Yellow? Is it me you're looking for? |
2) Os meus filhos andam num colégio privado, sem contrato
de associação, pela simples razão de que a minha mulher trabalha na instituição
e por isso é-nos simultaneamente mais prático e ao mesmo tempo economicamente
viável por causa do desconto de que beneficiamos.
Dito isto, quero deixar claro que sou simultaneamente um
ignorante em matéria de política educativa e também o maior especialista do
país em política educativa. Não percebo nada da legislação nem dos programas
escolares, ignoro as guerras dos professores e da Fenprof bem como o que se
passa no Ministério. Mas enquanto pai de quatro alunos, com um quinto a
caminho, sou o maior especialista que existe sobre aquilo que quero da sua
educação e aquilo que espero para eles na escola.
Com estes preliminares esclarecidos, vamos á questão do
momento… Os contratos de associação.
Pelas redes sociais e também pelas caixas de comentários
das notícias da Renascença, que por vezes preciso de moderar, vejo que reina
uma ideia muito simplista sobre esta disputa.
A ideia que se espalhou é que o Governo anda a sugar o
tutano das escolas públicas para ajudar os donos dos privados a construir
piscinas olímpicas para meninos ricos. Mas não… Na verdade o que está em causa,
tanto quanto consigo perceber, é o entendimento que privados e Ministério fazem
de um contrato assinado há um ano sobre o financiamento de turmas. É uma
disputa jurídica e que provavelmente será decidida em tribunal.
Pelo meio há várias coisas que me parecem evidentes:
1) Que
os mais directamente afectados pelo corte do financiamento nos colégios serão
os alunos com menos recursos.
2) Que
provavelmente existem mesmo casos de abusos, tendo sido assinados contratos de
associação com colégios que não deveriam ter direito a isso.
3) Que
isto não pode ser uma simples guerra esquerda-direita, porque se fosse os
autarcas do PS não estariam do lado dos colégios dos seus concelhos.
4) Que
em muitos casos os colégios que estão a ser ameaçados, longe de serem ninhos
para as classes privilegiadas são espaços onde se aceitam os alunos mais
difíceis, ou com necessidades especiais, e com jovens de todos os extractos
sociais, onde o ensino é excelente.
5) Que
me cheira muito a esturro o facto de o Governo (os sucessivos governos) se
recusarem a dizer exactamente quanto dinheiro custa ao Estado um aluno no
público, já que sabemos já quanto custa nos colégios privados.
Mas claro que esta questão jurídica dos contratos de
associação entronca numa disputa muito maior e é essa que me parece grave. Que
visão é que temos do ensino em Portugal?
Nem isto... |
Quer isto dizer que sou contra o ensino público? Claro
que não! O ensino público e tendencialmente gratuito tem sido uma enorme
benesse social. O que contesto é a monopolização do ensino por parte do Estado
e a ideia de que devemos confiar cegamente não só neste Governo mas em todos os
Governos, para toda a eternidade, como se fosse impossível voltar a ver um
Estado totalitário e mau, no sentido mais puro da palavra.
Contra esta posição está a minha (que não me parece
especialmente de esquerda ou de direita) que considera que o primeiro e último
responsável pela educação dos meus filhos sou eu e a minha mulher. E que o
Estado faz muito bem em querer educar as crianças do país, mas deve fazê-lo
sempre em conjunto com os pais, e nunca contra eles.
É por isso que a Igreja, para espanto de muitos, está
nesta luta. Porque esta é a visão da doutrina social da Igreja sobre a
educação, como o Papa deixou muito claro na sua última exortação apostólica. Não
se trata apenas de defender privilégios (até porque a maioria das escolas com
contrato de associação não são católicas e a maioria das escolas católicas não
tem contrato de associação), trata-se de combater aquilo que na sua perspectiva
– e na minha – está na verdade por detrás desta tomada de posição do Governo,
um ataque à subsidiariedade na educação.
Dito isto, o que acho em particular desta batalha dos
contratos de associação? Acho, acima de tudo, que esta é a batalha errada…
Compreendo a luta dos colégios, estão em muitos casos a
lutar pela sua sobrevivência, mas para mim isto resolvia-se de forma mais justa
com a implementação simples do cheque escolar.
...nem aquilo. |
A ideia é simples. Eu pago (números inventados,
obviamente) 400 euros por ano de impostos para a educação. Cada aluno custa ao
Estado, no ensino público, 300 euros por ano. O Estado dá a cada família um
cheque ensino por filho, no valor de 200 euros por ano. Se eu quiser inscrever
os meus filhos num colégio, o cheque ensino serve para abater no custo das propinas.
Se quiser mantê-los no ensino público, o cheque fica na gaveta, uma vez que
unicamente pode ser usado para ensino. Mesmo que use o cheque, continuo a
contribuir para o sistema público, e bem.
Se eu quiser colocar os meus filhos num colégio católico,
posso. Se os quiser mandar para o colégio islâmico de Palmela, posso. Se os
quiser meter na Escola Karl Marx Lenin, força! Desde que aprendam um conjunto
de matéria básica essencial e moralmente neutra, o resto é comigo e com os pais
de cada criança.
Não me parece complicado… Estarei enganado? Aceito de bom
grado sugestões e correcções.
A forma como a nossa oposição ignora esta questão estrutural e transversal à nossa sociedade diz muito acerca do estado de pobreza política do pais. A sensação que paira é a de existir um amplo consenso do bloco central com as propostas do bloco de uma das extremas. A forma como parte dos professores que lecciona em escolas públicas logrou eclipsar a tentativa de controlo de qualidade da sua actividade é elucidativa. Liberdade de escolha? Sim, mas apenas nas questões fractura:abortos, drogas, eutanasias, prostitutas,
ReplyDeleteÉ, sem dúvida alguma, a batalha errada.
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