Pe. Bevil Bramwell |
Os leigos têm todo o direito a estarem horrorizados
– até zangados – com tudo isto. Mas algumas coisas não mudaram, como por
exemplo o facto de continuarem a ser baptizados e crismados. Chegou a altura em
que vamos ver do que são feitos os leigos.
Os sacramentos do Baptismo e do Crisma
significam que os leigos são membros adultos da comunidade católica,
responsáveis pela “prática da Fé” – palavras sugeridas para as homilias nos
baptismos.
A prática da fé envolve tudo o que tem a
ver com a nossa adesão pessoal a Jesus Cristo, tornando a comunidade cristã uma
realidade viva e participando na missão redentora da Igreja. Isto envolve
aquilo que o Vaticano II e a tradição descrevem como “sacrifício espiritual”.
O sacrifício espiritual é uma opção
espiritual interior e positiva do cristão individual. Trata-se da atitude
básica para confrontar qualquer crise, incluindo a actual.
O primeiro passo é não tratar a pertença à
Igreja como se fosse um clube, mas reconhecer os elos espirituais profundos que
nos ligam. Entre outras coisas isso implica não abandonar a Igreja, amuado –
mas caso esteja a pensar em fazê-lo, talvez queira averiguar primeiro o registo
de abusos na igreja ou instituição secular a que pensa aderir.
Os sacrifícios espirituais interiores não
dependem do clero, nem de Roma. São sacrifícios necessários para edificar, ao
mesmo tempo, uma vida pessoal de virtude, a vida da comunidade eclesial e para
fazer chegar mais longe a missão da Igreja.
O ensinamento no Catecismo é mais que
suficiente para ajudar as pessoas a compreender as virtudes de uma vida
católica, que implica tentar conformar tudo o que fazemos ou dizemos à verdade
divina – isto é, procurando viver uma vida inteiramente cristã e alcançando a
santidade (ver a III parte do Catecismo). Quando os leigos aplicam esse
ensinamento, então mostram do que são feitos!
Depois temos a participação na vida dos
sacramentos. Também isto envolve o sacrifício espiritual, na medida em que a
pessoa se associa às orações comunitárias e responde vivamente com o seu “ámen”
às orações do sacerdote. Podemos participar nas celebrações eucarísticas
independentemente das crises na Igreja.
A Eucaristia é o momento certo para
oferecer o sacrifício perfeito ao Pai. Não há crise que lhe possa tocar. A
Eucaristia é a principal realização temporal do que significa a Igreja.
Juntamo-nos de forma ritual para oferecer louvor e adoração e para pedir ajuda
a Deus, a razão principal da nossa existência.
Nas nossas respostas à actual crise
católica não devemos cair na forma secular e revoltada de comunicar que vemos à
nossa volta. A crise não é uma oportunidade para birras adolescentes. É
necessário um grande e constante sacrifício espiritual para nos juntarmos e
comunicarmos como cristãos – sempre, em todos os assuntos.
O equivalente católico a “reuniões de
condomínio” poderá alcançar alguma coisa, mas não resolve os muitos desafios
profundos que enfrentamos, a não ser que também seja espaço de oração. A
revolta legítima poderá levar um bispo a despertar para as suas
responsabilidades doutrinais e morais. Mas a solução a longo-prazo exige uma
mudança de atitude espiritual que conduz tanto a uma mudança de comportamento
como a uma vontade de remediar as muitas más escolhas feitas no passado.
Outro sacrifício importante para os leigos
é estar mais bem informado – e com isso não me refiro à revelação de
estatísticas sobre abusos ou assuntos clericais. Estou a falar em estar bem
formado interiormente sobre como se pode ser um leigo católico em pleno. Como é
que eu participo nesta Igreja pecaminosa, como santo, em vez de me fechar em
copas e esperar que a crise passe?
Quanto mais compreender isto, melhor se
aguentará como leigo e poderá questionar o clero. Tome nota, contudo, que a
maioria do clero está tão enfurecido como você sobre o abuso de jovens, mas
também sobre o abuso da própria Igreja. Basta a colaboração de poucos padres
para esconder um caso de abusos ou para promover um bispo abusador, da mesma
maneira que basta a colaboração de poucos leigos para esconder os abusos numa
família, que é onde acontece a maior parte dos casos. Saiba que a maior parte
do clero está firmemente do seu lado.
Um outro sacrifício envolve aceitar que
esta crise está para durar. Há cinquenta estados nos Estados Unidos e a
informação sobre cada um vai sair gota a gota, ao longo dos próximos anos.
Mais, grande parte da crise que já passou não pode ser “resolvida”. Sejam quais
forem as novas políticas ou as sanções administrativas ou criminais impostas,
em última análise a única resposta plena para este tipo de pecado é o
arrependimento e a reparação.
Agora é tempo de muita penitência, jejum e
oração. Os leigos devem praticar estas coisas também, porque desempenham um
papel tão importante como qualquer outra pessoa neste processo: “se algum
membro padece, todos os membros sofrem juntamente; e se algum membro recebe
honras, todos se, alegram” (Lumen Gentium).
(Publicado
pela primeira vez no Domingo, 21 de Outubro 2018 em The
Catholic Thing)
Bevil
Brawwell é sacerdote dos Oblatos de Maria Imaculada e professor de Teologia na
Catholic Distance University. Recebeu um doutoramento de Boston College e
trabalha no campo da Eclesiologia.
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