Austin Ruse |
Mais um vez,
bispos cismáticos fizeram um ultimato à Igreja Católica. Reneguem os vossos
ensinamentos, ou nunca mais voltamos.
A recente
declaração dos três bispos restantes dos tradicionalistas da Sociedade
Sacedotal de São Pio X afasta ainda mais qualquer esperança de que a Igreja se
reconcilie com algum deles nos próximos tempos. Reparem que digo a Igreja
reconciliar-se com eles, e não eles reconciliarem-se com a Igreja, porque para
eles a reconciliação é toda de sentido único.
Numa declaração
emitida no 25º aniversário do seu cisma, os três bispos insistem que o problema
não tem nada a ver com a interpretação dos documentos do Concílio Vaticano II,
mas com os documentos em si. Consideram que estes são perfeitamente claros e
e perfeitamente heréticos.
Um dos trabalhos
mais importantes dos últimos dois pontificados foi precisamente o esforço de
determinar a interpretação correcta do Concílio, contra os mais loucos, e a
colocação dos documentos na perspectiva da tradição da Igreja. Bento XVI insistiu
que o Concílio devia ser lido através daquilo a que chamou uma “hermenêutica da
continuidade”.
A SSPX entende o
Concílio através de uma “hermenêutica da ruptura”. Eles dizem que o Concílio
marcou o início de um “novo tipo de Magistério, até então desconhecido na
Igreja, sem raizes na Tradição”. Aponta baterias, como fez sempre desde o
início da sua revolta em 1988, à “liberdade religiosa, ecumenismo,
colegialidade e a Nova Missa”.
A SSPX insiste
que a liberdade religiosa equivale a insistir que Deus renuncie ao Seu reino
sobre o homem e que isso equivale à “dissolução de Cristo”.
O Ecumenismo e o
diálogo inter-religioso levaram a um ponto em que “uma grande parte do clero e
dos fiéis já não vê em Nosso Senhor e na Igreja Católica o único caminho da
Salvação”.
A SSPX também
odeia aquilo a que chama a “Nova Missa”, que “diminui a afirmação do Reino de
Cristo através da Cruz. O próprio rito encurta e obscurece a natureza
sacrificial e propiciatória do Sacrifício Eucarístico”. A declaração da SSPX
diz que a missa destrói a “Espiritualidade Católica”.
Há alguma verdade
nas críticas à forma como as coisas evoluíram desde o fim do Vaticano II. O
Ecumenismo tem sido um fracasso excepto nas questões em que tem sido posto em
prática por católicos fiéis a trabalhar com Evangélicos em questões sociais.
E para mim não há
qualquer dúvida que a Missa Tridentina é mais
bonita que a nova em quase tudo. Também é verdade que muitos católicos
acreditam hoje que todos os caminhos levam a Deus, e que por isso a
evangelização não é mesmo necessária.
Mas nem todos
estes problemas são culpa do Concílio Vaticano II. Em vários aspectos, o Concílio
tornou a Igreja suficientemente resistente para poder sobreviver aos golpes
culturais que em larga medida já destruíram o Protestantismo mainstream.
Há mais de dois
anos escrevi neste site que as conversações entre a Sociedade e a Igreja nunca
chegariam a bom porto, por duas razões. Primeiro porque a Sociedade está a
exigir demasiado. Eles querem mais do que a aprovação universal da Missa
Tradicional. Eles querem que a Igreja renuncie aos ensinamentos de de um
Concílio Ecuménico. Mas como disse o Cardeal Ratzinger, no “Relatório Ratzinger”,
se rejeitarmos o Vaticano II, então também rejeitamos Trento, porque estamos a
rejeitar a autoridade de ambos, isto é, a os ensinamentos dos bispos de todo o
mundo, em Comunhão com o Papa.
A segunda razão
pela qual a SSPX provavelmente nunca vai voltar é mais complexa que a primeira.
É mais do que simples rejeição do ensinamentos católico. Há também o orgulho:
orgulho entrincheirado, orgulho que não aceitará a reconciliação, aconteça o
que acontecer.
Mesmo que a
Igreja renunciasse ao Concílio Vaticano II e impusesse a Missa Tridentina de
forma universal, é provavel que o núcleo duro dos SSPX nunca regressem. Agora
já se habituaram à sua própria autoridade e uma das coisas mais difíceis é a
verdadeira obediência.
O regresso é
improvável, mas não é impossível. Há poucas semanas um grupo previamente
cismático viu os seus seminaristas prostrados no chão de uma Igreja em Roma, a
serem ordenados ao sacerdócio por um arcebispo do Vaticano.
Os Filhos do
Santíssimo Redentor chegaram a ser aliados próximos do Arcebispo Marcel
Lefebvre, fundador da Sociedade de São Pio X. De facto, quando foram fundados
em 1987 foram pedir a bênção a Lefebvre.
Até 2007 viveram
no deserto eclesial até 2007, quando o Papa Bento XVI emitiu o motu proprio “Summorum
Pontificum”, que permite a celebração universal da Missa Tradicional. Então o
grupo pediu a Roma para se fazer uma reconciliação. Houve visitações. O Cardeal
Levada da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei esteve envolvido. E o ano passado o
Papa concedeu a regularização.
Mas como seria de
esperar, apesar de o grupo ter regressado a Roma, alguns membros individuais
escolheram manter-se separados em cisma, com a Sociedade de São Pio X.
Para aqueles que
insistem que a Sociedade não é cismática, considerem o seguinte: No documento
que regulariza este grupo o texto oficial menciona mesmo o fim da sua “condição
cismática”.
Os católicos
tradicionalistas não são seres estranhos de outro planeta. São os nossos irmãos
e irmãs que, em larga medida, são tão fiéis à Igreja como outros católicos –
excepto na obediência eclesial . A sua energia, tanto física como intelectual,
é algo a contemplar e a admirar, e fazem muita falta à Igreja hoje.
Se ao menos eles
direccionassem essa energia a outros alvos que não a Igreja Católica.
Austin Ruse é
presidente do Catholic Family & Human Rights Institute (C-FAM), sedeado em
Nova Iorque e em Washington D.C., uma instituição de pesquisa que se concentra
unicamente nas políticas sociais internacionais. As opiniões aqui expressas são
apenas as dele e não reflectem necessariamente as políticas ou as posições da
C-FAM.
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contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
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