Transcrição integral da entrevista feita ao Padre Carlos
Delgado a propósito da “Lineamenta” do sínodo da Família. Notícia aqui.
Qual é o sentido
destas perguntas que a Santa Sé envia para as conferências episcopais?
O sentido é o documento preparatório que sempre se faz para
todos os sínodos e que de maneira prioritária é enviada aos bispos, mas o Papa
quis que esta consulta fosse mais verdadeira e activa, que não ficasse apenas
nos bispos e nos peritos convidados pelos bispos, mas que chegasse às próprias
paróquias, às que vivem o concreto, neste caso, da problemática familiar, no
contexto da transmissão da fé e da nova evangelização.
Portanto não há nada de extraordinário, há este vincar e
esta tonalidade tão típica do Papa Francisco de chegar às pessoas concretas e
às que vivem o dia-a-dia desta problemática familiar. É fundamentalmente essa a
questão, ele quer respostas que sejam bem vividas e sentidas pelo povo cristão
espalhado pelo mundo e pelas pessoas que estão nas paróquias.
Muitos têm
interpretado este questionário como sendo um sinal de mudanças na doutrina… que
tem a dizer sobre isso?
É possível que venham algumas respostas que sejam orientativas,
mas de qualquer maneira não podemos esquecer que há uma doutrina comum na Igreja
e é por essa dimensão comunitária da fé que nos temos que regular. Não apenas
por uma questão de unidade e de sintonia, mas por uma questão de fidelidade à
mensagem que Deus deixou à sua Igreja e de que somos portadores.
Creio que não é por acaso que o Papa tenha convidado para
secretário do Sínodo o teólogo Bruno Forte. Creio que é uma questão de ver até
que ponto estas questões, que causam interpelações aos cristãos nos dias de
hoje, interpelam a fé, e que resposta a fé da Igreja lhes pode dar. Creio que é
essa busca que o Papa Francisco quer, são questões que se vivem à nossa volta,
por isso é necessário ver até que ponto isso implica a vivência cristã.
De facto as perguntas
não falam quase de doutrina, mas sim de pastoral. Qual é a diferença na
prática?
A questão doutrinal tem a ver com a mensagem traduzida numa
linguagem universal, a pastoral são as questões concretas do dia-a-dia, aquilo
que no fundo dificulta ou facilita a vivência cristã num determinado contexto.
O Papa não vai perguntar as questões doutrinais aos cristãos e fiéis leigos do
mundo inteiro, vai-lhes pedir as interpelações à sua vivência de fé. É mais
esta questão experiencial que está em causa. É isto que tem de ser questionado
e que as pessoas têm de apresentar. Dizer “onde é que lhes dói”, para usar um
termo clínico. É isso que o Papa quer saber e que depois porá nas mãos de alguns
bispos para tentar dar respostas e dar unidade de orientação pastoral prática
da vida cristã.
Se a questão dos casais divorciados e recasados causa dor e
sofrimento a muitos cristãos, como é que isso pode ser superado, como pode ser
vivido por um cristão? Que ajuda é que a Igreja pode dar a homens e mulheres
nessa situação? É essa a pergunta que
tem de ser feita, por isso o melhor é perguntar a quem está nessas realidades e
a partir daí encontrar um caminho mais uniforme da Igreja universal.
É possível mudar a
prática pastoral, sem mudar a doutrina?
A doutrina é um conteúdo único, um conteúdo que nos é
transmitido por Deus e que o Espírito Santo nos ajuda a concretizar. Há formas
diferentes de a concretizar consoante as épocas, mas a mensagem é sempre a
mesma, é a salvação e a santificação da pessoa humana. E há muitos caminhos e
todos são chamados a essa santificação. Agora, como é que se faz? Que meios se
lhes dão? Que apoios é que a Igreja dá? É isso que o Papa procura, como dar a
mão e ajudar a caminhar na santificação os homossexuais, os divorciados
recasados, etc. Por isso importa questionar seriamente quem vive nesta
situação. É isso que importa que seja transmitido para depois encontrar as
propostas concretas que virão do sínodo.
Enquanto sacerdote
muito envolvido com a questão das famílias, qual é a sua principal preocupação
que gostaria de ver discutida no Sínodo?
A questão que me interpela mais, que me tem chegado mais na
prática pastoral, é de facto a dos cristãos divorciados e recasados. Não só a
vivência pessoal da fé dessas pessoas, mas a transmissão da fé e a continuidade
da vida cristã dos filhos e descendentes.
Depois, toda a questão da vivência comunitária da fé, o
acolhimento que nas comunidades se pode fazer. Esta tem sido para mim a maior
interpelação e aquela em que tenho mais dificuldade de fazer entender a posição
da Igreja.
Gostei muito desta explicação que me ajudou a entender o que o Papa pretende para saber contestar todas os "sensacionalismos" com que nos bombardeiam com o intuito de nos confundir
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