Christopher Akers |
Existe um argumento filosófico simples, mas hoje em dia
raramente invocado, que nos pode ajudar a concluir pela existência de Deus. Tem
o potencial de tocar os corações e as mentes daqueles que o consideram de forma
séria.
Resumidamente, o argumento estipula que a existência de
um sistema moral objectivo requer a existência de Deus. Para que um sistema
moral seja verdadeiramente objectivo, a lei moral deve ter a sua origem numa
fonte exterior à humanidade. Caso contrário tudo o que temos são opiniões morais
humanas e subjectivas, independentemente da roupagem que lhes pusermos. As
implicações são particularmente fascinantes, sobretudo tendo em conta que a
vasta maioria dos não crentes vive e age como se acreditasse num sistema moral
objectivo, embora o seu próprio sistema de crenças o impossibilite.
A meditação sobre estas questões desempenhou um papel
fundamental para a minha própria conversão à Igreja. Pensar seriamente sobre a
moralidade objectiva obriga-nos a colocar questões sobre porque agimos como
agimos no dia-a-dia e que tipo de racionalidade sustenta as nossas escolhas
morais.
Se utilizarmos a lógica isenta, a conclusão é só uma: sem
um legislador divino as escolhas e as acções morais só podem ser subjectivas e,
no final de contas, sem sentido. É aterrador compreender as verdadeiras
implicações das palavras de Ivan em “Os Irmãos Karamazov”, que “sem Deus tudo é
permitido”.
Chegados a este ponto temos apenas Deus e o niilismo. Os
ateus mais inteligentes compreendem isto muito bem e é por isso que o tema
raramente é discutido. Em vez disso os actos mais horrendos são simplesmente
descritos como “claramente errados”, sem que se procure investigar mais a fundo
do porquê de o serem.
Mas uma moralidade destas, sem bases, é literalmente
disparatada. Faz-nos lembrar a máxima atribuída a Chesterton de que “quando um
homem deixa de acreditar em Deus não passa a acreditar em nada, acredita em
qualquer coisa”.
Reiterando, a maioria dos indivíduos vive como se
existisse um sistema moral objectivo, mas sem Deus esse sistema não pode
existir. C.S. Lewis disse de forma lúcida, nas primeiras secções do livro “Mero
Cristianismo”, que as pessoas “apelam a um tipo de padrão de comportamento que
esperam que os outros conheçam” em alturas de desacordo moral.
É assim ainda nos nossos dias, porém de acordo com as
normas da sociedade moderna não existe ninguém (mais especificamente, nenhum
Deus) que forneça esse padrão. Logicamente, se é esse o caso, então o próprio
padrão colapsa.
Já debati este ponto várias vezes com amigos ateus,
alguns dos quais procuraram oferecer formas “objectivas” alternativas para se
compreender a moralidade. Certo interlocutor sugeriu que um exemplo de sistema
moral objectivo não-teísta seria o utilitarismo.
Porém, o utilitarismo é meramente uma teoria filosófica colocada
pelo homem. Mesmo que toda a gente no mundo aceitasse o utilitarismo, ninguém
seria obrigado a segui-lo da forma como nos vincula a lei moral do Criador do
Céu e da Terra. A utilidade é nada quando comparada com o amor, como os nossos
leitores tão bem saberão. Não se trata de uma diferença subtil, a distância
entre estes dois conceitos é grande e evidente.
Utilitarismo biológico... |
Seja qual for a perspectiva, este argumento é
simplesmente incompreensível. Porque se Deus não existe, então quem é que pode
dizer se é certo ou errado seguir determinadas vontades biológicas? Peguemos no
exemplo horrível da violação. Se seguirmos um sistema moral baseado apenas na
biologia darwiniana, em que o objectivo da vida é, em última análise, a
propagação dos genes, então a violação não poderia ser entendida como um bem na
medida em que assegura uma transmissão mais alargada desses mesmos genes?
Não estou a sugerir que o meu caro amigo alguma vez
argumentaria neste sentido, mas este é um exemplo evidente do absurdo de
reduzir a moralidade à biologia. Não é preciso ir mais longe do que dizer que
há um mundo de diferença entre a beleza do amor sexual humano e o copular
violento de muitas espécies do reino animal.
À nossa volta podemos ver a desintegração da ética
civilizada que resultou da confusão sobre a moralidade objectiva. E a confusão
é agravada pelas pessoas bem-intencionadas que nos rodeiam e que falam como se
a moralidade objectiva existisse enquanto rejeitam todas as coisas, incluindo
Deus, que têm de a sustentar.
O que resta de ética civilizada de que ainda gozamos
deve-se apenas aos resquícios de uma civilização cristã, se nada for feito a
nossa herança poderá ser completamente varrida. A ligação entre Deus e a
moralidade objectiva deve ser reafirmada claramente e com frequência por
padres, apologistas, filósofos, catequistas e todos os outros. Deve, aliás, ser
proclamada aos quatro ventos!
Christopher Akers, que se juntou agora à equipa do The
Catholic Thing, é escritor e vive na Escócia. Licenciado pela Universidade de
Edimburgo, inicia este ano outra licenciatura em Oxford em Literatura e Artes.
É autor de artigos sobre estética e o crescente poder do Estado Britânico na
vida dos indivíduos.
(Publicado pela primeira vez no Sábado, 8 de Julho de
2017 em The Catholic Thing)
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