Pe. Thomas Weinandy |
A primeira vez que vi um urso pardo foi há muitos anos, nas Montanhas Rochosas, no Canadá. Por alguma razão fiquei cheio de vontade de lhe fazer uma festinha. Era tão grande e peludo. Seria maravilhoso, pensei, poder fazer festinhas a um urso pardo. Claro que se pode sempre fazer festinhas a um urso pardo sedado, mas isso não conta. Seria batota, e por isso não daria a mesma satisfação. O problema, obviamente, é que muito antes de eu conseguir chegar suficientemente próximo de um urso pardo para poder fazer-lhe uma festinha, ele faria uma “festinha” a mim e assim terminaria abrupta e conclusivamente esse meu propósito. O que me conduz ao ponto onde quero chegar.
Qualquer bom tomista nos dirá que os animais, mesmo o eminente urso pardo,
não têm almas imortais e, por isso, deixam de existir quando morrem. Isso pode
bem ser verdade. Mas eu sei, contudo, que no final dos tempos, quando Jesus
regressar na sua glória, inaugurará uma Nova Criação, um Novo Céu e uma Nova
Terra. Normalmente, quando pensamos nessa nova criação, pensamos nas estrelas,
nas montanhas, nas plantas e nas árvores que ganharão uma novidade e um
esplendor que as nossas imaginações não conseguem alcançar. Mas os animais não
constam.
A Bíblia, porém, sobretudo no Antigo Testamento, refere que todas as
criaturas serão encorajadas a louvar e glorificar o seu Criador, e é
precisamente isso que fazem. Não são só o sol e a lua que louvam o Senhor, mas
“as feras e todos os gados, répteis e aves voadoras” (Salmo 148). No Livro de
Daniel lemos que todas as criaturas de Deus – baleias, pássaros, animais
selvagens, gado – o devem “exaltar para sempre” (Daniel 3). Tudo o que
Deus criou é bom, e por isso os animais, na sua própria natureza, na sua
intrínseca bondade, exaltam e louvam Deus.
O pássaro que voa louva o Senhor, o coiote que uiva louva o Senhor, até o
gato arrogante que dorme louva o Senhor – e claro que o grande urso pardo
também louva o Senhor. Mas o que me espanta ainda mais é o “para sempre”.
É essa a esperança orante da profecia bíblica. Mas se os animais, enquanto
espécie, deixarem de existir, não serão capazes de louvar Deus para sempre.
Isaías profetiza que com a chegada da Era Messiânica escatológica, “o lobo
habitará com o cordeiro, o leopardo deitar-se-á junto do cabrito, o vitelo e o
leão pastarão juntos; A vaca pastará com o urso [pardo], as suas crias
deitar-se-ão juntas, e o leão comerá erva com o boi” (Isaías 11,6-7).
Há uns anos uma raposa começou a entrar regularmente no terreno do nosso
convento em Washington D.C. e eu comecei a dar-lhe os restos do jantar –
gordura, ossos de frango, etc. Depois de algum tempo, ela começou a
aproximar-se até a cerca de um metro e meio de mim, e eu lançava-lhe a sua
comida diária. O meu objectivo era conseguir que ela comesse da minha mão.
Alguns dos meus confrades criticaram-me por estar a alimentar um animal
“selvagem”. Respondi que a estava a preparar para o eschaton. Calculei que se o
nosso fundador, São Francisco de Assis, conseguiu domesticar um lobo, eu
conseguiria domesticar uma raposa. No final, porém, os frades anti-escatológicos
ganharam e fui proibido de alimentar a minha amiga raposa.
Em comunhão connosco, toda a criação – estrelas, montanhas, plantas,
árvores e, sim, animais – gemem, aguardando ansiosamente o dia em que será
libertada da maldição do pecado que é a morte. Só quando Jesus regressar na sua
gloria escatológica, e nos ressuscitar em corpo de entre os mortos, é que toda
a criação poderá partilhar na gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
Não faço ideia se todos os animais que alguma vez existiram regressarão à
vida no Novo Céu e na Nova Terra. Mas acredito que nada da boa Criação de Deus
se perderá, precisamente porque o bom Deus a criou boa. Tal como Deus criou
toda a Criação boa através da sua Palavra, também Deus recriou toda a Criação
através da sua Palavra Incarnada. E tal como Deus deu em primeiro lugar a Adão
e a Eva “domínio sobre os peixes do mar e as aves do céu e sobre todos os
animais que andam sobre a terra” (Génesis 1,28), assim os filhos e as filhas
redimidas de Deus cuidarão da nova criação.
O Novo Céu e a Nova Terra partilharão da glória ressuscitada da humanidade
– não haverá mais gemidos e decadência. Esta é a esperança que reside na
plenitude da Era Messiânica. Quando Jesus surgir no seu trono celestial,
ouvi-lo-emos proclamar: “Eis que faço novas todas as coisas” (Revelação
21,5).
Assim, a minha esperança é de que se não posso fazer festinhas ao urso
pardo nesta Criação, podê-lo-ei na Nova Criação. E estou convencido de que ele
me dará um grande e entusiástico abraço de volta. Mais importante, exaltaremos
e louvaremos juntos, para sempre, cada um de acordo com a nossa
natureza, Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.
Thomas G. Weinandy, OFM, um autor prolífico e um dos mais conhecidos
teólogos vivos, faz parte da Comissão Teológica Internacional do Vaticano. O
seu mais recente livro é Jesus
Becoming Jesus: A Theological Interpretation of the Synoptic Gospels.
(Publicado pela primeira vez em The Catholic Thing no
domingo, 6 de Fevereiro de 2022)
© 2022 The Catholic Thing. Direitos
reservados. Para os direitos de reprodução contacte: info@frinstitute.org
The Catholic Thing é um fórum de opinião
católica inteligente. As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade
dos seus autores. Este artigo aparece
publicado em Actualidade Religiosa com o consentimento de The Catholic Thing.
No comments:
Post a Comment