Randall Smith |
Também gosto de São Pedro, em grande parte porque me parece
tão deliciosamente despistado. Quando o Cristo Ressuscitado aparece a Pedro e
aos apóstolos na margem, enquanto pescam, Pedro fica tão entusiasmado que veste
a túnica e atira-se à água para nadar até terra. Esperaríamos que ele tirasse a
túnica antes de mergulhar, mas não. E, claro, vemo-lo muitas vezes a dizer as
coisas erradas (levando ao famoso “Vá de retro, Satanás”); no momento crítico
chega mesmo a negar conhecer Cristo. E porém, é ele a Rocha sobre a qual Cristo
construiu a sua Igreja. Esse tipo de “despistanço” dá-me esperança.
Eu nunca poderia ser eleito para um cargo público, porque
qualquer dos meus alunos poderia dar à imprensa uma mão cheia de coisas que
disse nas aulas e que me afundariam no mesmo instante. Cedo decidi que me
queria divertir nas aulas, mesmo que fosse o único a fazê-lo. Obrigo os meus
alunos a pensar mais a fundo, fazendo comentários contraditórios ou perguntas
penetrantes – tudo coisas que, se citadas fora de contexto, certamente poderiam
ser entendidas da maneira errada. É por isso que gosto tanto de pessoas como o
Papa Francisco e São Pedro, enquanto outros os acham preocupantes. Gosto das
suas personalidades.
Mas esta minha preferência deve ser injusta para com outras
personalidades de que Deus faz uso com igual eficácia. O Apóstolo Tomé, por
exemplo, sempre me pareceu um chato. Imaginem dizer aos vossos amigos mais
próximos – junto de quem nos esforçámos e com quem sofremos – que não
acreditaremos neles enquanto não virmos com os nossos próprios olhos. Parvo.
E Tiago e João: A lata! “Queremo-nos sentar um à direita e
outro à esquerda quando entrares no teu reino!” Eu odeio manteigueiros e
alpinistas sociais. Mas lá está, Deus faz uso de tudo. Temos isso a aprender
com os apóstolos, mesmo que não aprendamos mais nada. Alguns são graves e
taciturnos, outros loquazes e apaixonantes. Daí que tenhamos um São Pedro e um
São Paulo. Um pescador e um académico, tal como nos nossos dias tivemos um Papa
Francisco e um Papa Bento XVI. Seja como for, a nossa fé não está ancorada nos
seres humanos que Deus escolheu. Esses são os vasos de barro. A nossa fé
está na promessa que Cristo fez de estar com a Sua Igreja até ao fim dos tempos,
e de mandar o Seu Espírito Santo para a proteger.
E porém, apesar de gostar muito do Papa Francisco, também
dou por mim preocupado. Não por causa das coisas que diz, ou por causa das
conferências de imprensa que se calhar não devia dar. Como já admiti, isso são
as coisas dele de que eu tanto gosto. E não me preocupa muito que as suas
palavras sejam mal interpretadas. Quando é que a imprensa interpretou bem as
palavras de um Papa? E quem é o idiota que confia no New York Times para ter
acesso a informação rigorosa e honesta sobre a Igreja?
Jesus afastado das multidões |
Francisco parece-me ser um homem que, acima de tudo, quer
“pregar a Cristo”, que quer apontar além de si, para o Pai, tal como Cristo
fez. Quando questionado pelo jovem rico sobre o que fazer para ter a vida
eterna, Jesus respondeu: “Porque me perguntas a mim? Só um é bom, o Pai que
está no céu”. Na verdade, Cristo tentou, de todas as formas imagináveis, evitar
que surgisse à volta dele um “culto de personalidade”.
Frequentemente Ele deixava as multidões frustradas enquanto
ia para o deserto sozinho. E depois temos as admoestações que Jesus dá aos que beneficiaram
dos seus milagres, para não contarem nada a ninguém. Um dos piores momentos de
Jesus no Evangelho de São João é depois do milagre da multiplicação dos pães e
dos peixes, quando as multidões começam a aclamá-lo “rei”. Foge o mais
rapidamente possível. Aliás, a viagem para o Calvário começa depois disso.
O Papa Francisco não é propriamente um especialista em lidar
com os media. O problema com um homem verdadeiramente humilde que não se
preocupa com a comunicação social é que pode não se dar conta de como a sua
personalidade e o seu estilo começaram a dominar a mensagem. Ele tem-se tornado
“a história”. Houve uma situação parecida com o Papa João Paulo II, logo no
início. Mas depois ele escreveu “Redemptor Homini” e “Familiaris Consortio”, e
defendeu o “Humanae Vitae” com a “Teologia do Corpo” e aí as coisas começaram a
mudar.
O Papa Francisco tem conseguido evitar que a cúria o coloque
num trono de ouro. Também não quero que os media o coloquem noutro. Esse tipo
de “trono” não passa de uma prisão.
A multidão proclamou Cristo “rei” quando pensavam que o
conseguiam controlar – quando achavam que Ele lhes daria pão e vitórias
políticas sobre os seus inimigos. Quando perceberam que o Reino que ele trazia
envolvia mais do que apenas apoiar ao longe, crucificaram-no.
Randall Smith é professor de teologia na Universidade de St.
Thomas, Houston.
©
2013 The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os
direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
Cristo falou com “Zaqueus” e prostitutas (a quem não devia falar?), e disse o que ninguém esperava, tal como «o sábado é secundário». Não há perigo de o homem se tornar mensagem quando grita «basta de Francisco!».
ReplyDeleteEduardo F. Torcato David