ascende
nos dê uma nova vida e propósito através do dom do Espírito Santo.
Numa segunda história do Antigo Testamento temos os
profetas Elias e Eliseu (2 Reis 2: 1-14). Quando o seu mentor e mestre é
elevado ao Céu, Eliseu segue Elias desde Betel ao Jordão, em Jericó. Ambos
parecem saber que Elias está prestes a partir. A multidão pergunta a Eliseu:
“Sabes que o Senhor hoje tomará o teu senhor por sobre a tua cabeça?”. Ele
responde, de forma abrupta, “Também eu bem o sei. Calai-vos”. Depois, quando chega
a hora de Elias ser arrebatado aos Céus, Eliseu suplica: “Peço-te que haja
porção dobrada de teu espírito sobre mim”.
Porquê uma porção dobrada? Uma porção não seria mais que
suficiente? É um pedido curioso e muito se tem escrito sobre ele. Mas para o
que hoje nos interessa bastará focarmo-nos no atrevimento do pedido. Eliseu não
se limita a pedir, não pede sequer o mesmo, não pede apenas um pouco! Ele pede
uma porção dobrada daquele mesmo Espírito que fez de Elias tão grande
testemunha da aliança.
Este atrevimento deve ser também o nosso quando
acompanhamos o Senhor até à sua Ascensão: Dai-me uma porção dobrada do vosso
espírito. Para quê fazer cerimónia a pedir aquilo que Ele já deseja oferecer –
e oferecer em abundância – e que ascende precisamente para poder conceder? Este
é o atrevimento que devia caracterizar os próximos nove dias, enquanto rezamos
pelo dom do Espírito prometido. Esse atrevimento alarga o nosso coração para
receber aquilo que Ele já tenciona conceder.
Agora ele ascendeu para poder dar-nos dons. Ordenou que
esperemos pelo poder que vem do Céu. Agora, enquanto nos preparamos para o
Pentecostes e para receber o dom do Espírito Santo, rezemos com a insistência
de Jacob e com o atrevimento de Elias. Vinde, Espírito Santo.
O Pe. Paul Scalia (filho do falecido juiz Antonin Scalia,
do Supremo Tribunal americano) é sacerdote na diocese de Arlington e é o
delegado do bispo para o clero.
(Publicado pela primeira vez na terça-feira, 5 de Maio de
2016 em The Catholic Thing)
© 2016
The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de
reprodução contacte:info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica
inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus
autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o
consentimento de The Catholic Thing.
No comments:
Post a Comment