Stephen P. White |
Começando em Outubro, o Sínodo dos Bispos vai
concentrar-se nestas questões na próxima assembleia sob o tema: “Por uma Igreja
sinodal: comunhão, participação e missão”. O Papa Francisco está convencido de
que a sinodalidade descreve a forma que a Igreja deve assmir no terceiro
milénio. Mas ainda não é muito claro precisamente o que é que o Santo Padre quer
dizer quando fala de sinodalidade e de uma Igreja sinodal.
Para começar, sabemos algo do que o Papa Francisco não
quer dizer com sinodalidade. Ele não está a falar simplesmente da sinodalidade
das Igrejas Orientais. Parece ter em mente algo mais do que o Sínodo dos
Bispos, que se tem reunido para aconselhar os Papas ao longo dos anos desde o Concílio
Vaticano II. Não encara uma Igreja sinodal como uma democracia, nem um sínodo
como um plebiscito ou parlamento. O que ele quer dizer é “uma Igreja a caminhar
em conjunto”, uma definição suficientemente vaga para justificar todas as
clarificações feitas até agora.
Comissão Teológica
Internacional (CTI) estudou o tema da “sinodalidade na vida da Igrea” durante
vários anos, o que resultou num relatório de 2018. Esse relatório obteve um
parecer favorável do Papa Francisco e dá-nos uma visão mais robusta do que a
sinodalidade significa, ou pode significar, para a Igreja Latina. E também, até
certo ponto, o que não significa nem pode significar.
A sinodalidade, dizem-nos, não descreve um evento, mas um
processo: “O modus vivendi et operandi específico da Igreja, do Povo de Deus,
que revela e dá substância ao seu ser enquanto comunhão quando todos os seus
membros caminham em conjunto, se reúnem em assembleia e tomam parte activa na
sua missão evangelizadora”. O Povo de Deus, em união com os bispos, e com, e
sob o Papa, discerne a vontade do Espírito Santo para o trabalho de discipulado
missionário da Igreja.
Ainda assim, a ambiguidade da terminologia de sinodalidade
– já para não falar da conflitualidade de recentes encontros do Sínodo dos
Bispos e a situação complicada a desenrolar-se com o “Caminho Sinodal” da Igreja
Alemã – colocam-nos perante uma série de problemas teológicos e práticos.
Existem, certamente, razões para cepticismo sobre a forma como alguns possam
representar erradamente a sinodalidade, numa tentativa de desconstruir doutrinal,
minar a tradição e ameaçar a comunhão eclesial. Estas são preocupações
legítimas.
Mas se a sinodalidade é uma caixa por ora vazia, não
existem razões para não a preencher com coisas boas. Não há razão para que a
ênfase do Papa Francisco na sinodalidade não seja uma ocasião para redescobrir,
ou olhar de novo, para a constituição doutrinal do Concílio Vaticano Segundo
sobre a Igreja, Lumen Gentium. Nas palavras da CTI: “Embora a sinodalidade não
seja referida explicitamente como termo ou como conceito nos ensinamentos do Vaticano
II, é justo dizer que a sinodalidade está no cerne do trabalho de renovação que
o Concílio estava a encorajar”.
De facto, o potencial de uma Igreja sinodal é exatamente uma
Igreja que incorpora mais inteiramente o seu carácter e a sua missão de forma
mais plena, através de todos os seus membros: recorrendo à Escritura e à
Tradição, para que o carácter da Igreja se possa manifestar mais autenticamente
e a missão universal da Igreja se possa cumprir de forma mais eficaz.
Neste sentido, uma Igreja verdadeiramente sinodal não
implica um “recomeçar de novo”, nem a divisão da autoridade eclesial, de uma
forma que apela melhor às sensibilidades modernas. Nem se trata de uma questão
de mudar o formato da Igreja para se adaptar ao espírito dos tempos, com
sínodos locais e regionais a determinar as suas próprias verdades, removendo aquilo
de que não gostam, ou a acrescentar, de acordo com as modas locais.
Já podemos encontrar exemplos de uma sinodalidade saudável,
construtiva e fiel aqui nos Estados Unidos. Pelas minhas contas, pelo menos dez
dioceses e arquidioceses americanas já anunciaram, começaram ou completaram
sínodos locais nos últimos anos. Bridgeport, Burlington, Dallas, Detroit, Milwaukee, Springfield, San
Diego, Sacramento, St. Paul e Minneapolis, e Washington. Os resultados
variam, mas no geral têm sido positivos.
Um arcebispo disse-me que a decisão de convocar um sínodo
arquidiocesano foi a mais importante e melhor decisão pastoral que alguma vez
tomou enquanto bispo. O sínodo local deu uma possibilidade para a sua Igreja
local enfrentar desafios consideráveis, enquanto permitiu recentrar os esforços
e os recursos no desafio mais importante e, sobretudo, mais fundamental de
todos, “libertar o Evangelho”.
Até que ponto este tipo de sinodalidade que tem dado
frutos ao nível local pode ser adaptado à escala global, ainda está por
determinar. O processo sinodal que começa em Outubro terá uma primeira fase
diocesana, seguida um ano mais tarde por uma fase continental e, finalmente,
uma fase universal em 2023. Até que ponto é que uma Igreja de mais ou menos mil
milhões de almas, espalhadas pelo mundo, pode discernir ou “caminhar em
conjunto” através de um programa necessariamente tão impessoal não é nada
evidente.
As preocupações com os obstáculos e possíveis abusos de
sinodalidade devem ser reconhecidas, mas seria um erro terrível simplesmente descartar
esta promessa de sinodalidade à primeira vista. Se a revigoração da missão
evangelizadora da Igreja não for razão suficiente para os católicos se aplicarem
ao máximo neste sínodo, então talvez esta outra os convença. A recusa ou a
incapacidade dos fiéis de se comprometerem com o processo sinodal significa que
só as vozes mais cínicas ou ideológicas é que serão ouvidas.
Stephen P. White é investigador em Estudos Católicos
no Centro de Ética e de Política Pública em Washington.
(Publicado em The Catholic Thing na Quinta-feira, 15 de
Julho de 2021)
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