Robert Reilly |
Em 2013 a Faith and Reason Institute (que detém o The
Catholic Thing) publicou, juntamente com a Westminster Institute uma monografia
que eu escrevi sobre as Perspectivas e Perigos do Diálogo Católico-Muçulmano.
Neste texto examinei uma década e meia de esforços por parte das três
conferências episcopais regionais de desenvolver este diálogo. Os resultados
não eram encorajadores.
Quem não se mostrou minimamente preocupada foi a Conferência
Episcopal dos EUA, que aumentou a parada e criou uma comissão de diálogo
nacional. O que podemos esperar desta iniciativa? Mais confusão, temo dizer.
Há vários problemas. Tal como a maioria dos Americanos,
os bispos sabem pouco ou nada sobre o Islão. Logo, não compreendem o contexto
em que falam os seus interlocutores. O resultado é que partem do princípio que
os seus parceiros de diálogo são apenas uma imagem espelhada deles mesmos. É um
grande erro.
Um exemplo foi dado recentemente pelo bispo de San Diego,
Robert W. McElroy, no Instituto de Justiça e Paz da Universidade Joan B. Kroc,
em San Diego. O Catholic News Service fez manchete com “Bispo desafia católicos
a combater ‘maré feia de preconceito anti-islâmico’”. O bispo considera que os
católicos devem erguer a voz contra as “distorções de ensinamentos e teologia
muçulmana sobre a sociedade e o Estado”.
Que distorções são essas? Aparentemente devemos ver com
revolta as “repetidas falsidades” de que o Islão é inerentemente violento, que
os muçulmanos procuram impor a Sharia no lugar da Constituição americana e de
que a imigração muçulmana ameaça a “identidade cultural do povo americano”.
O parceiro de diálogo do bispo McElroy nessa noite era
Sayyid Syeed, líder da Sociedade Islâmica da América do Norte (ISNA), cujo nome
já me era conhecido por ser uma presença regular no diálogo católico-muçulmano
da minha região. Talvez o bispo não conhecesse a história do ISNA, que surgiu
da Irmandade Muçulmana, a primeira organização no mundo a trabalhar pelo
restabelecimento do califado e que se dedica à implementação da Sharia.
Mas não se fiem apenas em mim.
O Dr. Muzammil Siddiqi, ex-presidente do ISNA e
participante frequente nas sessões de diálogo, disse o seguinte ao jornal
“Pakistan Link”: “Não nos devemos esquecer que as leis de Allah devem ser
estabelecidas em todas as terras, e que todos os nossos esforços devem
conduzir-nos nessa direcção”. Em 2001 escreveu “à medida que mais pessoas aceitam
o Islão, insha’allah, isso levará à implementação da Sharia em todas as
regiões”.
Zuhdi Jasser, fundador do Forum Islâmico Americano para a
Democracia adverte que, na convenção anual do ISNA em 1995, o orador principal,
Imam Siraj Wahhaj, pediu a substituição da Constituição pelo Alcorão. Não
admira que Jasser lamenta aquilo a que chama uma “relação infeliz entre a
hierarquia católica e o ISNA”. (Jasser, ao que parece, não seria um bom
parceiro para este tipo de diálogo).
Embora reconheça a situação terrível que os cristãos
enfrentam no Médio Oriente, o bispo McElroy louvou o respeito do Islão pelo que
chama “os povos do Livro”. Foi logo ecoado por Syeed que disse, de acordo com a
CNS, que o primeiro milénio foi marcado por boas relações entre o Cristianismo
e o Islão, mas que tudo isso mudou no milénio seguinte, que incluiu as
cruzadas.
É uma perspectiva interessante da história.
Sayyid Syeed |
Sugiro aos bispos que coloquem nas suas listas de leitura
o livro de Bat Ye’Or “O Declínio do Cristianismo Oriental sob o Islão: Da Jihad
aos Dhimmis”, para que possam falar com rigor sobre o respeito que o Islão
revelava pelos “povos do livro” durante o primeiro milénio e posteriormente.
Com base neste passado, será tão inadequado dizer que há algo “inerentemente
violento” no Islão?
Syeed concluiu, dizendo que no segundo milénio “as duas
fés dividiram o mundo em ‘a casa do Islão’ e ‘a casa do Cristianismo’”. Na
verdade essa divisão foi feita muito antes e pelo Islão, que criou a distinção
entre dar al-islam e dar al-harb, com o mundo cristão a ser descrito como a
“casa da Guerra”.
Mas será esta distinção seja antiquada? Por volta da mesma altura em que o bispo McElroy falava, num sermão de sexta-feira em Edmonton, Alberta, o imã Shaban Sherif Mady declarava: "Anseiam por isto, porque o profeta Maomé disse que Roma iria ser conquistada! E será conquistada. Constantinopla foi conquistada. Roma é o Vaticano, é o coração do Estado cristão".
Pergunto, então, quem é que está a entender mal o Islão,
o Imã Siraj Wahhaj ou o bispo? (Nem falo em Syeed, porque ele saberia
certamente que Maomé disse isto).
Por outras palavras o evento do Instituto de Paz de San
Diego proporciona um microcosmos para tudo o que costuma correr mal com o
diálogo católico-muçulmano quando este é conduzido pelas conferências
episcopais. Nenhum dos muitos reformadores muçulmanos intelectuais com quem
trabalhei ao longo dos anos foi alguma vez convidado para um encontro destes.
Na maior parte, apenas as organizações muçulmanas se devem dar ao trabalho de
se candidatar.
Isto ajuda a legitimar os clones da Irmandade Muçulmana e
aliena as verdadeiras vozes de reforma muçulmana. Por outro lado, uma vez que
acabam frequentemente por representar mal a substância, os diálogos acabam por
espalhar equívocos sobre o Islão em vez de os ultrapassar.
Uma vez que os muçulmanos se estão nas tintas sobre o que
os católicos dizem sobre o Islão, os únicos a quem este tipo de diálogo
confunde são os próprios católicos. Sugiro, como lema para esta nova iniciativa
de diálogo da USCCB, o dito de Bento XVI de que “a verdade torna possível o
consenso” e, por consequência, a insensatez torna-a impossível.
De acordo com a reportagem da CNS da semana passada, o
bispo McElroy disse que a revolta que domina o actual clima político é um sinal
de alienação popular por as pessoas não sentirem que estão a ser ouvidas pelas
elites. O bispo McElroy é uma das elites. Estará a ouvir?
Robert Reilly é director do Westminster Institute e
ex-director da Voice of America. Leccionou na National Defense University e
serviu na Casa Branca e no Gabinete do Secretário da Defesa. É autor de The Closing of the Muslim Mind: How Intellectual Suicide Created the ModernIslamist e o seu mais recente livro é Making Gay Okay: How Rationalizing Homosexual Behavior is Changing Everything.
(Publicado pela primeira vez na Segunda-feira, 21 de
Março de 2016 em The Catholic Thing)
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