Anthony Esolen |
Foi W. H. Auden quem disse que todos os críticos deviam
mostrar as suas credenciais antes de escrever sobre literatura. Mas as
credenciais a que se referia nada tinham a ver com a formação académica ou
bibliografia. Auden dizia que eles deviam confessar aos seus leitores qual era
a sua visão do paraíso.
Penso que este requisito devia aplicar-se também a todos
os críticos sociais e a todos os que propõem alterações fundamentais às leis ou
aos costumes. A todos os que se identificam como progressistas, a pergunta
evidente é: “Para onde vamos? E porque é que queremos chegar aí?”
Deixemos de lado, por um momento, o facto de não ser
possível um paraíso sobre a terra, pois isso implicaria a perfeição das
virtudes entre homens decaídos. Nas palavras de Solzhenitsyn, no coração de
cada homem trava-se uma batalha entre o bem e o mal.
Deixemos de lado aquela confiança vã de que podemos
chegar à terra prometida se seguirmos a estrada mágica da “ciência” ou da
“democracia”, ou da “igualdade” ou da “liberdade sexual”, e que tudo estará bem.
Deixemos de lado os meios para chegar a essa terra
prometida. A questão que se coloca aos progressistas é: “Que terra é esta que
nos prometem? Porque é que é esse o vosso destino? Como é que é? Como é que
imaginam o paraíso?”
Para o verdadeiro conservador a questão é menos agressiva
e urgente, uma vez que o verdadeiro conservador não acredita no paraíso sobre a
terra. “Como é que seria um paraíso? Dadas as fragilidades da natureza humana,
que pálido reflexo desse paraíso é que os nossos antepassados, ou nós mesmos,
já garantimos? Se já perdemos parte dessa boa realidade, como é que a podemos
reaver?”
Esta questão tem implicações sobre o grande debate do
nosso tempo, o da chamada “libertação sexual”. Por isso coloquemos aos
progressistas esta questão: Qual é a vossa ideia de paraíso? Para onde nos
estão a conduzir?
É uma terra em que a maioria das pessoas no auge das suas
vidas são casadas? Pelo que os homens e as mulheres dedicam a maior parte do
seu tempo a dedicar-se à disciplina edificante e unificadora da vida familiar?
É uma terra em que praticamente nenhum casamento termina
em divórcio?
É uma terra em que praticamente não nascem crianças fora
do porto seguro do casamento e de votos de estabilidade e perpetuidade?
É uma terra cuja cultura popular celebra aquilo que há de
mais nobre na humanidade e não aquilo que é rude, ordinário e egoísta? Uma
terra em que os rapazes e as raparigas aprendem que é errado levar uma vida de
hedonismo?
É uma terra em que a pornografia é considerada lixo
porque conspurca o corpo e a mente?
É uma terra em que os homens têm muita coisa boa para
dizer sobre as mulheres e as mulheres muita coisa boa para dizer sobre os
homens?
É uma terra em que os casamentos são tão fortes que
aqueles que sucumbem às tentações do mau comportamento podem contar com
assistência pronta dos seus vizinhos e familiares?
É uma terra cujas igrejas se enchem ao domingo?
É uma terra cujas famílias são tão estáveis e tão
presentes na vida local que os políticos, os professores e os homens de
negócios precisam de contar com elas? Uma terra em que as famílias
supervisionam as escolas e onde os professores são vistos como representantes
dos pais, nomeados à sua discrição?
É uma terra cuja vida familiar é dão produtiva e vibrante
que em vez de vermos entretenimento massificado a ser bombeado para dentro das
casas, existe uma verdadeira cultura popular a florescer dentro de casa?
É uma terra em que se honram as virtudes que fortalecem e
protegem as famílias? Uma terra em que a castidade não é desprezada por ser uma
forma de puritanismo mas louvada como forma de autodisciplina que respeita a
beleza da sexualidade e a santidade do casamento?
É uma terra em que a primeira prioridade da economia é o
bem do lar? Uma terra em que as leis e os costumes fortalecem a vida familiar,
aumentando as probabilidades de as crianças passarem a maior parte do tempo em
casa na companhia de pelo menos um dos seus pais? Uma terra de vizinhança e não
de mera proximidade, onde as famílias que vivem nos mesmos bairros se conhecem
ao ponto de formar uma espécie de família alargada em que as crianças podem
brincar à vontade, sempre debaixo do olhar de alguém de confiança?
É uma terra em que os Governos podem dedicar-se aos seus
afazeres, porque quase todos os assuntos verdadeiramente importantes já são
tratados pelos lares, os bairros e as paróquias?
É uma terra em que as crianças não são precocemente
sexualizadas, tendo assim tempo para aprender a ser rapazes e raparigas antes
de entrar na fase da puberdade? Uma terra em que alguém que expressasse a
vontade de se insinuar sexualmente nos desejos sexuais de uma criança seria
visto como monstruoso? Uma terra em que um pervertido sexual e uma fraude como
Alfred Kinsey não seria celebrado?
Nesta terra poderíamos ter uma parada anual para festejar
aqueles que celebram os 40 anos de casados, na companhia dos seus filhos e
netos? Uma terra em que a palavra “puro” não é usada como gozo e “decadente”
não é considerado um elogio?
A todos os que defendem o absurdo biológico de um homem
se poder casar com outro homem, perguntamos: “Essa terra que nos propõem é uma
onde seriam felizes? Vocês querem que acreditemos que vos podemos conceder esta
coisa que desejam sem termos de abdicar de todas as outras coisas que as
pessoas comuns sempre quiseram e das quais tantas vezes puderam gozar. Mas essa
não é uma mentira? Não é antes verdade que não querem nenhuma dessas outras
coisas?
Para onde nos querem levar? Porque é que havíamos de
querer ir convosco?
Anthony Esolen é tradutor, autor e professor no
Providence College. Os
seus mais recentes livros são: Reflections on the Christian Life:
How Our Story Is God’s Story e Ten
Ways to Destroy the Imagination of Your Child.
(Publicado pela primeira vez na Quarta-feira, 20 de
Agosto de 2014 em The
Catholic Thing)
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