Transcrição integral da entrevista feita ao Cónego Carlos
Paes a propósito da “Lineamenta” do sínodo da Família. Notícia aqui.
Qual é o sentido
destas perguntas que a Santa Sé envia para as conferências episcopais?
Penso que isso traduz a vontade deste Papa Francisco de
estabelecer um modelo da Igreja em regime mais colegial e até mais sinodal. Ele
quer juntar o colégio dos bispos às suas decisões que dizem respeito às pessoas
em geral. O sínodo serve para dar voz e vez a todos os que responsavelmente
fazem parte deste corpo eclesial que tem Cristo como cabeça. São ideias velhas
na Igreja, mas que este Papa quer activar ainda mais.
O que é, exactamente,
o movimento das Equipas de Santa Isabel?
Existem Equipas de Nossa Senhora, criadas pelo padre
Caffarel, para casais normais. São equipas de espiritualidade conjugal que
depois estendem o seu percurso à família inteira e os grupos acabam por ser
familiares e não apenas de casais. O sucesso dessas equipas fez com que outros
casais, que não estão em condições para as integrar, porque são recasados ou
apenas divorciados, aspirassem a ter uma coisa do género.
O Papa João Paulo II, na “Familiaris Consortio”, disse que a
Igreja não devia esquecer esses casos especiais, porque o seu sentimento íntimo
é pensarem que estão excomungados, ou que estão castigados, uma vez que foram
privados da recepção de alguns sacramentos. De qualquer forma o Papa sugeriu
que se desse atenção pastoral. Foi nessa linha que nasceram as Equipas de Santa
Isabel, criada por mim e por um casal das Equipas de Nossa Senhora, que pilotou
uma equipa de divorciados e recasados.
Assim como Nossa Senhora é prima de Santa Isabel, também as
Equipas de Santa Isabel são primas do movimento das ENS.
As Equipas de Santa Isabel juntam casais que agora estão a
viver uma outra aliança, a anterior foi desfeita, não se vê que se possa voltar
a ela, as pessoas seguiram caminhos diferentes, há outras famílias, mas as
famílias que agora existem, sobretudo os filhos que resultaram delas têm o
direito a sentir-se apoiados e integrados de pleno direito na comunidade
cristã. É isso que procuro fazer, fazendo-lhes perceber que embora estejam
privados da absolvição sacramental e da comunhão eucarística, isso não
significa que estejam fora de um processo de reconciliação ou de outras formas
de comunhão. É isso que procuro valorizar, dentro das balizas que a Igreja
define.
Muitos casais que se
encontram nessa situação esperam um dia poder ter acesso aos sacramentos. Na
sua opinião, isso é algo que pode mudar no próximo sínodo?
Eventualmente. A Igreja não irá proporcionar soluções em
saldo ou de tudo ou nada. É uma ponderação que deve ser feita, equivalente à
que os nossos irmãos ortodoxos fazem, permitindo uma segunda aliança depois do
fracasso do primeiro matrimónio, mas dentro de balizas que significa da parte
do casal em causa um sentimento por um lado penitenciar o que não conseguiram
fazer no primeiro casamento, mas que querem fazer agora com todo o empenho,
salvaguardando os deveres da justiça e da caridade para com a história que foi
passada. Não se pode eliminar de qualquer forma uma aliança que existiu, que
teve alguma duração, que produziu frutos, os mais bonitos dos quais são os
filhos, mas não só. Tudo isso deve ser ponderado e não fazer uma solução em
saldo sem ter em conta o bem maior e um caminho de santidade para essas pessoas.
Às vezes pergunto-me: Quem está a viver um segundo casamento,
efectivamente, está privado de um caminho de santidade? Não pode vir a ser
santo? Se a resposta é que pode, como acho que é, então temos de criar
condições para que isso possa acontecer no quadro de uma integração eclesial e
de uma participação efectiva, mas isso tem de ser feito com ponderação e sem
simplesmente procurar soluções apressadas só para não ficar atrás dos outros.
Às vezes até, revendo a história dessa primeira união que
existiu, chega-se à conclusão que não foi um verdadeiro sacramento, por isso pode-se
fazer uma declaração de nulidade da primeira união, resolvendo-se o problema na
raiz.
Obrigada por este esclarecimento tão claro. tão justo e em que nada afecta a minha Fé
ReplyDelete"Muitos casais que se encontram nessa situação esperam um dia poder ter acesso aos sacramentos. Na sua opinião, isso é algo que pode mudar no próximo sínodo?
ReplyDeleteEventualmente."
Ahhh!!!?????