Howard Kainz |
Na introdução ao seu livro “Sweetening
the Pill” [Dourar a Pílula], Holly Grigg-Spall deixa claro que é
pró-aborto, em termos políticos, e não tem qualquer objecção aos vários métodos
de contraceptivos de barreira – como preservativos, diafragmas, espermicidas
etc. Todavia, ela encabeça um movimento contra a pílula contraceptiva e seus
derivados (Injecções Depo-Provera, Implantes Nexplanon, anéis vaginais
NuvaRing, o DIU hormonal Mirena, etc.) e fá-lo não só com o seu livro, mas com
o seu site, entrevistas e um
documentário que deve estrear em 2016.
Qual será a sua razão para contrariar assim, de forma tão
evidente, a doutrina da Planned Parenthood, da Fundação Bill e Melinda Gates,
agências americanas e da ONU e outros que promovem as mais modernas tecnologias
de contracepção em todo o mundo?
Ela menciona os riscos para a integridade física,
raramente abordados pelos principais meios de comunicação – o facto de a pílula
contraceptiva aumentar significativamente o risco de doença cardíaca e de
cancro cervical, do peito e do fígado; o facto de os contraceptivos orais serem
classificados pela Organização Mundial da Saúde como cancerígenos
de classe 1, a par do tabaco e do amianto; que a injecção Depo-Provera vem
com um aviso de que é prejudicial para
a saúde óssea de adolescentes, e por aí fora.
Mas a sua principal preocupação tem a ver com os efeitos
mentais e emocionais da pílula. Cita um estudo de 1998 da Universidade da
Carolina do Norte, um estudo de 2001 do Kinsey Insitute, outro da Universidade
Monash, de 2005 e um de 2008 da Universidade Lakehead que mostram, todas, um
impacto negativo dos contraceptivos hormonais sobre o bem-estar emocional.
As pílulas contraceptivas são usadas como tratamento
alternativo para problemas físicos como hemorragias fortes, períodos
irregulares, dores menstruais, endometriose e Síndrome do ovário policístico.
Mas, pergunta, porque é que mulheres perfeitamente
saudáveis hão-de começar a tomar medicamentos, muitas vezes desde a
adolescência até à menopausa, que tem inúmeros efeitos secundários – para a
tiróide, adrenalina, glicose no sangue, níveis de testosterona, etc?
Basicamente, a pílula funciona recorrendo a hormonas
artificiais para colocar mulheres férteis num estado em que acabarão por nunca
ovular (apesar das hemorragias de privação que acompanham muitos medicamentos)
e que por isso serão sujeitas às alterações fisiológicas comuns às mulheres em
menopausa – infertilidade, risco acrescido de AVC e cancro da mama, resistência
à insulina, imunossupressão e decréscimo da libido, etc.
Por outras palavras, estamos a assistir a um fenómeno
estranho em que vemos as mulheres a serem cuidadosas com o que comem, com o
exercício, vida saudável e a optarem frequentemente por um estilo de vida
“natural” – mas que de resto escolhem tomar comprimidos que utilizam hormonas
para impedir toda a forma de menstruação, contribuindo para a contaminação das
águas e desregulando a sua própria fisiologia.
A motivação invocada para suportar tudo isto é, claro, o
medo da gravidez. Holly Grigg-Spall, que usou contraceptivos hormonais desde a
adolescência quase até aos 30, descreve da seguinte forma a sua experiência:
enxaquecas, hemorragias e náuseas constantes e mudanças frequentes de receitas,
mas nunca quis parar porque: “Estava aterrorizada pela ideia de engravidar”.
As pressões nos nossos dias são enormes – pais
aterrorizados com a ideia de que as suas filhas adolescentes possam vir a ser
“punidas” com uma gravidez; médicos (incluindo pediatras) querendo assegurar a
“saúde” das suas pacientes; uma economia moderna que precisa que as mulheres
estejam disponíveis para trabalhar sem o fardo de “assuntos femininos”, isto
para não falar de homens que querem que as suas mulheres ou namoradas estejam
constantemente disponíveis para ter relações sexuais.
Mesmo as mulheres que estão a sentir os efeitos
secundários negativos da pílula hesitam em parar por causa dos aspectos “bons”.
As adolescentes que usam contraceptivos descobrem não só que as menstruações
mais pesadas acabam, mas que a acne começa a desaparecer e o cabelo fica menos
oleoso. Continuando pelos anos 20 e 30, como diz Holly Grigg-Spall: “Deixamos
de ter períodos chatos, podemos ter a pele mais limpa, somos mais magras, temos
peitos maiores e, supostamente, livramo-nos da TPM maçadora”.
Deixar de tomar a pílula também pode resultar em sintomas
de ressaca, comparáveis ao abandono de outras drogas – insónias,
irritabilidade, etc. E as mulheres que querem engravidar podem descobrir que
leva vários meses até começarem a ovular normalmente depois de vários anos a
tomar a pílula. Mas para as mulheres que decidem que querem deixar de viver
como homens, sem períodos, em menopausa perpétua (e com vários dos sintomas da
menopausa), o abandono pode abrir novas vias de oportunidade.
Holly Grigg-Spall cita a sua experiência, que coincide
com a de muitas outras:
“Quando tomava a pílula sentia-me estagnada – física,
mental e emocionalmente. Ficava presa em sentimentos e pensamentos. Não pensava
com clareza. Não progredia. Depois de deixar de tomar a pílula o meu corpo vai
passando por alterações durante o mês, experimento ondas e picos, o vai e vem e
tudo isto me move. Este movimento é galvanizante... Quando deixei de tomar a
pílula foi como se tivessem ligado um interruptor. Rapidamente voltei a ter a
capacidade para me relacionar verdadeiramente.”
A sua solução, como alternativa para os contraceptivos
hormonais, são os Métodos Naturais de Planeamento Familiar, ao estilo do “Método Creighton” mas sem as
motivações católicas “opressivas”. Especificamente, segue os métodos seculares
da Fertility Awareness
Methods (FAM), como o método “Justisse”. Cita
estatísticas de estudos alargados da Universidade de Heidelberg e outros que
mostram que as FAM são tão eficientes como a pílula. Proclama a boa nova da sua
emancipação da pílula no seu site, num manual de instruções (Coming off the Pill:
a Guide) e, como já tinha mencionado, num documentário que está a ser
produzido. Também promove uma aplicação para smartphone e tablet – Kindara, uma
forma “completa e sofisticada” para seguir os ciclos.
Um defensor católico dos Métodos Naturais gostaria mais
de ver uma ênfase no direito natural, e veria os problemas enumerados por
Grigg-Spall como manifestações empíricas da violação dessa lei. Mas como São
Tomás de Aquino, que sublinhou que se devia apreciar a verdade,
independentemente da sua origem, devíamos encarar este movimento, que põe a nu
uma das mais potentes armadilhas da revolução sexual, como um passo na direcção
certa.
Howard Kainz é professor emérito de Filosofia na
Universidade de Marquette University. Os seus livros mais recentes incluem Natural Law: an Introduction and Reexamination (2004), The Philosophy
of Human Nature (2008),
e The Existence of God and the Faith-Instinct (2010)
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing no Sábado, 11 de Abril de 2015)
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