Brad Miner |
Eric Metaxas é autor de alguns livros religiosos para
crianças e duas biografias muito bem recebidas de William Wilberforce (2007) e
Dietrich Bonhoeffer (2011), e o seu mais recente livro “7 Men – and the Secretsof Their Greatness”, inclui breves perfis tanto do abolicionista inglês como do
pastor evangélico alemão martirizado. Os outros cinco são George Washington, o
velocista Eric Liddell, o grande jogador dos Dodgers Jackie Robinson, o
falecido amigo de Metaxas, Charles W. Colson, e – mais importante para os
nossos leitores – o Papa João Paulo II.
Embora escrito para um público adulto, “7 Men” pode ser lido
por adolescentes, sendo aliás muito recomendado para estes. Estes perfis devem
ser inspiradores, e são-no, embora me aborreça que o autor use o termo “herói”
como sinónimo de “modelo” [Role Model]. Jackie Robinson foi heróico e por isso,
suponho, talvez sirva de modelo para miúdos, mas o carácter é uma realidade tão
complexa que duvido.
Todos os heróis de “7 Men” foram, em mais do que um sentido,
fortes, e Metaxas escreve que “a ideia de Deus de tornar os homens fortes era
de que usassem essa força para proteger mulheres e crianças e mais quem
precisasse”. Por outras palavras, tinham cavalheirismo, (um tema que me é caro).
Este pode ser definido como força “posta ao serviço de Deus”. De que outra
forma é que homens conseguem fundar uma nação (Washington), acabar com a
escravatura (Wilberforce), voltar as costas à fama (Liddell), sacrificar tudo
(Bonhoeffer), quebrar a barreira racial (Robinson), mudar o mundo (João Paulo
II), e ultrapassar a humilhação pública (Colson)?
Cada um destes homens tinha uma firmeza quase preternatural
para fazer a coisa certa. No caso de Washington não se tratava só de liderar os
novos Estados Unidos, mas dar um exemplo de moderação ao abandonar o cargo
público e retomar a vida privada. Wilberforce poderia ter sido
primeiro-ministro, mas dedicou a sua vida a libertar os africanos da
escravatura. Liddell opôs-se ao rei e à nação para poder honrar o sábado,
depois abandonou o atltetismo para se dedicar às missões na China. Bonhoeffer
enfrentou os nazis, abandonando a segurança dos Estados Unidos para regressar à
Alemanha, e por isso foi enforcado. Robinson manteve a calma quando confrontado
com o racismo mais selvagem, abdicando, nas palavras de Metaxas, de algo a que
poucos abdicam, o direito à retaliação. Chuck Colson subiu, caiu e pôs-se de pé
outra vez: “A sua fé era tão forte que sabia que a única coisa a fazer era
confiar em Deus tão completamente que pareceria loucura para o mundo... Mas a
ele não interessava o que pensassem os outros – apenas Deus”.
E depois há João Paulo II: “De todos os homens neste livro,
apenas um passou a ser conhecido como ‘magno’”.
A informação biográfica sobre Karol Wojtyla incluída em “7
Men” é já do conhecimento de quem tenha lido a obra de George Weigel, mas o Sr.
Metaxas, que é de tradição Ortodoxa, captura de forma clara a essência da sua
vida extraordinária: “Cada incidente, cada pessoa que conheceu, cada talento
que lhe foi dado o ajudou ao longo do caminho que Deus lhe tinha traçado”.
Aqui estava um homem, mais até que os restantes seis,
chamado por Deus, dirigido por Deus e protegido por Deus.
Dada a necessidade de descrever a vida do Papa Wojtyla em
apenas vinte páginas, não sei o que é que incluiria (ou o que deixaria de
fora), mas Metaxas foca-se, sabiamente, naqueles incidentes que sustentam a
premissa de que o futuro Papa não só tinha sido chamado por Deus a desempenhar
o papel histórico que desempenhou, mas também que era um homem que nunca hesitou
em cumpri-lo. Durante a segunda Guerra Mundial, ele e os amigos estavam a
esconder-se de alemães que faziam uma busca casa-a-casa. Enquanto os outros se apertavam,
assustados, “Lolek” Wojtyla prostrou-se em oração. Os soldados passaram sem
entrar.
Quando o pálio papal lhe foi passado, respondeu: “É a vontade
de Deus. Aceito”.
A fé do Papa era de tal maneira forte – a palavra de Deus na
sua mente e no seu coração era tão clara – que católicos de todas as facções o
aceitaram como seu. Apoiou a Solidariedade, e também o mercado livre. Falou da
beleza do amor e do sexo, mas nunca se desviou da ortodoxia da Humanae Vitae. E
a sua capacidade de reconciliar vários interesses concorrentes dentro da Igreja
ganhou-lhe muitas conversões.
Daí que Jennifer Bradley, do liberal New Republic, que apesar
de não ter gostado muito dele, no início, não deixou de participar numa missa
papal, escrevendo depois : “Agora o meu cepticismo terá de partilhar espaço com
admiração e, estranhamente, gratidão”.
Uma aceitação da Cruz sem medo, escreve Metaxas, foi o verdadeiro
segredo da grandeza de João Paulo II: “Ele não procurou a grandeza nem o poder,
mas ambos vieram ter com ele na medida em que focava a sua atenção e a sua
energia, tal como Deus tinha ensinado, naqueles que tinham menos capacidade de
retribuir.”
Regressamos ao cavalheirismo. Omnia vincit amor.
(Publicado pela primeira vez na Segunda-feira, 6 de Maio
2013 em The Catholic
Thing)
Brad Miner é editor chefe de The Catholic
Thing, investigador senior da Faith & Reason Institute e faz parte da
administração da Ajuda à Igreja que Sofre, nos Estados Unidos. É autor de seis
livros e antigo editor literário do National Review.
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