Mas existe toda uma outra dimensão de ameaças aos
cristãos que passa praticamente despercebida. Sabemos que existe pressão sobre
organizações religiosas e igrejas na América – bem como crentes isolados como
floristas ou pasteleiros – para se acomodarem às tentativas do Estado ou
das agências federais para impor uma nova ética sexual, ou para aplicar as leis
que regulam o “discurso de ódio” ou o preconceito contra crentes.
Até agora o Supremo Tribunal tem sido bastante bom a
proteger a liberdade religiosa. E se o Presidente Trump – como é provável –
conseguir nomear para o tribunal mais um juiz (ou dois?) que seja sensível à
importância das defesas constitucionais da liberdade religiosa, poderemos ter
protecção a longo prazo do constante ruído anticristão nas universidades, nos
media e em Hollywood.
Há anos que tenho conhecimento da existência de problemas
semelhantes na Europa, onde normalmente não existem as mesmas protecções ou
recursos jurídicos que nós temos ao abrigo da Primeira Emenda. Mas não tinha
noção da verdadeira extensão dos problemas que lá existem – e penso que poucos
terão – embora agora tenhamos um excelente instrumento com o qual os podemos
medir.
O Observatório de Intolerância e Discriminação contra
Cristãos na Europa publicou um relatório de 74 páginas, relativo a 2018, que
nos abre verdadeiramente os olhos (podem lê-lo
online, aqui). Não se trata simplesmente de uma compilação de queixas ou de
reacções exageradas aos choques típicos de sociedades pluralistas. Fornece um
retrato de um problema extensivo que deve interessar a toda a gente que se
importa com a liberdade, incluindo a liberdade religiosa.
Uma das coisas mais marcantes do relatório é o cuidado
com que foi elaborado, a começar pelos termos que o definem: “O termo ‘intolerância’
refere-se à dimensão social ou cultural e, no pior caso, inclui crimes de ódio
contra cristãos; o termo ‘discriminação’ refere-se à dimensão legal e inclui
interferências com a liberdade de expressão, religião, consciência, livre
associação e reunião, direitos paternais, liberdade contratual, remoção de
símbolos cristãos pelo Governo, leis que afectam os cristãos de forma negativa
e acesso desigual à justiça”.
Ao ler este parágrafo ficamos espantados por saber que
estas coisas estão a acontecer na Europa, hoje. O observatório cita o Papa
Francisco que diz que existem dois tipos de perseguição anticristã. A primeira
é aberta, como se vê em locais como o Paquistão, e é clara, explícita e
inegável. A segunda é “perseguição bem-educada (…) disfarçada de cultura, de
modernidade ou de progresso”.
O relatório também divide a perseguição na Europa em duas
categorias com nomes mais coloquiais: “Apertar” e “esmagar”. Os apertos estão a
transformar-se num fenómeno internacional, como se vê por estas discrições, que
têm paralelos na América: “Em França, um farmacêutico foi sancionado por se
recusar a vender um DIU, um aparelho abortivo. Parteiras suecas que se recusam
a participar em abortos perderam os recursos por despedimento injustificado e
tiveram de pagar custas de tribunal. Um lar católico na Bélgica foi multado por
impedir que os médicos administrassem uma injecção letal e outro na Suíça foi
ordenado a permitir o suicídio assistido nas suas instalações, sob pena de
perder os apoios estaduais”.
Isto já é mau em si. Mas os casos de esmagamento são
ainda mais preocupantes. Muitos envolvem ataques por parte de muçulmanos a membros
do clero ou a pessoas que ostentam cruzes ou outros artefactos religiosos. Se
apenas ouve as notícias dos media generalistas, dificilmente saberia que estas
coisas acontecem, a não ser que surja um caso impossível de ignorar, como o assassinato,
em 2016, do padre Jacques Hamel, em França, às mãos de dois extremistas
muçulmanos.
Mas não são apenas os muçulmanos. A maior parte do
relatório do Observatório descreve mais de 500 casos de intolerância e
discriminação, acompanhados de links que lhe permitem ver o que se passou em
maior detalhe.
Um dos sinais da seriedade de tudo isto é que o
Observatório não se contenta meramente em relatar estes abusos, mas faz
sugestões concretas sobre o que poderá ajudar a contrariar aquilo que parece
ser uma moda em crescimento. Duas dessas sugestões chamaram-me a atenção e são
cruciais para sociedades onde se tornam cada vez mais aceitáveis atitudes
anticristãs: “Os líderes de opinião devem ter noção da sua responsabilidade em
formar um discurso público tolerante, e devem evitar estereotipar negativamente
os cristãos ou o cristianismo. Os artistas devem respeitar os locais e os
símbolos religiosos, tendo em conta que o objecto da sua arte poderá ser muito
sagrado para os fiéis”.
Isto já seria muito bom, claro, embora os nossos
intelectuais antirreligiosos não devam levar tais conselhos muito a peito. No
fim das contas, porém, são as autoridades públicas, a todos os níveis, que
devem ser confrontadas com as provas dos seus próprios preconceitos e erros. E
devem ser obrigados a não os esquecer.
No caso americano da Masterpiece
Cakeshop o nosso Supremo Tribunal notou, correctamente, a hostilidade
aberta revelada pelo comissários dos direitos civis do Colorado para com o
pasteleiro que se recusou a criar um bolo especial para um casamento gay. Desde
então algumas pessoas comentaram que a decisão do tribunal não representou
propriamente uma vitória, porque deu a entender que o tribunal só agirá quando
existirem provas de preconceito anticristão aberto.
É bom que tenhamos isso em conta, uma vez que vão surgir
outros casos parecidos. Mas os nossos amigos europeus fizeram bem em denunciar
governos, a todos os níveis, por permitir discriminação subtil e – como temos
visto nos Estados Unidos – o abuso de leis contra a discriminação para
discriminar os cristãos.
Não vai ser uma batalha fácil. Mas quanto mais nós
fizermos em termos de registar e denunciar o tipo de abusos identificados pelo
Observatório, mais difícil será para os preconceituosos anticristãos.
Robert
Royal é editor de The Catholic Thing e presidente do Faith and Reason Institute
em Washington D.C. O seu mais recente livro é A Deeper Vision: The Catholic
Intellectual Tradition in the Twentieth Century, da Ignatius Press. The God That Did Not Fail: How
Religion Built and Sustains the West está também disponível pela Encounter
Books.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing na Segunda-feira, 2 de Julho de
2018)
© 2018
The Catholic Thing. Direitos reservados. Para os direitos de
reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião católica
inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos seus
autores. Este artigo aparece publicado em Actualidade Religiosa com o
consentimento de The Catholic Thing.
No comments:
Post a Comment