George J. Marlin |
Pouco depois da invasão da Polónia, em 1939, Hitler
autorizou os médicos alemães a empregar medidas de suicídio assistido
involuntário. Foram abertos seis centros de eutanásia, designados, eufemisticamente,
Fundações Caridosas para Cuidados Institucionais. Como o nome indica, a matança
foi racionalizada como sendo um acto de compaixão.
Os julgamentos de Nuremberga revelaram que este programa
inicial, limitado à Alemanha, tinha sido responsável pela morte de 70 mil
adultos e cinco mil crianças, apesar de outras estimativas apontarem para os
400 mil. O programa foi encerrado em 1941 por ordem do Führer, porque estava a
despertar oposição no país.
O bispo católico de Múnster, August von Galen, causou grande
impacto público quando denunciou as políticas de eutanásia a partir do púlpito,
em 1941:
Se estabelecermos e
aplicarmos o princípio de que se pode “matar” seres humanos improdutivos, então
ai de nós quando formos velhos e frágeis! Se podemos matar os improdutivos,
então ai dos inválidos que esgotaram, sacrificaram e perderam a sua força e a
sua saúde no processo produtivo... Pobres, doentes, improdutivos, e daí? Acaso
eles perderam o direito à vida? Vocês e eu temos o direito a viver apenas
enquanto formos produtivos?... Ninguém estaria a salvo. Quem poderia confiar no
seu médico? O comportamento depravado e a suspeição que entrariam na vida
familiar caso esta doutrina terrível seja tolerada, adoptada e praticada são
inconcebíveis.
Houve protestos públicos – uma raridade na Alemanha nazi.
A resposta dos nazis foi de transferir os programas para os
países conquistados, a leste, onde acabaram por se transformar na Solução
Final. O suicídio assistido involuntário tornou-se a “solução médica” para
eliminar não só os doentes, mas também os judeus, ciganos e eslavos, que eram
considerados raças “doentes”.
Depois da Segunda Guerra Mundial o movimento para o suicídio
assistido voltou à clandestinidade. Mas nos anos 60 e 70 estava a regressar,
levando o comentador britânico Malcolm Muggeridge a dizer: “Podem submeter isto
ao livro dos recordes do Guinness: leva apenas trinta anos para a nossa
sociedade humanista transformar um crime de guerra num acto de compaixão.”
Eis que a Euthanasia Education Council mudou de nome para
Concern for Dying, Inc.; e a Euthanasia Society of America se transformou na
Society for the Right to Die, Inc. Apareceram outras organizações, como a
Choice in Dying.
Não deixa de ser preocupante que as mesmas nações que fazem
fronteira com a Alemanha e que testemunharam as políticas grotescas de Hitler –
A Bélgica, Holanda e o Luxemburgo – tenham legalizado a eutanásia,
consagrando-a como direito humano fundamental.
Desde a década de 70 que os tribunais holandeses têm estado
a aumentar a quantidade de candidatos à eutanásia. No início dos anos 90 o
poder judicial já permitia o suicídio assistido para doentes psiquiátricos que
estavam fisicamente sãos. Num caso um psiquiatra foi ilibado de ajudar um
doente mental a suicidar-se porque o tribunal concluiu que o doente, embora
mentalmente doente, era competente e livre de decidir que queria morrer. O
tribunal considerou que seria discriminatório permitir o suicídio assistido
apenas para pessoas que sofriam de forma física. A dor psicológica ou mesmo a
infelicidade não podem ser excluídas como razões válidas para o suicídio.
Os tribunais holandeses decidiram que quando a consciência
de um médico está em conflito com a lei, ele está autorizado a receitar a
eutanásia para aliviar o sofrimento. É apresentado como um exemplo de força
maior, uma série de eventos imprevistos que anulam as necessidades legais
normais.
Propaganda nazi pela eutanásia. "Negro deficiente mental (inglês). 16 anos a cargo do Estado a um custo de 35 mil marcos" |
Num
artigo do “Wall Street Journal”, publicado no dia 14 de Junho de 2013,
Naftali Bendavid informa que os casos de eutanásia na Bélgica, onde o
procedimento foi legalizado em 2002, aumentaram de 200 em 2002 para 1133 em
2011.
Actualmente, segundo Bendavid, “A lei belga reserva a
eutanásia para doentes com sofrimento insuportável e condições incuráveis. Mas
o sofrimento não precisa de ser físico nem a doença terminal. A lei também não
requer que o doente informe a sua família da decisão.”
Para piorar a situação, é esperado que o Parlamento belga
aprove uma lei que permita a eutanásia para menores desde que “um psiquiatra
determine que a criança tem capacidade de discernimento” e “desde que os seus
pais concordem”.
O Conselho para os Direitos dos Doentes comentou, acerca
disto: “Se pôr fim ao sofrimento é uma boa prática médica, porque não há-de o ser
para quem tem três anos, cinco ou oito?”
Em resposta, o Arcebispo de Bruxelas, André-Joseph Léonard,
disse: “Os menores são considerados incapazes para certos actos, como comprar e
vender, casar, e por aí fora. E agora, de repente, são suficientemente maturos
aos olhos da lei para poderem pedir a alguém que lhes tire a vida?”
A Bélgica e a Holanda já chegaram ao fundo de um poço. Estão
a matar, voluntariamente, os nascituros, os doentes, os novos e os velhos –
tudo em nome da compaixão.
João Paulo II já nos avisava para isto na sua encíclica de
1995, “O Evangelho da Vida”:
Mesmo quando não é
motivada pela recusa egoísta de cuidar da vida de quem sofre, a eutanásia deve
designar-se uma falsa compaixão, antes uma preocupante “perversão” da mesma: a
verdadeira “compaixão”, de facto, torna solidário com a dor alheia, não suprime
aquele de quem não se pode suportar o sofrimento. E mais perverso ainda se
manifesta o gesto da eutanásia, quando é realizado por aqueles que — como os
parentes — deveriam assistir com paciência e amor o seu familiar, ou por
quantos — como os médicos —, pela sua específica profissão, deveriam tratar o
doente, inclusive nas condições terminais mais penosas.
Se deixarmos de cultivar um sentido da sacralidade da vida
humana até ao seu fim natural – e neste momento a reforma do sistema de saúde
de Obama parece apontar nessa direcção – então não se admirem se os nossos
hospitais e lares se transformarem em matadouros “compassivos”.
(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 26 de Junho de
2013 em The
Catholic Thing)
George J.
Marlin é editor de “The Quotable
Fulton Sheen” e autor de “The American
Catholic Voter”. O seu mais recente livro chama-se “Narcissist
Nation: Reflections of a Blue-State Conservative”.
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Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de reprodução
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